19. Refúgio

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Fátima terminava de preparar uma xícara de chá antes de se deitar para dormir

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Fátima terminava de preparar uma xícara de chá antes de se deitar para dormir. A noite ficava mais fria conforme as horas passavam, confirmando a queda de temperatura habitual que o início de julho prometia na previsão do tempo. Quando sua campainha tocou, no entanto, ela mal poderia saber que aquela noite tranquila e aconchegante não havia sido assim para todos de sua família. Deixou a caneca fumegante em cima da mesa da cozinha e apressou seus passos em direção à porta, certificando-se de que seu roupão estava bem amarrado em volta de sua cintura. Ao ver seu sobrinho com o rosto machucado parado em sua frente, seu rosto se contorceu em pavor.

— Dado? O que aconteceu?!

Eduardo estava petrificado em sua frente, a vergonha e o medo competindo espaço dentro de sua cabeça confusa. Sem conseguir responder, ele se deixou levar por sua tia, que o guiou para dentro de casa com a mão em suas costas.

— Você foi assaltado? Quer ir ao hospital ou à delegacia? Eu preciso avisar seus pais que você está aqui... — Ela se afobou, pegando o telefone logo em seguida.

— Não, não liga para eles, tia. Eu... eu e meu pai brigamos. Ele me expulsou de casa.

— Ele fez isso com você? — Questionou, se referindo ao machucado em seu rosto.

Edu confirmou com a cabeça, sentindo sua garganta se fechando em um choro sufocado.

— Eu vou pegar alguma coisa para pôr no seu olho.

Enquanto Fátima improvisava algumas pedras de gelo envoltas em um pano de prato, Eduardo se sentava no sofá antigo e tentava reorganizar seus pensamentos. Tudo havia acontecido tão rápido que ainda era difícil de assimilar.

— Eu fiz chá. — Fátima surgiu novamente, alcançando a compressa para Edu. — Camomila, para acalmar os ânimos. Quer um pouco?

Edu ainda não conseguia pôr aquilo tudo para fora. Se ele limpasse a garganta e liberasse espaço para sua voz sair, aquilo tudo se externalizaria violentamente. Sua cabeça se moveu da direita para a esquerda, enquanto o contato gélido contra seu rosto o fez soltar um grunhido de dor. A adrenalina não havia lhe deixado sentir qualquer coisa desde que havia acontecido tudo aquilo na sala de sua casa. Por mais de uma hora e meia ele estava anestesiado em todas as formas possíveis. O problema era que Edu já não sabia por quanto tempo mais ele conseguiria segurar aquilo dentro de si.

— Você quer conversar sobre o que aconteceu?

— Meu pai descobriu que eu sou gay.

Para ela, aquilo não era nenhuma surpresa. Helena já havia conversado sobre o assunto no dia que Eduardo havia se assumido. O que a espantava ali, no entanto, era a reação extremista de Paulo.

— Vai ficar tudo bem, Edu. Vamos esperar a poeira abaixar e com certeza ele vai perceber que errou.

— Não sei se eu consigo perdoar o que meu pai fez, tia. — Confessou com a voz baixa, carregada de mágoa e rancor.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora