Gabriel mal podia acreditar que aquele dia havia finalmente chegado. Era cedo quando o médico foi até seu quarto para lhe dar alta, arrancando-lhe um sorriso de gratidão. Celso lhe ajudou a arrumar todas as coisas e pouco tempo depois estavam saindo do Hospital Cornélio Pinheiro, rumo à sua casa. Foram duas longas semanas, mas Gabriel finalmente estava livre. Pelo menos, fisicamente. Por dentro, seria difícil superar aquele trauma, que lhe despedaçava toda vez que lembrava do dia em que foi covardemente atacado. Parte dele sabia que havia grandes chances de que nunca poderia superar.
— Quando as aulas voltarem, vou buscar você na saída da escola todos os dias. Quero que você me espere lá dentro. Vou conversar com seu diretor sobre isso na próxima semana.
Gabriel certamente não esperava por aquele vestígio de preocupação vindo de seu pai. Olhou para ele incrédulo, em um bom sentido.
— Obrigado, pai.
— Não precisa agradecer, Gabriel. Não estou fazendo isso de bom grado. Mas você ainda é meu filho e eu não quero que você corra esses perigos por consequência das suas escolhas.
— Que escolhas, pai? Ser gay ou ter que passar por essas humilhações na rua?
— As duas coisas. — Celso rebateu, categórico.
— Desculpa te desapontar, mas eu não escolhi nenhuma das duas coisas. A diferença é que a primeira coisa não justifica a segunda. Não é porque eu sou gay que as pessoas podem sair por aí descontando um ódio injustificável. Eles são os culpados, não eu.
— Isso é o máximo que eu posso fazer por você, Gabriel. Vou te escoltar para a escola na ida e na volta, mas não vou poder estar na sua cola o tempo inteiro para te proteger. Não vou pagar pelos seus erros.
— Quer saber, pai? Não precisa me escoltar na sua viatura, não. Eu posso muito bem me virar sozinho. Mas pode ter certeza que, se mamãe ainda estivesse viva, ela teria vergonha de ouvir você dizendo essas coisas pra mim. Ela faria um trabalho muito melhor do que o senhor e com certeza me apoiaria e me respeitaria, e eu sei que isso é algo que você nunca vai poder fazer e está tudo bem. Você nunca vai conseguir ser igual a ela.
Celso permaneceu com os olhos na estrada, sem se preocupar em responder Gabriel. No entanto, aquelas palavras lhe pegaram desprevenido. Talvez aquela fosse a primeira vez que Celso tivesse sentido mágoa por conta de algo que seu filho havia falado, e com certeza aquilo estava ligado ao fato de terem trazido Fernanda para o meio da discussão. O garoto, por sua vez, balançou a cabeça em incredulidade, querendo fingir que aquela conversa não tivesse existido.
Gabriel e seu pai carregaram as coisas para dentro de casa em um silêncio desconfortável. Estava cada vez mais difícil para os dois conviverem juntos sob o mesmo teto. Celso foi para a delegacia sem se despedir, como já era de se esperar. No entanto, Gabriel continuava feliz por estar em casa. Tomou um banho quente e demorado, desfez sua sacola sem pressa e colocou suas roupas com cheiro de hospital para lavar.
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O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...