CAPÍTULO 15

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– Deem uma olhada em Marte.

Era uma noite clara e escura, e Jimin tinha convidado as garotas para observar estrelas com ele, bem depois do horário em que deveriam dormir. Uma lição de navegação celestial, foi como ele chamou.

Na verdade, foi um suborno para que elas tomassem banho e vestissem suas camisolas, depois escovassem e trançassem os cabelos, que cheiravam a limpeza e frescor. Quando Jimin se curvou sobre o ombro de Ae-cha para ajudá-la a encontrar o planeta vermelho, ele sorveu o aroma inocente. Uma emoção calorosa, sensível, se espalhou por seu peito. Em poucas semanas ele tinha desenvolvido afeto por essas garotas. Profundamente.

Ao ajudá-las, era como se Jimin conseguisse voltar no tempo e entrar em contato com sua versão mais nova, tornada órfão há pouco, e abraçar apertado esse garoto, transmitindo-lhe segurança. Não tenha medo. Eu sei que vai ser difícil. Muito difícil. Mas você é mais forte do que pensa, e tudo vai dar certo no fim. Mas ao envolver os ombros de Ae-cha e encostar o nariz na cabeça bem-cheirosa da garota, Jimin sentiu um pouco de medo. Quando elas fossem para a escola, haveria alguém lá para abraçá-las e tranquilizá-las?

– Estou vendo – Ae-cha disse. – Está todo borrado.

– Mesmo? Deixe-me ver. – Jimin tomou o lugar da pupila na ocular. – Pode ser que eu precise limpar a lente.

Antes que Jimin conseguisse ver direito, contudo, elas ouviram o som de uma carruagem parando ao lado da casa. Uma olhada rápida pela janela confirmou a suspeita de Jimin. Jungkook tinha voltado para casa em sua carruagem – e não estava sozinho. Risos leves, femininos, flutuaram no ar noturno e foram trazidos, sem serem convidados, pela janela aberta. Jimin quis esmagar aquela risada como se fosse um mosquito incômodo.

– Oh, Jeon – a ômega disse, manhosa. – Você é um diabo.

Blerg.

Ele ofereceu a mão para ajudar a mulher a descer da carruagem alta. Quando desceu, a mulher “caiu”. E Jungkook a pegou nos braços. Jimin revirou os olhos ao ver a artimanha tão falsa. Ele estava tão distraído observando-os que não percebeu que tinha companhia na observação. Haneul tinha virado o telescópio para a rua.

– Alvo inimigo avistado a estibordo. E, u-lá-lá, como ela é chique.

– Me dê isso aqui. – Jimin assumiu o controle do telescópio e olhou.

Após ajustar o instrumento, conseguiu ver a mulher como se estivesse a um palmo de distância. A mulher tinha cabelo dourado preso num penteado elegante para cima, e usava um vestido roxo de cetim com luvas até os cotovelos combinando. Joias brilhavam em seu pescoço. Ae-cha se inclinou sobre o parapeito.

– Ela é muito linda.

– Cuidado, Ae-cha – Haneul murmurou. – Ou Millicent pode contrair sífilis.

Jimin ficou chocado.

– Você não devia falar isso – ele sussurrou. – Não devia nem saber o que é isso.

– Eu afugentei todas os babás e fui expulsa de três escolas, mas isso não quer dizer que não aprendi nada. – Haneul sorriu. – E você mesmo nos disse que 10 anos é idade suficiente para ser aprendiz num navio. E um aprendiz aprende muito mais que isso.

Da rua lá embaixo, Jimin ouviu um murmúrio masculino de sedução. Ele não conseguiu distinguir as palavras, mas o efeito pretendido era óbvio. Ele sentiu a indignação arder-lhe no peito. Que patife. Como Jungkook ousava desfilar suas amantes bem debaixo do nariz de duas crianças inocentes? Bem, talvez uma criança inocente e Haneul.

– Agora chega. – Jimin fechou o telescópio. – Para a cama, vocês duas.

As garotas bateram o pé e imploraram.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora