Eduardo estava em pé diante da pia, com a torneira aberta e os dedos debaixo da corrente de água. A sensação era boa, aliviava a ardência incômoda que os dedos esfolados provocavam.— Edu, você me ajuda aqui fora? — Carlos pediu, parado na porta com a bandeja em uma das mãos.
— Claro, só um minuto.
Eduardo fechou a torneira, limpou as mãos em um pano de prato e respirou fundo. Seu corpo ainda doía, a raiva ainda estava longe de ir embora e a vergonha de seu pai era grande. A pizzaria havia aberto fazia alguns minutos e por sorte ninguém havia o visto. Ele havia conseguido apenas deixar a bicicleta no corredor lateral, jogar a mochila no canto da cozinha e correr para limpar as mãos, que ainda estavam sangrando por apartar a segunda briga do pai em menos de duas semanas, no mesmo bar. Ele sabia que uma hora poderia não chegar a tempo. E isso o preocupava.
Conforme voltava à realidade, o barulho das pessoas conversando no salão começava a prender sua atenção. Então, ele pegou a bandeja de inox de cima do balcão e caminhou para fora da pequena cozinha, passando pelas cortinas e olhando em volta. Sua mãe estava a poucos metros de distância, tirando uma pizza do forno; Carlos caminhava a passos largos, passando por ele em direção ao fundo do salão; e Gerson o observa de longe, enquanto atendia um cliente que pagava sua conta no caixa. Ele entregou o troco e agradeceu com um sorriso cordial e, assim que o homem rumou em direção à porta principal fez um sinal com a mão, chamando Edu, que por sua vez abaixou a bandeja e tentou pensar em uma desculpa rápida e convincente para dar ao irmão, mesmo sabendo que seria inútil. Ele desistiu de tentar — cedo demais até.
— Você sabe onde está o papai?
Eduardo olhou para trás, para a mãe, que caminhava apressada para dentro da cozinha, ocupada demais para sequer olhar em direção a eles. Fátima, irmã de Helena, passava a mão na testa gotejando de suor, preparando mais uma pizza para pôr no forno.
— Ele se meteu em briga de novo.
Gerson desviou os grandes olhos castanhos para o lado e suspirou, decepcionado.
— E você se meteu para ajudar. — Resmungou encarando Eduardo, que confirmou com a cabeça.
O irmão mais velho passou a mão pelos cabelos curtos e penteados, tendo a mesma sensação ruim de todas as outras vezes quando ficava sabendo que o pai exagerou na bebida. Uma sensação de impotência, de frustração, de mal agouro. Estava mais do que claro para ele que as coisas estavam piorando e ele sabia que isso não tinha como acabar bem, ainda mais agora que Eduardo estava tendo que se meter em brigas de bar para ajudar o pai.
— A mãe sabe?
— Não.
— Então precisa continuar não sabendo. Deixa que eu resolvo isso depois.
— Tudo bem.
— Edu, você viu seu pai? — Helena surgiu como um fantasma, no momento perfeito. Seu semblante era de preocupação e impaciência.
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O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...