O Garoto da Mesa Nove

22. Cupido

No fim da tarde, Eduardo e Gerson chegavam em frente à residência dos Queiroz. Enquanto desligava o motor, o irmão mais velho assistia o caçula suspirar ao olhar para fora da janela.

— Obrigado por vir comigo. — Disse em um tom doce, recebendo uma piscadela de cumplicidade em troca.

— Vai dar tudo certo. É só ser você mesmo.

Enquanto se aproximavam para tocar o interfone, Edu sentia suas mãos suarem, mesmo não estando calor. Felipe os recebeu no portão, com um singelo aperto de mão com Gerson e um tímido beijo na bochecha de Edu. Quando entraram na casa, no entanto, o clima mudou drasticamente, invertendo os papéis entre os irmãos. Gerson, que até aquele momento estava relaxado, sentiu seu peito saltar em um solavanco. Sua garganta secou subitamente enquanto enxergava aquela figura em sua frente.

— Gerson, essa é a minha irmã, Lívia. Lívia, esse é o Gerson, irmão do Edu.

Lívia também compartilhava da mesma expressão de pura surpresa, misturada com uma sutil alegria em rever o garoto com fobia de aviões do outro dia. Gerson se apresentou para César no modo automático, disparando uma ou duas palavras robóticas enquanto seu corpo inteiro parecia se contrair com aquela situação inesperada.

Não demorou muito para que o jantar fosse servido. César fez questão de tirar a poeira de seu lado gastronômico para agradar os convidados. Afinal, aquela reunião de família era especial em muitas maneiras; reencontro com sua filha mais velha, celebração do namoro de Felipe e Eduardo, junção oficial entre as famílias Queiroz e Cardoso, mesmo que nem todos estivessem presentes.

De repente, mesmo depois de tudo o que havia acontecido, a ausência de Paula era sentida por seu marido e seus dois filhos. Eram poucas as vezes que aquela casa ficava tão cheia e animada, e César sabia que era algo que faria Paula ficar feliz.

No meio tempo, os olhares entre Lívia e Gerson eram inevitáveis. Havia um certo magnetismo que os puxavam um em direção ao outro, mesmo sem querer. Ambos esboçavam um sorriso contido vez ou outra, se controlando para não dar bandeira de que um havia tamanho efeito sobre o outro.

Antes de servirem a sobremesa, Lívia estava na cozinha, pegando os talheres e os pratos para levar até a sala de jantar, onde a apetitosa torta de limão feita por ela já voltava a abrir o apetite de todos.

— Que mundo pequeno esse, né? — Gerson apareceu com as mãos nos bolsos, encostado no batente da porta.

— Nem me fale. Duvidei que fosse você por alguns segundos. — Sorriu, terminando de equilibrar a pilha de louça em suas mãos.

— Você quer ajuda? — Gerson se prontificou, se aproximando para repartir o trabalho com Lívia, que aceitou de bom grado.

— Então, meu irmão namorando seu irmão. Se eu soubesse que estávamos vindo para o mesmo lugar eu teria oferecido uma carona aquele dia.