Park Jimin tinha bom senso. Era isso que seus amigos acreditavam.A verdade era que Jimin não tinha senso nenhum – pelo menos não quando se tratava de cavalheiros encantadores com olhos escuros marotos. Se ele tivesse um mínimo de racionalidade, não teria bancado o bobo com o fragateiro da Livraria. Mesmo agora, mais de seis meses depois, conseguia se lembrar da cena constrangedora e vê-la se desenrolando, como se estivesse assistindo a uma peça de teatro.
O local: a livraria Hatchard’s. A data: uma tarde de quarta-feira, em novembro. Os personagens: Jimin, claro. Seus três melhores amigos: Kim Taehyung, Lorde Kim Seokjin, e Lee Jieun, a Duquesa de Ashbury. E, fazendo sua estreia no papel principal (trombetas, por favor): o fragateiro da Livraria. A cena desenrolou-se da seguinte forma: Jimin equilibrava uma torre de livros de Taehyung em um braço enquanto lia seu livro com a mão livre. Era um exemplar de Catálogo de Nebulosas e Aglomerados Estelares, de Charles Messier, que ele tinha encontrado, como uma pérola, na seção de livros usados. Procurava uma cópia de segunda mão há séculos. Jimin não tinha dinheiro para comprar um novo. Em um momento estava folheando alegremente páginas de descrições de nebulosas astronômicas, e no seguinte…
BANGUE!
Uma colisão de proporções astronômicas. A causa não ficou clara. Talvez ele tenha dado um passo para trás, ou o outro rapaz tenha se virado sem olhar. Não importava. O ombro de um bateu no braço do outro, as leis da física exigiram uma reação igual e oposta. Dali em diante, foi a gravidade. Todos os livros que segurava foram parar no chão e, quando o ômega tirou os olhos do caos que havia formado, ali estava ele.
Cabelo castanho desgrenhado, vestido com elegância, colônia que cheirava a pecado engarrafado e um sorriso que, sem dúvida, tinha sido aprendido na infância como forma de persuadir os ômegas a perdoarem qualquer coisa que fizesse. Com um charme afável, ele recolheu os livros. Jimin não ajudou em nada. O alfa lhe perguntou o nome; o ômega gaguejou.
O alfa lhe pediu para recomendar um livro – um presente, ele disse, para duas garotas. Como resposta, o ômega gaguejou um pouco mais. O alfa se aproximou o bastante para que Jimin inspirasse o seu cheiro amadeirado, terroso e viril.
O ômega quase desmaiou na seção de antiguidades. Mas então o sujeito o olhou com olhos escuros calorosos. Realmente olhou, do modo que as pessoas raramente faziam, porque isso significava permitir-se também olhar para elas. Reação igual e oposta. Ele o fez se sentir o único ômega na livraria. Talvez o único ômega no mundo. Ou no universo. O momento pareceu durar para sempre, mas, na verdade, acabou rápido demais.
Então, o alfa lhe fez uma reverência galante, despediu-se e foi embora com o Catálogo de Nebulosas e Aglomerados Estelares, de Charles Messier, deixando Jimin com um livro insípido de histórias para “ômegas obedientes”. Fim da cena.
Ou, pelo menos, esse deveria ter sido o fim. Jimin resolveu apagar o encontro de sua cabeça, mas Seokjin – o romântico incorrigível dentre seus amigos – não permitiu. Como ele não lhe tinha dito o nome, Seokjin atribuiu-lhe títulos cada vez mais ridículos. Primeiro o alfa foi apenas o fragateiro da Livraria, mas conforme as semanas passavam, avançou rapidamente pelos degraus da nobreza. Sir Leitor. Lorde Literatura. O Duque de Hatchard.
Pare, Jimin disse mais de uma vez para o amigo. Isso aconteceu séculos atrás e eu não pensei mais nele. E com certeza ele não pensou em mim. Aquilo não foi nada.
Só que não era bem assim. Algum recôndito imbecil de sua memória enfeitou o encontro com arco-íris e brilhos até aquilo parecer… alguma coisa. Alguma coisa humilhante demais para ser admitida em voz alta, até mesmo para Seokjin, Jieun e Taehyung. Na verdade, Jimin evitava admitir para si mesmo.
Daquele dia em diante, sempre que ia à Hatchard’s – ou ao Templo das Musas, ou mesmo à Livraria Minerva – Jimin procurava por ele. Imaginando que poderiam colidir mais uma vez, e que o alfa confessaria, durante um chá da tarde que se transformaria em jantar, que também o tinha procurado, na esperança de reencontrá-lo. Porque, era óbvio, naqueles dois minutos de dolorosa conversa unilateral, ele tinha descoberto que um ômega incoerente e desajeitado de classe trabalhadora, pequena o bastante para encher um armário médio de cozinha, era tudo o que ele sempre tinha ansiado encontrar na vida.
"Você é exatamente o que eu estava procurando. Agora que o encontrei, nunca mais o deixarei ir. Jimin, eu preciso de você".
Bom senso, blé.
[...]
Jimin trabalhava para pagar as contas, acertando relógios nas residências de clientes ricos, e não tinha tempo para sonhos. Estabelecia objetivos e trabalhava para alcançá-los. Pés no chão, postura ereta e seguindo em frente. Ele não se permitiria – de jeito nenhum – ser levado por fantasias românticas. Infelizmente, sua imaginação resolveu ignorar esse memorando. Quando sonhava acordado, e em sua mente iludida, o chá da tarde levava a caminhadas no parque, a conversas profundas, a beijos sob as estrelas e, até, – a dignidade de Jimin murchava só de pensar – a um casamento.
Sério. Um casamento.
Você aceita este alfa, libertino anônimo da livraria com péssimo gosto em literatura infantil, como seu legítimo marido? Um absurdo. Após meses tentando parar com essa loucura, Jimin desistiu. Pelo menos suas fantasias, por mais tolas que pudessem ser, eram um segredo só dele. Ninguém mais precisava saber. Era grande a probabilidade de que nunca mais encontrasse o libertino da Livraria.
Até, claro, a manhã em que o encontrou.
![](https://img.wattpad.com/cover/364915443-288-k224172.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A CONVENIÊNCIA DO AMOR
FanfictionLeia a SINOPSES desta história no primeiro capítulo do livro. E aos interessados, desejo uma boa leitura!