CAPÍTULO 4

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Em casa, Jimin desenrolou-se do paletó do Sr. Jeon e pendurou-o num gancho. Era provável que ele tivesse arruinado a peça. O paletó tinha um aroma delicioso de menta e sândalo quando Jungkook o colocou em seus ombros. Agora ele fedia ao rio Tâmisa. Após tomar banho e vestir roupa de baixo e roupas limpas, ele seguiu o cheiro de biscoitos recém-assados até a cozinha. Graças aos céus por Taehyung. Ele se sentou à mesa e apoiou a cabeça nos braços dobrados.

– Oi, Tae.

Taehyung tirou uma assadeira de biscoitos do forno. Um vapor cítrico e doce permeou a cozinha.

– Minha nossa, o dia já acabou?

– Acabou, eu receio. – E que dia tinha sido. Jimin levantou a cabeça. – Você lembra do libertino da Livraria?

– O libertino da Livraria? – Taehyung franziu o cenho. – Não é um poema ou limerique, é? Sou péssimo nisso.

– Não, é um alfa. Nós o encontramos na Hatchard’s, no outono. Eu estava segurando uma pilha de livros seus num braço enquanto lia um com a mão livre. Eu e ele trombamos. Fiquei aturdido, derrubei tudo. Ele me ajudou a recolher os livros.

Taehyung empilhou os biscoitos num prato e o levou até a mesa, colocando-o entre os dois.

– Alto – Jimin continuou. – Cabelo castanho, olhos escuros, bem-vestido. Atraente. Paquerador. Nós todos concluímos que devia ser um libertino terrível. – E não sabíamos da missa a metade. – Seokjin ficou me atormentando durante meses. Você deve se lembrar.

Taehyung se sentou numa cadeira, pensativo.

– Acho que me lembro. Eu estava comprando livros de História Natural?

– Culinária e Arquitetura Romana.

– Oh. Hum. – Biscoito numa mão, livro na outra, Taehyung já estava absorto em outros pensamentos.

Jimin pegou um biscoito e, resignado, deu uma mordida. Esse era o Taehyung. Ele se desfazia de informações inúteis como se fossem lastro. Jimin imaginou que era porque ele precisava do espaço no cérebro para mais fatos e teorias. E poder criar suas próprias ideias. Quando Taehyung se concentrava, deixava de lado todo o resto. Ele conseguia ignorar a passagem de horas e dias, o cheiro de bolos queimados vindo da cozinha ou o alarido de vinte e três…

Cuco! Cuco!

Vinte e três relógios. E assim começou. O badalar, tocar, gorjear e repicar de relógios que ficavam em pé, nas paredes, e até dançavam em todos os cantos da casa. Jimin não podia reclamar do barulho. Os relógios de Taehyung eram o único motivo de ele poder morar em um lugar como a Praça Bloom. Em troca de um quarto na casa que seu amigo herdou no elegante bairro de Mayfair, Jimin fornecia seus serviços de relojoeiro. A algazarra era bem alta quando todos tocavam em uníssono… mas se perdessem a sincronia, o barulho podia durar horas. Depois que o último badalo ecoou, Jimin falou para qualquer parte da atenção dividida de seu amigo.

– Ele me ofereceu um emprego. O libertino da Livraria.

– O libertino da Livraria? – Lorde Kim Seokjin irrompeu pela porta da cozinha, corado e sem fôlego, segurando um saco de ráfia com um braço e apertando um cobertor dobrado junto ao peito com o outro. – Ouvi você falar do libertino da Livraria?

Com um gemido suave, Jimin deitou a cabeça na mesa outra vez.

– Oh, Jimin. – Seokjin largou o saco de farinha, sentou ao lado dele e segurou o braço do amigo. – Vocês se encontraram, afinal. Sabia que se encontrariam.

– Não foi assim. Nem de longe.

– Você vai me contar tudo. Ele é tão lindo como pareceu na Hatchard’s?

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora