O cálice de fogo

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Aurora Andrews,
Você estava na Copa Mundial de Quadribol?
Se não me responder em duas horas, contatarei seus avós.
Severus Snape

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Severus Snape,
Estava, fui com Potter, Granger e os Weasleys.
Estamos a salvo, obrigada.
A. Andrews

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Todos esperavam para ver quem seria o Campeão de Hogwarts.
-O Campeão de Hogwarts é Cedric Diggory!
Aplaudimos.
-Agora temos os nossos três campeões. Mas no final, apenas um ficará na história.
Em meio aos aplausos, vi Snape se aproximar um pouco ao centro do salão, em direção a Dumbledore.
Eu e o Professor Snape estávamos em um momento complicado, eu sabia que ele estava com raiva de mim pelo o que eu havia dito no final do terceiro ano letivo.
Não havíamos conversado muito e eu nem ousei pedir nem sequer um livro emprestado.
Em sua aula, fazia tudo o que era pedido, falava o menos possível, perguntava o menos possível, tentava o máximo não errar, não me meter em encrenca, responder quando perguntado, falar quando permitido.
O burburinho no salão me tirou dos devaneios.
-Harry Potter!
Só podia ser brincadeira. Como o nome de Harry estaria lá? Ele não poderia ser um campeão.
-Harry Potter.
Olhei para Harry e acenei para que ele fosse ao encontro de Dumbledore.
Ele se levantou e eu senti um aperto no peito.
Aquilo não estava certo!

—————

Severus ouvia Minerva conversar com Albus na sala do diretor.
-E o que você sugere, Minerva?
-Coloque um fim nisso. Não deixe Potter competir.
Severus teve que se intrometer na conversa.
A marca negra e o nome de Potter no Cálice de Fogo não eram coincidência, mas deveriam deixar a coisa como estava.
-Não fazer nada? Ele é um garoto, não um pedaço de carne!
-Eu concordo - disse o diretor- Com Severus.
Alastor, fique de olho em Harry.

—————

Eu estava enlouquecendo de preocupação com Harry, ele quase havia morrido na tarefa contra o dragão e ninguém fazia nada para impedir que ele participasse daquela competição absurda e suicida.
E pra complementar, ele estava brigado com Rony, ou Rony estava brigado com ele, não importava. O fato era que estava tudo uma bagunça e eu e Mione estávamos no meio da briga, sem saber o que fazer.
Naquela noite, me virava de um lado para o outro na cama e não conseguia dormir.
Coloquei um cardigan branco por cima do pijama de cetim verde escuro e botas de pelo branca. Coloquei minha varinha no bolso e rumei até a biblioteca.
-Alohomora!
Sussurrei e a grande porta se abriu. Me esgueirei e fui até a sessão proibida. Havia semanas que estava querendo ler um livro sobre Poção para repor sangue.
-Lumos
Passei a varinha pelas capas e peguei o livro que eu queria. Guardei no bolso no cardigã.
Com a varinha ainda acesa, sai da biblioteca.
Quando estava quase chegando a sala comunal da
Sonserina, ouvi passos conhecidos.
-Nox
Uma luz forte fez meus olhos arderem.
-Ora Ora, Andrews. Dando uma volta pelo castelo muito tempo depois do toque de recolher...- Seu tom era ríspido e sarcástico.
Sem nenhuma ideia em mente para me tirar de problemas, abaixei minha cabeça.
-O que faz espreitando pelos corredores?
-O senhor poderia abaixar a varinha, por favor?-
Falei com desdém.
Ele abaixou e viu meu bolso cheio.
-O que tem no seu bolso?-Não respondi- O que...
Tem... No seu... Bolso?
Retirei o livro. Ele arqueou uma sobrancelha.
-Não sabia que tinha uma queda por furto, Andrews.
-Eu não roubei!
-Ah não? Então porque esperou escurecer para pegar o livro?
-Eu estava com insônia e não quis esperar até amanhã.
Ele me olhou com descrença, com aquele meio sorriso sarcástico. Pegou o livro e analisou a capa. Olhou novamente para mim, mas agora seriamente.
-Você acha mesmo que pode me enganar? Quem você acha que eu sou? Você pegou esse livro na sessão proibida e eu posso muito bem te expulsar agora mesmo.

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A menina abaixou a cabeça. Até aquele momento ela estava firme, certa de que aguentaria a fúria de seu professor. Mas agora ela estava triste e cansada.
Havia roubado o livro porque sabia que seu professor não a trataria mais como antes.
Ela suspirou e olhou seu professor com os olhos tristes.
O semblante de Snape suavizou minimamente ao ver seus olhos.
-Por que não me pediu o livro?
-Porque você me odeia.
-Por que acha isso, senhorita?
-Por tudo o que eu disse a você depois que contou a todos sobre Lupin.
Snape pode sentir seu coração quebrar em pedaços.
"Todo esse tempo ela pensara que eu a
odiava"
-Eu não te odeio...
Ele sentiu um nó na garganta, era muito raro dizer sobre seus sentimentos, ele odiava todos e era difícil de admitir que não odiava a sua aluna, principalmente depois de fazer muito para que ela pensasse o contrário.
-Você não falou mais comigo...
-Eu te mandei uma carta!
-E eu te respondi, mas depois disso você não dirigiu uma palavra a mim e...
-Eu achei...- Ele suspirou e engoliu em seco- Eu achei que depois do que eu fiz, você não quisesse mais ter nenhum tipo de contato comigo fora do horário estipulado de aula.
-Eu adoraria voltar a debater sobre os livros e fazer
resumos para o senhor ler.
Snape voltou em si. Não sabia exatamente o que havia acontecido, quase se abrira para a menina, mas estava centrado novamente.
-Antes de qualquer coisa, terá detenção amanhã depois da aula. Não se atrase! Preciso mostrar o caminho para a sala da Sonserina?
-Não, senhor.
Cada um foi para um lado e desapareceram na escuridão de castelo.

——————-

Na manhã do dia seguinte, professor Snape reuniu todos os alunos da Sonserina para falar sobre o baile.
Do meio do salão, ele lançou um feitiço para uma música clássica começar a tocar.
-Malfoy, aproxime-se- Chamou o loiro com seu tom grave.
O loiro fez o que ele pediu.
-Andrews, por favor...
"Tá de brincadeira comigo?"
O olhei com confusão. Ele levantou uma sobrancelha, eu me levantei protestando mentalmente.
Fui até Malfoy. Ouvimos alguém assobiar.
-Coloque a mão no ombro de Malfoy. Você, coloque a mão no quadril dela. Deem dois passos para frente, - tropeçamos um no outro- dois para trás, - conseguimos fazer com desenvoltura- gire ela e a levante... -Conseguimos novamente- Muito bem, repitam... -Repetimos sem falhas- Dúvidas? -todos estavam em silêncio- Era o que eu pensava... Voltem para suas aulas.
Me soltei de Malfoy e sai bufando.
Estava pronta para a detenção. Ele pegaria pesado.
Já me fizera limpar todos os caldeirões por quase um ano letivo inteiro.
Não queria nem pensar no que me aguardava.
Bati na porta.
-Entre...
Fui me aproximando de sua mesa.
-Olá professor. Estou pronta para...
Encima da mesa dele estava o livro que eu havia tentado roubar.
O olhei curiosa.
-Sua detenção será preparar poção para repor o sangue. Pode pegar o caldeirão na estante.
-Mas senhor...
-Sim?- ele se fez de desentendido.
-Obrigada...
-Você terá 45 minutos, se eu fosse você,
começaria agora.
Corri até a prateleira e comecei a fazer a poção, assim como Snape indicava.
Terminei em 40 minutos e usei os cinco restantes para limpar tudo de cima do balcão.
-Seu tempo acabou, Andrews.
Ele levantou e examinou o meu trabalho.
-Muito bem, Andrews. Dispensada.
-Obrigada, senhor.
Peguei meus materiais e caminhei até a porta.
Assim que a abri, o professor se pronunciou.
-Não se esqueceu de nada?
Do mesmo lugar, ele me estendeu o livro.
Caminhei lentamente até ele e encostei na capa.
-O senhor tem certeza?
-Absoluta...
-Posso voltar a fazer meus trabalhos?
-Será uma honra corrigi-los.
Pela primeira vez em quatro anos o vi realmente sorrir.
Saí da classe com um sorriso maior ainda.

—————-

Os alunos começaram a chegar ao baile.
Snape se preparava para tirar pontos das casas alheias, seria seu único divertimento naquela noite.
Evitaria qualquer olhar de qualquer colega de trabalho, não iria dançar, não sairia da mesa dos professores por nada.
Sentiu-se minimamente menos deslocado ao ver
Aurora aparecer no topo da escadaria.
Ela vestia um longo vestido verde de manga longa, seus cabelos estavam cacheados e caiam soltos até metade das costas. Um colar com apenas uma pedra de esmeralda enfeitava seu pescoço. O verde fazia contraste com sua pela clara.
Snape sentiu seu próprio rosto se formar em uma careta quando a menina se aproximou e segurou o braço de Fred Weasley.
O baile passou lento e demorado para ele.
Para Aurora foi uma das noites mais divertidas de sua vida. Ela achava Fred uma ótima companhia.

—————-

Na segunda tarefa, Snape estava tenso. Ele não demonstrava, mas estava extremamente preocupado.
Respirou fundo e sentiu um alívio gigantesco quando viu Ronny trazer Aurora para a margem do lago.
Ele foi até ela e colocou um cobertor em suas costas.
A olhou com preocupação.
-Andrews, está bem?
-Sim, professor. Obrigada! - Ela agradeceu
tremendo.

...

Voldemort retornou. Cedric estava morto. Barty Crouch Jr foi desmarcado.
Snape viu de perto a dor de um pai perder o filho.
Viu de longe sua melhor aluna chorar enquanto
Dumbledore contava a todos que o menino fora morto pelo Lorde das Trevas.
Severus havia voltado para sua sala de aula após as palavras de Dumbledore no salão comunal. Ele estava arrasado, não só por Cedric, mas por Potter e também por tudo o que estaria para acontecer com o retorno do bruxo.
Ouviu alguém bater na porta e abrir uma fresta
dela.
-Professor?
Ele se recompôs e sentou com postura em sua cadeira.
-Como poso ajudar, Aurora?
Ela se aproximou e sentou na cadeira em frente a sua mesa.
-O senhor está bem?
Ele passou as mãos no cabelo, olhou para baixo e negou com a cabeça. Respirou fundo e engoliu o choro.
-Não será fácil, Aurora.
-Eu estarei aqui, senhor.
Ela esticou sua mão por cima da mesa.
O coração do professor disparou ao ver o gesto de sua aluna. Ele segurou a mão da jovem, soltando o ar de seus pulmões.
-Obrigado, Andrews. Muito obrigado. - ele disse olhando suas mãos juntas.
Ficaram daquele jeito por um tempo, até ele a afastar.
-Você deve se apressar para não perder o trem.
-O senhor ficará bem?
-Eu sempre fico- Mentiu o mais velho.
-Então... Até mais, professor.
-Até mais, Andrews.

A melhor aluna de Severus SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora