CAPÍTULO 17

86 27 0
                                    

– O ômega pe…” – Ae-cha parou e tentou de novo. – “O ômega pe… gato…”

– “Pegava” – Jimin a corrigiu com delicadeza.

– “O ômega pegava o peixe”.

– Muito bem, querida. Continue.

Agora que tinha recebido seus óculos, Ae-cha devorava seu primeiro livro. Há tempos que a cabeça dela tinha conectado as letras aos sons. Ela apenas não estava conseguindo vê-las. O livro precisava de um pouco de edição. Do modo como foi escrito originalmente por um certo senhor Jong-suk – que sofria de uma assustadora falta de imaginação –, os alfas faziam tudo de interessante e os ômegas nunca saíam de casa. Nada que alguns recortes com a tesoura e umas gotas de cola não resolvessem.

Ae-cha virou a página.

– O alfa la-va o prato.

– Excelente.

Haneul também estava progredindo. Ou, se não progredia, pelo menos tinha parado de atrapalhar. A garota já era uma leitora voraz, e sua habilidade com números ia muito além do esperado para sua idade. Ela quase não precisava de aulas. O que ela precisava era o tipo de coisa que nunca pediria e que só de vez em quando aceitaria – e de má vontade. Coisas como elogios e tapinhas calorosos nas costas.

Jimin ainda estava tentando chegar nos abraços. De modo geral, ele se sentia confiante. Embora ainda houvesse muito para ser feito até o fim do verão, tanto Haneul quanto Ae-cha estavam progredindo. E então, havia Jungkook.

A ligação amorosa dele com Winifred pode não ter chegado à conclusão, mas parecia ter resultado no efeito pretendido. Jungkook agora evitava Jimin com certo sucesso. Exceto pelas condolências matinais de praxe (escrófula sendo a última doença a ceifar a vida da pobre Millicent), Jimin não o via há uma semana. Portanto, as garotas também não. Haneul e Ae-cha poderiam decorar a enciclopédia e ainda assim não estariam prontas para ir à escola – não até que soubessem possuir um lar amoroso para o qual voltar.

Só havia uma pessoa que poderia lhes dar isso. E quando essa pessoa não estava trabalhando com o senhor Jong-suk, estava martelando algo no Antro da Perdição. Jimin sabia que eles sentiam uma atração inegável, mas ele não podia ser tão irresistível assim. Talvez pudesse encontrar um modo de se tornar completamente indesejável. Quem sabe Ae-cha não poderia lhe recomendar uma doença de pele nociva?

– O que é isso? – Ae-cha se virou no colo de Jimin. Ela puxou a fita amarrada no pescoço de Jimin e puxou a cruz de contas de sob o lenço do babá. – Você nunca tira.

– As contas foram presente da minha mãe. – Jimin desamarrou o laço na nuca. – Você pode ver, se quiser.

Ae-cha passou os dedos pelas pequenas contas vermelhas.

– Por que não usa uma corrente de verdade?

– Babás não têm dinheiro para comprar correntes de ouro.

Apesar disso, Jimin as mantinha na maior segurança possível, amarradas individualmente na fita que ele substituía, sem falta, a cada três meses, para que não arrebentasse.

– As contas são de coral – ele disse para Ae-cha. – Contas de coral vermelho. Quando eu nasci, as mães e pais ômegas faziam uma pulseira com elas e as colocavam no pulso de seus bebês. – Ele pegou Millicent e demonstrou, envolvendo com a fita o braço da boneca, no lugar em que a mão de madeira saía do braço estofado. – Assim. Para proteção.

– Proteção? – A pergunta cética veio de Haneul. Parecia que ela estava prestando atenção, lá do outro lado do quarto. – Proteção do quê?

– De todo tipo de coisa terrível. Doenças. Mal olhado. Aswang, que é uma bruxa. Existem muitas criaturas medonhas. Como a manananggal.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora