24. Alcoólicos Anônimos

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Aquela parecia ser mais uma manhã comum para Edu

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Aquela parecia ser mais uma manhã comum para Edu. Ajudava Humberto a preparar algumas cestas quando viu alguém entrar na loja. O semblante de Eduardo mudou drasticamente, como se tivesse visto um fantasma. E talvez se fosse um fantasma, não teria lhe causado tamanho espanto. Mas Paulo se aproximava com o olhar cauteloso, deixando Edu sem tempo para se abraçar para o impacto.

— Bom dia, Edu.

— Posso te ajudar em alguma coisa? — Eduardo soou apático, tão animado quanto um robô.

Em um primeiro momento, cogitou a ideia de passar o atendimento para Humberto, inseguro de que poderia passar por aquilo sem transparecer o que sentia por dentro. Mas seu instinto profissional, junto à sua maturidade, falou mais alto.

— Eu estou procurando um presente para a sua mãe. Hoje é o nosso aniversário de casamento.

— Você tem alguma coisa em mente? — De repente, não eram pai e filho interagindo, mas sim vendedor e cliente. Edu se certificava para que isso permanecesse muito claro.

— Não, eu não entendo muito disso.

"É claro que não entende. Você é homem, másculo, um verdadeiro macho alfa. Não precisaria e nem deveria entender de flores. Esse era um trabalho para as bichas, como eu. Não é, pai?"

— Temos rosas vermelhas, mas acho que são tradicionais demais. Que eu me lembre, ela gosta de orquídeas. Temos essas aqui. — Conduziu Paulo até o conjunto de pequenas mesas e aparadores de madeira onde haviam algumas espécies de flores. Paulo seguiu o conselho de Eduardo e pegou um arranjo de orquídeas brancas com uma cesta artesanal de palha trançada e foi para o caixa. O silêncio era constrangedor.

— Eu estava pensando se você gostaria de jantar lá em casa nesse fim de semana.

— Deu 79,90. Qual a forma de pagamento?

Paulo retirou a carteira do bolso de trás e tirou uma nota de cem reais. Aguardava com expectativa por uma resposta, enquanto seu filho pescava o troco de dentro da caixa registradora. Sem qualquer sinal de resposta, insistiu:

— Poderia ser no domingo, teríamos tempo para conversar.

— Agradeço o convite, mas não vai dar. Aqui, seu troco. — Esticou a mão para entregar o dinheiro e a nota fiscal, junto com o vistoso arranjo de flores brancas.

Paulo compreendeu que não teria chance de uma conversa. Edu ainda estava magoado, com a guarda levantada, e com razão.

— Tudo bem, então. Se cuida, filho. — Abaixou a cabeça, pegando as orquídeas e seguindo em silêncio até a saída.

Aquela situação soterrava cada fibra do corpo de Edu, que gritava internamente por ar. Custava-lhe tudo ter que tratar seu próprio pai assim, mas não conseguia pensar em outra forma de lidar com seus sentimentos mal resolvidos, desde que havia rompido seus laços paternos no meio da sala de estar de sua casa, naquela noite fatídica. Algo havia se quebrado e era difícil pensar na ideia de que poderia ser consertado algum dia. Nada voltaria ao que era antes.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora