O tocador de musica

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-Já passou...Shhhh...
Ele agora chorava por todos que havia perdido, por tudo o que havia feito de errado, por Harry, por sua mãe e por Dumbledore.
-Calma, meu querido.- Aurora não podia alcançar a dor que seu professor sentia, mas ela estaria lá por ele.-Já passou, você não está mais sozinho. Eu estou aqui e sempre estarei.
-Me... perdoa...
-Eu te perdoo... Eu já te perdoei.
-Eu não mereço.- falava entrecortado
-Merece sim. Você merece ser muito feliz, você já se redimiu tanto e não percebe como é maravilhoso.
-Você está enganada...
-Não, meu bem. Eu não estou. Você precisa se perdoar.
-Eu... Não... Consigo!
-Consegue sim, eu vou te ajudar.
-Eu não aguento mais isso!- Finalmente conseguiu terminar uma frase -É muito difícil...
-Eu sei, Meu bem. Eu sei. Mas eu vou te ajudar.
Snape sentia seu coração um pouco mais leve.
-Obrigado... Aurora... Obri... gado...
-Shhhhh...

———

Ele finalmente se acalmou. Me soltei de seus braços para que ele olhasse para mim. Sorri.
Conjurei um lenço de pano.
-Lembra disso?
Ele me olhou incrédulo. Era o mesmo lenço que ele tinha me dado quando eu chorava na sua sala depois de receber olhares maldosos por acharem que eu poderia ter aberto a Câmara Secreta, no meu segundo ano em Hogwarts.
Enxuguei suas lágrimas enquanto ele me olhava.
Merlin, como eu o amava.
-Você precisa falar, Snape. Não precisa ser comigo, mas você precisa falar sobre tudo o que você passou e tudo o que te corrói até hoje. Se você quiser, eu posso te indicar uma psicóloga...
Ele se aproximou e beijou minha bochecha.
-Eu só tenho coragem de falar com você, mas eu tenho medo de você me odiar.
-Você se esqueceu que eu sei de tudo? Fui eu quem montei o caso para te inocentar.
Ele me olhou.
-Eu nunca te agradeci por tudo o que fez, por suas palavras tão carinhosas...
-Você agradeceu sim, no dia, na frente de todos.
-Aquilo não pareceu o suficiente.
-Se você quer mesmo me agradecer, faça sua liberdade e inocência valerem a pena.
-Eu não sei por onde começar...
-Falando... Você precisava se abrir.
-Isso nunca foi um opção pra mim, Aurora. Se eu mostrasse vulnerabilidade, eu corria perigo. Perante ao meu pai, aos marotos, ao Lorde Das Trevas.
-Eu sei...- Passei uma mão em seu rosto- Mas agora é diferente. Você precisa confiar em mim.
-Eu confio!
-Então prove...
Ele respirou fundo e passou a mão nos cabelos.
-Eu preciso te levar a um lugar. Um lugar que poucas pessoas estiveram. Alguns comensais, meus pais e ninguém mais. Nem mesmo Lily.
Senti um aperto no peito ao ouvir o nome do amor dele. Eu nunca poderia competir com uma memória. Ela sempre seria o único amor dele. Mas ele precisava de mim, eu me controlaria e faria o que fosse preciso para ajudá-lo.
-Que lugar?
-Minha casa. É a mesma desde que eu nasci, eu nunca me mudei.
-Por que não?
-Eu nunca mereci estar em um lugar melhor.
-Snape... -Estava emocionada. Acariciei seu cabelo- Eu adoraria conhecer sua casa.
-Você não vai ter o mesmo pensamento quando chegar lá.
-Obrigada mesmo assim.
-Obrigado.
Nos abraçamos novamente. Mas dessa vez não era um abraço desesperado. Senti ele apoiar o queixo no meu ombro e eu aproveitei para sentir seu cheiro e seu toque. Fechei os olhos para guardar aquela sensação em minha mente. Como eu o amava.
-Eu saio às 4hrs.
-Eu estarei aqui.
Nos separamos. Ele beijou as costas da minha mão. Eu fiz o mesmo com a sua. Ele me deu um de seus raros sorrisos. Tão lindo. O vi sair pela porta enquanto fazia o máximo para me controlar e voltar a trabalhar.

———-

Snape tinha um sorriso enorme no rosto. Se sentia mais leve, mas ainda extremamente triste. Mesmo assim, pela primeira vez, estava genuinamente grato por estar VIVO.
Aparatou em Hogwarts e foi até o escritório da
Diretora.
-Olá Severus.
-Olá, diretora. Hora ruim?
-Não. Sente-se.
-Eu não queria ter dito aquilo ontem.
-Está tudo bem, Severus.
-Você tinha razão- Um sorriso brotou em seu rosto novamente.
-Ela te perdoou?!
-Sim.
-Eu fico muito feliz em saber disso. Espero que você não desperdice a sua chance.
-Não desperdiçarei.
Ele beijou a mão da mais velha.
-Obrigado, Minerva.
-Disponha, Severus.
Ele saiu da sala deixando uma Minerva feliz e orgulhosa.
Estava nervoso em levar Aurora a sua casa. Ela provavelmente sairia correndo. Mas ele já havia dito que a levaria, não tinha como escapar agora.
Ele fez um enorme esforço para comer. Estava tenso de mais.
"E se chegando lá ela sentir de perto tudo o que eu fiz e resolver me deixar?"
"E se chegando lá ela perceber o quão quebrado eu sou e não querer mais me ter por perto?"
"E se..."
"E se..."
"E se..."
Faltava vinte minutos para as quatro, mas Snape já estava na frente da entrada de funcionários do Ministério.
Depois que parecera uma eternidade, ele a viu.
Aurora não usava mais os óculos e nem o jaleco, seu cabelo estava solto e pode ver novamente a menina que sempre conhecera, mas não dava para negar, ela se tornara um mulher linda e gentil.
Sentiu um arrepio pelo corpo ao vê-la se aproximar.
-Que bom que veio.
-Eu disse que viria... Está pronta?
-Sim!-Seus olhos se iluminaram.
Snape estendeu o braço, já ansioso para sentir seu toque.
Uma sensação de alívio tomou conta dele assim que a moça enlaçou sua mão nele.
Aparataram.
Estavam em um bairro horroroso, fedido e muito, muito simples e pobre.
-Você já está querendo fugir?
Ela olhava aquilo tudo com tristeza.
-Eu nunca vou deixar você, Snape. Já disse isso.
Ele respirou fundo para se controlar. Ela o surpreendia cada vez mais.
-Vamos, é por aqui.
Eles andaram algumas quadras até chegarem na casa dele.
Snape abriu a porta e ela entrou.
Como se não fosse possível, o interior da casa era pior que o exterior. Eu queria chorar, mas não podia naquela hora.
Olhando tudo aquilo, pude entender porque ele me trouxera lá. Aquilo era como sua alma, ele não conseguira se desvencilhar daquele caos, o que explicava grande parte de suas ações.
Ele passou por mim, estava visivelmente arrependido por ter me levado lá. Ele se sentia encabulado.
Cheguei mais perto dele e encostei na sua mão.
-Obrigada, Snape. Estar aqui é muito importante para mim, significa muito.
Ele assentiu sem falar nada, mas pude ver seus ombros relaxarem um pouco.

A melhor aluna de Severus SnapeOnde histórias criam vida. Descubra agora