Maurício sempre costumava chegar cedo na escola. Era uma das táticas de evitar olhares desagradáveis. Afinal, se ele nunca chegasse atrasado, nunca teria que lidar com mais pessoas lhe encarando do que o usual.
Estava lavando as mãos na pia, quando ouviu a porta do banheiro se abrir e seu olhar se encontrar com o de Gabriel, através do espelho. Ambos se ouriçaram, desviando a atenção logo em seguida.
— Não se preocupa. Eu já estava de saída.
— Vou no banheiro do segundo andar. Vai que você me agarra à força.
Maurício tentou reprimir o riso, mas Gabriel percebeu.
— Qual a graça, veadinho?
— Nada, não. — Respondeu evitando contato visual, mesmo sabendo que não adiantaria muita coisa.
Gabriel se adiantou e trancou a porta do banheiro, guardando a chave no bolso da calça.
— O que você está fazendo?
— Você vai me responder qual foi a piada. Sou uma piada pra você, Maurício? — Perguntou, colocando a mão sobre o peito do garoto e lhe empurrando até a parede, deixando-o encurralado.
— Você não é uma piada, Gabriel. Eu só acho que você não é quem você diz e mostra ser. É uma pena, pois se não fosse essa sua péssima atitude, poderíamos ser amigos.
Gabriel se sentia confuso. Estava com o punho cerrado, pronto para bater no menino em sua frente, mas se sentia paralisado.
— Você só pode estar ficando louco, né? Perdeu a noção?
— Eu sei que vou apanhar, então pelo menos deixa eu falar o que tá entalado na minha garganta. Você é covarde, Gabriel. Quando não está com seu bando do lado, você é só mais um cara qualquer aqui nessa escola cheia de hipócritas. Você faz da minha vida um inferno só para ter a aprovação do Daniel, do Alexandre, do seu pai, de todo mundo.
— Não fala do meu pai! Aquele demônio não é meu pai! — Berrou, apontando o dedo na cara de Maurício. A adrenalina era quase palpável.
— Tudo bem. Eu sei como vai ser. Então vamos acabar logo com isso.
Maurício abaixou os braços, antes na defensiva. Estava chegando um ponto de sua vida em que a dor era anestesiada pela tristeza. Tristeza de estar preso naquela escola. Naquela cidade. Com aquelas pessoas.
Gabriel mirou o rosto de Maurício, mas acertou propositalmente a parede, poucos centímetros de distância do alvo original. Maurício prendeu a respiração, se preparando para o golpe, mas ele nunca veio. Abriu os olhos e enxergou um Gabriel que nunca tinha visto antes em sua vida. O maior valentão que ele conhecia agora estava com as mãos no rosto, chorando compulsivamente. Sem saber o que fazer, Maurício ficou com os pés travados no chão pelos primeiros cinco segundos, tentando recuperar o fôlego.
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O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...