30. Futuro

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Em meio à névoa dos últimos acontecimentos, São Valentim parecia um pouco mais sombria do que de costume

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Em meio à névoa dos últimos acontecimentos, São Valentim parecia um pouco mais sombria do que de costume. Por trás das grandes paisagens verdes e da calmaria interiorana, as dúvidas acerca dos últimos momentos de Mauricio Medeiros naquela ponte pairavam sob a cabeça da população. Porém, naquela manhã do dia vinte e seis, aquela nuvem cinzenta e carregada parecia ter dado uma trégua.

Por volta das sete e meia, uma pequena multidão se formava em frente ao Partenon, enquanto alguns professores e pais voluntários organizavam a lista de chamada e as duas filas, feminina e masculina, para que o terceiro ano embarcasse no ônibus rumo à serra. Eduardo e Felipe estavam sentados na calçada, próximos à entrada do estacionamento do colégio, ainda ponderando se fazia sentido ir para aquela viagem de formatura, rodeados de pessoas que eles não faziam mais questão de ver após o fim do ensino médio.

— Tem certeza que não seria melhor ficarmos em casa? Sei lá, tomando banho de cachoeira, assistindo série e tomando sorvete? — Felipe tentou, mesmo sabendo que era uma batalha perdida.

— Eu não quero mais perder momentos importantes por medo ou qualquer outro sentimento repressivo, seja qual for. É nossa viagem de formatura. Estamos indo por mim e você, por mais ninguém.

— Quem é você e o que fez com o Edu que eu conheço?

Edu sorriu e, olhando ao redor, sentiu a coragem de beijar Felipe. A coragem não. A mais pura, simples e espontânea vontade.

— Meninos, vamos! Vão perder o ônibus. — Professora Hermes disse, o olhar doce e animado invalidando o tom de voz repreensivo.

Felipe se levantou, estendendo a mão para puxar Edu, um sorriso empolgado e largo enquanto caminhavam até o ônibus, que já começava a ficar com os assentos quase todos ocupados. Havia o grupo de alunos mais ao fundo, que faziam parte da parcela mais animada da turma, conversando alto e cantando; o restante ainda tentava espantar o sono (ou trazê-lo de volta), uma vez que seria uma viagem de mais de três horas até o hotel fazenda, localizado ao pé da serra gaúcha. Encontraram um par de poltronas vagas na porção do meio do veículo, e ao passar por Paloma e Alexandre, cumprimentaram-se como velhos amigos. Aquilo trouxe uma sensação de pertencimento esquisita para Edu, que pensava terminar o ensino médio do mesmo jeito que havia iniciado: sozinho.

Eduardo se sentou na janela e puxou seu fone de ouvido do bolso, enquanto Felipe se acomodava ao seu lado. Escolheu Future Looks Good, do OneRepublic, como trilha sonora e compartilhou um dos fones com Felipe, se tornando a desculpa perfeita para ficarem bem próximos enquanto o rugido do motor anunciava que estavam prestes a partir.

— Gente, não acredito que o Gabriel não vem. Ele prometeu que viria. — Paloma disse, reclamando para Alexandre enquanto encarava o lado de fora da janela.

— Vai ver ele mudou de ideia de última hora. Com tudo o que aconteceu esse ano, não julgaria se ele quisesse ficar na dele. Eu mesmo quase não vim.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora