Dois meses haviam se passado desde que a festa havia sido aprovada pelo diretor. Era começo de outubro, e o frio do inverno havia dado espaço ao aroma floral e o colorido da primavera nas ruas de São Valentim. Gabriel estava no ginásio do Partenon, terminando de organizar as decorações para o evento, que aconteceria dali a dois dias. Esticava os braços para encaixar o arco de bexigas prateadas na estrutura metálica, enquanto Paloma segurava a base da escada, que bambeava a todo momento.
— Quer trocar um pouco?
— Não, eu estou de boa... — Gabriel respondeu com certa dificuldade, desejando que Deus tivesse lhe dado alguns centímetros a mais de altura.
— Tem certeza? Acho que meus braços são um pouco mais compridos.
Gabriel pensou por alguns instantes, tomando fôlego e olhando para baixo, na direção de Paloma. Por fim, se deu por vencido.
— Tá, vem.
Liberou a escada para a amiga, que sem dificuldade encaixou o barbante no lugar, completando cinquenta por cento do trabalho. Pelo menos, do trabalho deles.
Grande parte da turma do terceiro ano ajudava em alguma tarefa. Eduardo e Felipe estavam encarregados de ajudar a montar o cenário, com temática de Halloween. Pintavam algumas abóboras em MDF próximo à arquibancada, enquanto comentavam sobre as provas do Enem, que haviam acontecido na semana anterior. Era inegável que aquela era uma fase divisora de águas na vida deles. Grande parte de seu futuro estava atrelada a isso.
Alexandre estava ajudando a montar os equipamentos de iluminação. Decidiu dar uma pausa quando avistou Paloma, criando um pouco de coragem para quebrar o gelo. Não haviam progredido muito desde que começaram a planejar o evento, em agosto. Apenas cumprimentos cordiais e eventuais trocas de olhares, sempre entregando um resquício de ressentimento. Ele estava cansado disso e havia decidido ser o primeiro a dar o braço a torcer.
— Estão precisando de alguma ajuda por aqui?
— Não, nós estamos indo bem, até. — Paloma disse já de volta ao chão, pegando a outra extremidade do arco de bexigas para encaixar no outro lado.
Gabriel entendeu o olhar que Alexandre lhe lançou, não necessitando uma palavra sequer para entender que aquela era sua deixa.
— Eu vou ver se os meninos do cenário estão precisando de uma ajudinha.
— Gabriel, qual é! Vai me deixar na mão?
— Eu estou sendo inútil aqui pra você, de qualquer forma. O Alexandre pode te ajudar.
Se afastou dando uma piscadela para seu melhor amigo, que sentiu o peito inquieto. Olhou para Paloma, que parecia estar sem jeito. Naquele momento, ela fuzilava Gabriel com o olhar, preparando o longo sermão para mais tarde.
— É muito legal da sua parte estar aqui ajudando.
— Tem muita gente ajudando. Comparado a eles, eu não estou fazendo nada.
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O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...