Dezembro chegou em um piscar de olhos. Enquanto Edu entrava no Partenon como aluno pela última vez, uma sequência de memórias recentes lhe passou dentro de sua cabeça. Houve tantos altos e baixos, mas havia sido um ano importante em sua vida. Nunca pensava em admitir, mas sentiria falta daquele lugar. Pouco antes da cerimônia começar, caminhava pelos corredores da escola, se despedindo de um lugar que serviu de palco para os melhores e piores dias de seus últimos três anos.
— Ei. — Felipe surgiu de surpresa, também vestindo a beca de formatura.
— Ei. Você tá lindo.
— Você está mais. Muito mais. — Sorriu e se aproximou, roubando um beijo de Edu. Sabia que aquela era sua especialidade e sempre sentia como se fosse a primeira vez.
Edu sempre achou as becas de formatura desprovidas de beleza. Na primeira prova, se sentia desengonçado, esquisito, mas nada daquilo se aplicava a Felipe. Para Eduardo, Felipe era a exceção absoluta da natureza, não reconhecendo o significado da palavra imperfeição. O modo como ele se movia tão naturalmente e sorria tão triunfante lhe fazia se sentir de quatro pelo primeiro amor de sua vida como se não houvesse mais nada ao seu redor.
— Lembra quando a gente se esbarrou aqui dentro? — Felipe apontou para a porta da secretaria, fechada assim como todas as outras, com exceção do auditório, no fim do corredor principal.
— Claro que eu lembro, pensei que meu coração havia parado. Queria ter visto a minha cara de idiota ao ver você.
Felipe sorriu pela frase espontânea de Edu. Em seguida, respondeu:
— E eu então? Quando vi você parado logo atrás de mim eu achei que estava alucinando. Não sabia que ia voltar a te ver de novo.
— É, nem eu. Mas eu acredito muito que quando algo é para acontecer, nada nem ninguém impede.
— Então você acredita em destino. — Felipe falou, não em forma de pergunta, mas de suposição.
— Acredito. E você, acredita em destino?
— Não sei. Mas acredito em amor à primeira vista.
Trocaram sorrisos apaixonados e se beijaram novamente, debaixo das lâmpadas que iluminavam o hall de entrada. Sentiam que aquele era o final de um ciclo importante em suas vidas e o começo de outro ainda melhor.
— Vem, senhor orador da turma. A gente não pode se atrasar! — Felipe anunciou e pegou Edu pela mão, correndo ofegante pelo Partenon uma última vez.
Chegaram bem a tempo de se ajeitarem na fila, onde a professora Garcia se encarregava de colocar tudo em ordem. O Diretor Alvarenga fazia a frente, dando as boas-vindas à comunidade de pais e alunos de São Valentim naquela noite para celebrar a formatura das turmas do terceiro ano do Colégio Partenon. O auditório era grande o suficiente para abrigar todos os convidados com pleno conforto. Poltronas vermelhas formavam fileiras uniformes que ficavam mais baixas conforme se aproximavam do palco. As paredes, rodeadas por adornos dourados, dispensavam decorações. Todos vestiam suas melhores roupas e olhavam com atenção para Alvarenga, que recitava um discurso batido e genérico sobre fins de ciclos e manter a reputação da escola em formar verdadeiros campeões.
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O Garoto da Mesa Nove
Romance1º lugar no concurso Cósmico, categoria LGBTQ+; 1° lugar no concurso Escritores Lendários, categoria LGBTQ+; 2° lugar no concurso LGBTQ+, categoria Romance; 2º lugar no concurso Different Blue, categoria LGBTQ+; 2º lugar no Concurso Golden, categori...