Passava das onze da manhã quando o Ford Edge de César encostava no meio-fio em frente à casa dos Cardoso. Era um dia atípico para o primeiro dia de julho, com um sol intenso em meio a um céu perfeitamente limpo, sem nenhum sinal de que o clima pudesse estragar os planos de Edu. Ele, por sua vez, olhou para fora da janela do quarto pela enésima vez antes de enxergar Felipe no banco de trás, com o braço apoiado para fora e o sorriso de satisfação tão explícito quanto o que ele mesmo estampava do lado de dentro. Antes de sair, se certificou de que estava apresentável o suficiente para conhecer os pais de Felipe. E quando ouviu sua voz interna lhe dizendo isso, seu coração disparou. Sem dúvida aquele era um passo importante e, como prova de que sabia disso muito bem, havia levantado da cama antes do dia amanhecer para organizar sua sacola de viagens, passar seu terno e colocá-lo devidamente dentro da capa e escolher uma roupa que causasse uma boa primeira impressão. Checou uma última vez no espelho e se apressou em direção às escadas, tentando controlar os nervos.
À medida em que se aproximava do imenso e reluzente SUV preto, Eduardo conseguia se identificar com o semblante subitamente nervoso de Felipe, enquanto César abria a porta do motorista para ir ao seu encontro.
— Bom dia, Edu!
— Bom dia, Sr. Queiroz. É um prazer conhecer o senhor.
— Por favor filho, me chame de César. E o prazer é todo meu! Deixa eu te ajudar com as suas coisas! — Disse esbanjando simpatia enquanto pegava a sacola e a capa com o terno das mãos de Edu e caminhava em direção ao porta-malas. César Queiroz estava no auge de seus quarenta e dois anos, alto, esbelto e muito bem conservado. Seu cabelo levemente grisalho era, talvez, a única pista que as pessoas tivessem de que ele não fosse um irmão mais velho de Felipe. A surpresa de Eduardo, no entanto, foi entrar no carro e reparar no banco do carona vazio.
— Sua mãe não vai com a gente?
— Ela teve que ficar para resolver algumas coisas no escritório. Vai chegar um pouco mais tarde. — Felipe explicou, percebendo a tensão se formando no rosto de Edu. O que era compreensível, já que esse encontro significava muito para ele.
O caminho para fora de São Valentim havia sido mais leve do que Edu havia formulado em sua mente desesperada e ansiosa. César fez questão de saber um pouco mais de sua vida, seus objetivos para o futuro, e é claro, de seus planos com Felipe. Esse último tópico, mesmo que sendo trazido de maneira informal e despretensiosa, ergueu o assunto no fundo de suas mentes. Entre bochechas ruborizadas e protestos do caçula da família Queiroz contra o comentário prematuro e indelicado de seu pai, Eduardo e Felipe se entreolharam com largos sorrisos estampados no banco de trás. Pois mesmo sem dizer nada, sabiam que estavam na mesma página. Querendo as mesmas coisas. E como todo pai preocupado com o fato de seu filho estar alçando asas para fora de seu ninho em algum momento próximo, César pelo menos estava feliz por Felipe ter Eduardo ao seu lado.
Em algum momento na rodovia, Edu se deu por vencido ao sono que tentava lhe dominar os olhos. Felipe percebeu a cabeça de seu companheiro de viagem pender sem pressa em direção ao seu ombro, que sem demora serviria de apoio. Uma descarga elétrica percorreu todo o seu sistema, através do toque de pele a pele com o garoto que ele gostava. Em menos de duas horas eles estariam levando Eduardo ao seu destino dos sonhos. A cidade que ele sempre quis estar. O lugar onde seu coração indiscutivelmente pertencia. E estar presente em um momento tão especial fazia o peito de Felipe vibrar intensamente de completa alegria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...