CAPÍTULO 01

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A manhã começou do mesmo modo que a maioria das manhãs recentes de Jungkook. Com uma morte trágica.

– Ela está morta.

Ele se virou de lado. Ao abrir os olhos, o rosto de Haneul entrou em foco.

– O que foi desta vez?

– Tifo.

– Encantador.

Usando o braço estofado do sofá como apoio, ele se colocou sentado. Ao fazê-lo, a vertigem o atingiu, arrependendo-se instantaneamente de ter mudado de posição. Ele massageou as têmporas, lamentando seu comportamento na noite anterior. E sua libidinagem durante a madrugada inteira. Já que estava pensando nisso, podia também se arrepender de toda sua juventude desperdiçada. E abrir algum espaço em sua agenda esta tarde.

– Isso pode ficar para depois. – Para depois… quando a cabeça dele parasse de zunir e ele tivesse se lavado, livrando-se daquele aroma enjoativo de perfume francês.

– A Ae-cha disse que tem que ser agora, ou o contágio pode se espalhar. Ela está preparando o corpo.

Jungkook gemeu. Decidiu que não valia a pena discutir. Era melhor resolver logo aquilo. Quando começaram a subir os quatro lances de escada até o quarto das crianças, ele questionou sua pupila de 10 anos:

– Você não pode fazer algo a respeito disso?

– E você?

– Ela é sua irmãzinha.

– Você é o tutor dela.

Jungkook fez uma careta, sem parar de massagear a têmpora que latejava.

– Disciplina não é um dos meus talentos.

– Obediência não é um dos nossos – respondeu Haneul.

– Percebi. Não pense que não vi você guardar no bolso a moeda que estava na mesinha. – Eles chegaram ao final das escadas e viraram no corredor. – Escute, isso tem que acabar. Internatos de qualidade não oferecem vagas para ladrazinhas nem para assassinas em série.

– Não foi assassinato. Foi tifo.

– Oh, mas é claro que foi.

– E nós não queremos ir para um internato.

– Haneul, está na hora de aprender uma lição difícil. – Ele abriu a porta do quarto. – Na vida, nem sempre a gente consegue o que quer.

E Jungkook não sabia disso? Ele não queria ser o tutor de duas garotinhas órfãs. Não queria ser o próximo na linha de sucessão do ducado de Belvoir. E, com toda certeza, não queria estar participando do quarto funeral em quatro dias. Mas lá estava ele. Ae-cha se virou para os dois. Um véu de tule escuro cobria seus cabelos cor de palha.

– Por favor, mostrem algum respeito pela falecida. – Ela acenou para que Jungkook se aproximasse. Obediente, ele foi até o lado dela, curvando-se para que a menina pudesse prender uma faixa preta ao redor do braço dele.

– Sinto muito por sua perda – ele disse. – Sinto tanto, tanto. Você não sabe quanto.

Ele assumiu seu lugar à cabeceira da cama, olhando para a falecida. Ela era de uma palidez fantasmagórica e estava envolta em uma mortalha branca. Botões cobriam seus olhos. Graças a Deus. Era terrivelmente perturbador quando os olhos o fitavam com aquela expressão vazia, vidrada. Ae-cha pegou a mão dele e curvou a cabeça. Após conduzir a reza do Pai Nosso, cutucou Jungkook nas costelas.

– Senhor Jeon, por gentileza, diga algumas palavras.

Jungkook olhou para cima. Que Deus o ajudasse.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora