15. Bandeira Branca

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Celso andava com sua viatura em direção à delegacia pelas ruas calmas do centro, perdido em seus pensamentos

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Celso andava com sua viatura em direção à delegacia pelas ruas calmas do centro, perdido em seus pensamentos. Sempre que se desentendia com Gabriel, pensava em como Fernanda se sentiria em relação a isso. E a resposta era sempre negativa.  Ela jamais permitiria que eles se tratassem daquele jeito. Qualquer que fosse o problema, Fernanda sentaria com os dois frente a frente e ajudaria a resolver, e talvez era aquilo que mais machucasse Celso. Se ela estivesse viva, não teriam brigas para resolver. Nada daquilo estaria acontecendo e a relação com seu único filho seria totalmente diferente. Mas, ao invés disso, eles não sabiam conviver um com o outro sem brigar. E ele tinha a consciência de ser sempre o responsável por iniciar as brigas. Havia uma sensação de desgosto, de mágoa e até de rancor. Sim, de seu próprio filho. E ele não sabia como agir diferente, e no fundo, sabia que nem ao menos tentaria. Era frustrante pensar que só havia tido a chance de ter um filho com o amor de sua vida, e que havia sido uma experiência ruim. Não era assim que Celso imaginava a paternidade. A construção de uma família, de um lar. E em seu interior, nas partes mais profundas, ele sabia que não conseguia amar Gabriel. Entretanto, no início daquela tarde nublada de junho, onde os raios de sol que iluminavam o céu limpo já eram parte do passado, algo em Celso despertou ao vê-lo caído na calçada. Chamasse do que quisesse, mas a situação em que Gabriel estava era horrenda demais para se manter neutro, indiferente. Por um momento, ele duvidou que fosse seu filho, de fato. A cena era brutal demais. Afinal, ele não conseguia pensar em alguém que odiasse tanto o garoto para fazer algo parecido com aquilo; tombado na calçada, com o rosto pincelado com sangue, o mesmo que lhe cercava, mesmo que em pouca quantidade, mas o suficiente para fazer o coração de Celso se apertar. Não necessariamente por se preocupar por ele, mas pelo remorso que sentiria se caso aquilo que ele pensava — e temia — tivesse acontecido. Pois no fim das contas, continuava sendo seu filho.

Saiu do carro, correndo até o corpo caído próximo à lixeira.

— Gabriel? – Tentou, nervoso. Então, respirou aliviado após perceber que seu peito se movia em sinal de respiração. Sem muito jeito, pôs o garoto de pé, que tentou protestar com um gemido de dor, porém sem forças. Abalado com a imagem do menino, ele apenas agiu por impulso e ajeitou-lhe dentro da viatura, pisando no acelerador com força o suficiente para que os pneus cantassem no asfalto.

— Tenta ficar acordado, Gabriel. Ouviu?

Mais um murmúrio veio do banco de trás, enquanto Celso sentia sua testa gotejar. Seu corpo estava quente, apesar de sentir suas mãos extremamente frias.

— Você viu quem fez isso com você?

— Mais ou menos. Foi tudo muito rápido. — Gabriel fez esforço para falar, mas sua costela quebrada provocou-lhe um urro agonizante de dor. Em seguida, a falta de ar. Instintivamente, tentou levar seu braço até o local onde doía, mas seu membro também não parecia estar em sua melhor forma. Entretanto, apesar de parecer sério, não chegava a aparentar uma fratura.  Mas era difícil de dizer, afinal seu corpo disputava a atenção de Gabriel nos diversos lugares onde ele estava machucado ou fraturado por conta da demonstração de ódio do grupo desconhecido.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora