11. Preconceito

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Jéssica e Daniel estavam quietos, lado a lado na borda do chafariz da Praça Central enquanto as memórias lhes deixavam atordoados e inquietos

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Jéssica e Daniel estavam quietos, lado a lado na borda do chafariz da Praça Central enquanto as memórias lhes deixavam atordoados e inquietos. Jéssica ainda estava presa no dilema de ligar ou não ligar para a polícia, ponderando se talvez eles dissessem que tudo havia sido um terrível acidente as consequências fossem menos graves. Já Daniel pensava em maneiras de deixar aquilo enterrado no passado e em como agiria quando a notícia se espalhasse pela cidade; ele até podia prever os tiros dos jornais locais.

"A trágica morte de um adolescente após sair de uma festa em São Valentim"

"Corpo encontrado no Rio dos Corvos"

"Maurício Medeiros"

De todos, o último pensamento foi o mais atormentador. Pensar no nome do garoto que ele perseguiu e jogou em direção à morte era cruel demais, até para alguém como Daniel. Ele sabia que não era um modelo de ser humano, mas jamais havia matado alguém. E com certeza não era algo que ele gostaria de ter em sua lista. Nem ele, nem Jéssica. De maneiras diferentes, ambos tentavam resolver aquela questão em suas agitadas e imprudentes cabeças. Mas nada que viesse em mente consertaria a grande bagunça que eles haviam causado no fim da noite anterior.

Paloma dormia junto com Isadora quando Alexandre chegou em casa. Luiz ainda ficaria no hospital naquele dia e, vencido pelo cansaço, o filho mais velho decidiu tirar algumas horas de sono antes de voltar para lá. Ao espiar as duas pela fresta da porta, sentiu um misto de gratidão e de tristeza ao ver Paloma ali. Mesmo sendo extremamente hostil e fazendo-a ter todos os motivos do mundo para não querer ajudá-lo, ali estava ela. O pensamento já conhecido de que ele não a merecia começou a circular em sua cabeça, mas ele estava muito cansado para começar aquilo consigo mesmo. Então, tudo o que fez foi tomar um banho quente e se arrastar até sua cama, apagando tão rápido que mal conseguiu repassar toda a loucura daquela madrugada em sua cabeça.

Na sexta-feira, um pequeno e improvisado memorial com fotos e flores prestavam uma última homenagem a Maurício na escola. Seu corpo havia sido encontrado no dia anterior, quando as buscas haviam começado logo cedo, após sua mãe estranhar a demora para o filho chegar em casa e ir até a delegacia relatar o desaparecimento. Gabriel assistia de longe, destroçado por dentro. Naquele momento, Maurício era apenas uma lembrança retratada em fotos e flores, algumas velas e pouquíssimas mensagens de carinho de seu ainda menor círculo de amigos.

Todos os membros do corpo estudantil do colégio Partenon sentiram o peso daquela notícia esmagando seus espíritos naquela manhã, até mesmo quem não era próximo de Maurício. Os que usualmente faziam piadas se sentiam tensos por conta dos boatos de que ele havia cometido suicídio. Os que ridicularizaram o garoto na festa se olhavam com temor, com tensão. Eles sabiam que as chances daquela história acabar se desdobrando em um grande problema para eles eram muito altas. E, pela gravidade da situação, nem todo o poder e o dinheiro das famílias ricas da cidade poderiam livrá-los de tamanha responsabilidade.

O Garoto da Mesa NoveOnde histórias criam vida. Descubra agora