CAPÍTULO 33

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Na verdade, não demorou nem uma hora para Jungkook perceber que tinha sido um idiota. Não havia como excluir as garotas de sua vida. Antes, quando tiveram de endireitar o braço de Ae-cha, Jungkook precisou segurá-la com o peso do corpo para que o médico pudesse trabalhar. Ela gritou de dor e tentou se soltar. Ele teria, de bom grado, quebrado os próprios braços e pernas se pudesse sofrer a dor no lugar dela. Foi a coisa mais angustiante que já tinha feito, mas Jungkook não teria permitido que ninguém a fizesse em seu lugar. Enfim, tudo terminou.

Ae-cha adormeceu, exausta pela luta.

Jungkook também ficou esgotado. Ele acompanhou o médico até a porta, metralhando o homem com tantas perguntas que ele se virou e olhou para Jungkook como quem dizia, Você não sabe de nada? Não. Em se tratando de ser tutor, ele de fato não sabia. Mas iria aprender. O que vinha a seguir? Jantar, banho, histórias? Algum outro ritual amoroso ausente de sua própria infância, e portanto completamente estranho a ele? Jungkook imaginou que, por azar, vinho não estivesse na lista. Pelo menos ainda não. Ele ouviu o som de choro vindo da sala de jantar. Ele foi espiar debaixo da
mesa.

– Haneul?

Ela lhe deu as costas, enxugando o nariz com a manga para tentar esconder as lágrimas. Jungkook ficou de quatro para ir se juntar a ela debaixo da mesa. Calma, ele disse a si mesmo. Não a assuste. Ela precisava de segurança, e cabia a ele fornecê-la – muito embora nunca tivesse se sentido menos seguro de si mesmo em toda vida.

– Ae-cha está bem – ele disse. – Ela está bem.

– Ela estava gritando. Eu ouvi.

– O médico precisou colocar o braço dela no lugar, mas já está feito. Imobilizado com a tala. Agora só precisa de tempo para sarar. Em poucos meses ela vai estar novinha em folha. – Ele pôs a mão nas costas dela. – Não foi culpa sua. Está me ouvindo? Foi um acidente. Não pode se culpar.

– Você não espera que eu acredite nisso. É claro que foi minha culpa. Fui eu que disse para ela fugir pela janela. Ae-cha não teria caído se não fosse por mim.

– Muito bem, então. Talvez você tenha parte da culpa. Mas parte é minha também. Eu deveria ter feito você se sentir mais segura aqui. – Jungkook tentou encontrar uma posição confortável no espaço apertado, dobrando as pernas até os joelhos tocarem o peito. – Vou lhe contar uma história.

– Um daqueles contos com moral, para a gente melhorar? Não, obrigada.

– É uma história triste, na verdade. Sem final feliz.

Em termos claros e simples, ele contou para Haneul da morte de Sehun. É claro que deixando de fora os detalhes mais escandalosos. Mas o espírito da história permaneceu o mesmo.

– Eu prometi tomar conta dele – Jungkook concluiu, enfim. – Mas eu não estava lá quando ele precisou de mim.

Haneul não respondeu, mas ele não queria que ela sentisse que precisava responder. Ela tinha 10 anos e Jungkook estava lá para consolá-la, não o contrário.

– Quando você e Ae-cha vieram para mim – ele continuou –, não acreditei que pudesse ser um bom tutor. Eu já tinha falhado com meu primo. E se eu falhasse com vocês também? Foi por isso que planejei enviar vocês para a escola interna na primeira oportunidade. Disse para mim mesmo que assim seria melhor para todos.

– Tem certeza de que não tinha razão? – ela perguntou, encostando os joelhos no peito.

– Com frequência eu não tenho razão, então é provável que não. – Ele suspirou, soltando todo o ar de seus pulmões. – Para ser honesto, Haneul, fiquei apavorado. Não é só que eu falhei com Sehun. Eu também sentia muita falta dele. Tinha medo de perder mais alguém. Não queria gostar de vocês.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora