10. Rio dos Corvos

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O céu começava a clarear, com os primeiros raios de sol dando as caras timidamente, enquanto Daniel e Jéssica tentavam entender o que havia acontecido apenas algumas horas atrás

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O céu começava a clarear, com os primeiros raios de sol dando as caras timidamente, enquanto Daniel e Jéssica tentavam entender o que havia acontecido apenas algumas horas atrás. Eles encaravam a mancha de sangue na borda de concreto abaixo da ponte, onde a correnteza havia levado o corpo após a queda violenta e fatal. Eles estavam aterrorizados, a imagem se repetindo de novo e de novo em suas cabeças, sem parar. E eles sabiam que talvez aquela cena se repetisse para sempre, não os deixando ter paz. Aquele seria o castigo por terem agido do jeito que agiram e terem causado o que haviam causado. Talvez aquela fosse a primeira vez que eles tiveram consciência de que haviam feito algo muito grave. Dentro do Jaguar, o celular de Daniel continuava a tocar, Alexandre tentava lhe contatar para contar o que havia acontecido com Luiz, mas aquela era apenas mais uma das várias vezes em que ele havia ligado naquele curto espaço de tempo e havia sido ignorado. Daniel não poderia tirar o foco do problema que tinha em mãos, não importava quão grave fosse o que Alexandre precisasse compartilhar.

— A gente nunca vai falar sobre o que aconteceu aqui com ninguém. — Daniel disse, sem ouvir a resposta de Jéssica. Mas ele sabia que ela não falaria. Ela estava tão atordoada quanto ele, enquanto se arrependia amargamente de seus atos naquela noite, atos estes que desencadearam uma das maiores tragédias na história daquela pequena cidade. E o pior de tudo era que aquela era uma tragédia silenciosa: apenas três pessoas sabiam da verdade. Duas não estavam dispostas a contar e a outra não poderia nem se quisesse. E com certeza ela contaria. Se ainda estivesse viva.

Tudo começou na festa da noite anterior. Daniel, Alexandre e Gabriel chegaram cedo com dois barris de cerveja, passando pelos seguranças sem nenhuma dificuldade. O lugar ainda estava consideravelmente vazio e o Trio de Ouro decidiu ir até os fundos do galpão para começarem a beber. Daniel cruzou seu olhar para o outro lado do salão e viu Maurício sozinho, com cara de quem estava se sentindo solitário.

— Aí, saca só. — Daniel anunciou, e quando Gabriel percebeu para quem seu amigo começou a acenar, ele paralisou.

— O que você vai fazer?

— Só observa.

Daniel chamou a atenção de Maurício, que achou no mínimo estranho eles estarem tendo interação. Mas ele já havia bebido um pouco a mais e, por mais impossível que poderia ser, ele imaginou que Gabriel poderia ter feito a frente para aquele convite. Ele certamente não havia visto a cara fechada que Gabriel estava fazendo enquanto atravessava o salão e caminhava em direção aos sofás.

— Fala, Maurício! Tudo bem? — Daniel tentava entrar em contato com sua versão mais amigável e convincente. Obviamente não havia tido tanto sucesso quanto gostaria.

— Você sabe meu nome? — Maurício estava claramente confuso sobre o que estava se passando ali. Era estranho ouvir ele ou sua turma lhe chamando por algo que não fosse pejorativo.

— Claro que sei. Senta aí com a gente.

Maurício olhou para Gabriel, que olhava para o outro lado enquanto bebia. Sem dar um sinal positivo ou negativo, o garoto decidiu por conta própria.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora