27. Família

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Eduardo já havia perdido a conta de quantas noites insones ele havia enfrentado nas últimas semanas

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Eduardo já havia perdido a conta de quantas noites insones ele havia enfrentado nas últimas semanas. Com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio, sua rotina havia se transformado em ir para a escola de manhã, trabalhar na parte da tarde e mergulhar de cabeça em testes preparatórios e resumos à noite.

Edu sabia que seu futuro inteiro dependia daquela prova. E por mais que tivesse ouvido que ele não precisaria necessariamente passar na UFCSPA na primeira tentativa, para ele, não havia outra alternativa. Aquilo era importante demais para ser adiado. Dentro de si, já existia alguma coisa diferente ao andar pelas ruas de São Valentim; apesar de ser o único lugar que serviu de morada em sua vida inteira, ele já sabia que aquilo estava com os dias contados. O ar parecia diferente, e nem mesmo ele conseguia explicar muito bem o porquê. Bom, na verdade ele sabia: o momento em que ele mais esperava durante tanto tempo estava ali, na porta. A realização de um futuro projetado nos mínimos detalhes estava a 180 questões de múltipla escolha e uma redação de distância. Por isso, sua única opção era gabaritar aquele exame, ou chegar o mais próximo daquilo. Seu futuro dependia disso.

E como um bom ansioso imediatista com altas expectativas para tudo o que o rodeia, aquilo já era o suficiente para fazer Eduardo travar uma batalha consigo mesmo todas as noites, revirando incansavelmente em seu colchão, olhando para o teto e imaginando todos os cenários perfeitos, e até os não tão perfeitos assim, que ele viveria em poucos meses, depois do fim do ensino médio. Afinal, Porto Alegre o esperava por tanto tempo, e ele sentia o tempo se mover mais rápido, à medida que o ano se encaminhava para o fim. Mas não naquela semana.

Na sexta-feira, o movimento da floricultura estava muito mais lento do que o comum, o que fazia com que as horas se arrastassem. Humberto havia deixado Edu no comando da loja, enquanto resolvia algumas questões com fornecedores, o que deu a Edu a liberdade de conferir mais um pouco suas anotações entre um atendimento e outro.

No fim da tarde, o sol descia lentamente no horizonte, jogando sua luz alaranjada através das janelas de madeira com jardineiras, anunciando a proximidade do fim do expediente. Eduardo estava sentado no outro lado do balcão, mergulhado em seus resumos manuscritos com uma caligrafia duvidosa, que refletia sua ansiedade em transportar para o papel o máximo de informações que podia, quando ouviu o sino da entrada tocar. Ao olhar para frente, soltou um sorriso espontâneo e leve ao ver Felipe.

— Ei, futuro chef. Como vão os estudos? — Felipe perguntou, se curvando sobre o balcão para plantar um beijo na bochecha de Edu, que sorriu, arrepiado com a sensação inebriante do encontro das peles.

— As letras já estão começando a ficar embaralhadas. Acho que isso é um bom sinal, né?

— Acho que é um sinal para uma pausa.

— Com o tanto de coisa que eu tenho pra enfiar dentro da cabeça em menos de dois dias, uma pausa seria praticamente um crime.

— Edu, você tem estudado muito pra essa prova há meses.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora