CAPÍTULO 26

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Jimin foi brigando consigo mesmo o caminho todo até a casa de Seokjin. Por que ele o tinha convidado? Havia ficado tão aliviado de vê-lo bem e forte outra vez que não pensou com clareza. E nunca imaginou que ele aceitaria. O percurso de carruagem até a Praça Bloom não foi demorado, e chegaram antes que Jimin estivesse preparado. Quando Jungkook o ajudou a descer da carruagem, ele manteve a mão do alfa apertada.

– Lorde Kim Seokjin e Kim Taehyung são dois dos meus melhores amigos neste mundo.

– Eu compreendo.

Jimin pensou que ele não compreendia. Não de verdade.

– Jin e Tae… bem, eles não são ômegas do tipo habitual. Não fazem parte da turminha de escola preparatória. Se você fizer o menor gracejo, ou se for minimamente rude, vou arrancar seu brinco de ouro da orelha com lóbulo e tudo.

Jungkook praguejou e remexeu na orelha até ele mesmo tirar o brinco. Jimin não devia tê-lo mencionado.

– Mais uma coisa – o ômega murmurou para Jungkook quando Haneul pegou a aldrava para bater na porta. – Se Lorde Kim Seokjin lhe oferecer um sanduíche, você irá comê-lo. E irá gostar dele.

– Por que isso parece uma ameaça? – ele perguntou.

Jimin não respondeu.

A porta foi aberta e Seokjin cumprimentou cada uma das garotas com beijos estalados nas bochechas.

– Entrem, queridas.

Então ele notou Jungkook e Jimin fez uma prece. Por favor, Jinie. Uma vez na vida, fique tranquilo.

Seokjin jogou os braços ao redor de Jungkook, pegando-o num abraço e balançando-o para um lado e para o outro.

– Estou tão aliviado de vê-lo. Estava preocupadíssimo desde que soube que estava doente. Jimin ficou muito nervoso.

Certo. Brilhante.

– Entrem, entrem – ele disse. – Taehyung já chegou. Ele fez bolinhos.

Jimin segurou as garotas.

– Espere. Você sabe que elas precisam praticar. Vamos lá, garotas.

Elas fizeram uma mesura, não muito delicada, mas estavam melhorando.

– Boa tarde, Lorde Seokjin – elas disseram em coro.

– Haneul, pode apresentar nosso convidado para Lorde Seokjin?

– Senhor Jeon, posso lhe apresentar…

– Não, não. Primeiro para Seokjin – Jimin disse. – Você pergunta a Lorde Seokjin se pode lhe apresentar o senhor Jeon, porque ele é superior a Jungkook na sociedade. – E também superior de muitas outras formas.

– Jimin, você sabe que detesto esse tipo de coisa – Seokjin disse.

– Elas precisam aprender. O tutor delas deseja que sejam jovens ladies muito bem educadas. – Ele se virou para Jungkook. – Não é verdade, senhor Jeon?

Haneul recomeçou, com a promessa de bolinhos compensando sua impaciência com o exercício.

– Lorde Seokjin, posso lhe apresentar nosso tutor, o senhor Jeon. – Ela se virou para Jungkook – Senhor Jeon, este é Lorde Kim Seokjin.

Jungkook não apenas fez uma reverência, mas pegou a mão do ômega e a beijou com seu charme diabólico.

– Encantado, Lorde Seokjin.

– Oh – Seokjin suspirou. – Você é maravilhoso. Eu sabia que seria.

As lições de etiqueta acabaram na porta. A casa de Seokjin não se prestava a formalidades, de qualquer modo. O estofamento estava rasgado e os padrões dos tapetes eram interrompidos por tufos de pelo solto. E se um gato caolho não estivesse miando e subindo pelas cortinas, um cachorro de duas pernas ficava correndo pela sala no seu carrinho especial.

Jimin adorava de paixão aquele lugar.
Jungkook foi apresentado a Taehyung, cuja recepção foi tão gelada quanto a de Seokjin foi calorosa. Nenhum beijo na mão. Taehyung virou o olhar para Jimin no momento em que Jungkook se virou para o outro lado e articulou com a boca um simples por quê? Jimin apenas deu de ombros. Todos se acomodaram na sala de visitas. As garotas correram no mesmo instante para o jardim.

– Aonde elas vão? – Jungkook perguntou.

– Ah, elas foram servir o chá para Hubert – Seokjin explicou.

– Hubert? – Jungkook repetiu.

– A lontra.

– Sim, é claro. Uma linda criatura, a lontra.

– É mesmo, não? Elas são tão afetuosas. Hubert adora Haneul e Ae-cha. Todos nós adoramos. Você deve ter tanto orgulho das suas garotas. – Ele levantou um prato e o ofereceu para Jungkook. – Sanduíche?

Arrá. O momento da verdade.

– Esta é uma nova receita minha. – Seokjin apontou para metade do prato. –
Eu a chamo de “atumoide”.

– Eu… não conheço.

– Bem, o atum é um peixe do Mediterrâneo, e eu recebi uma carta da minha prima, que mora em Cádiz, em que ela diz que faz um sanduíche excelente de atum com um pouco de creme azedo. Mas eu não consumo animais, então fiz minha própria versão. Em vez de atum, é “atumoide”. O segredo é a salmoura. – Ele apontou para a outra metade do prato. – E esta é minha especialidade de sempre, “vegesunto”. É o favorito de todos.

– “Vegesunto”?

– É como presunto, só que feito de vegetais cozidos juntos num bolo, que depois é fatiado fino. Já me disseram que o gosto é melhor do que do verdadeiro.

Jimin cruzou o olhar com o dele. Não o magoe. Não. Ou nunca irei perdoar você.

– Lorde Seokjin, eles parecem deliciosos – Jungkook disse, gentil, e por um momento até Jimin acreditou nele. – Obrigado, vou pegar dois de cada.

No fim, ele comeu três de cada e pediu as receitas para Seokjin. Depois, Jungkook elogiou os bolinhos de Taehyung e o escutou descrever seu último interesse: os desafios de engenharia para se cavar um túnel por baixo do Tâmisa. Até mesmo o porco-espinho se abriu na mão dele, oferecendo-lhe a barriga macia para um carinho. Ele não cometeu nem um único ato de comportamento imperdoável.
Com a exceção, talvez, de ser imperdoavelmente maravilhoso. Quando eles se abraçaram na hora da despedida, Seokjin sussurrou uma pergunta provocadora no ouvido de Jimin.

– Então? Qual a sensação de estar se apaixonando?

Desespero, foi a resposta em que Jimin pensou. E a sensação era mesmo de desespero.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora