CAPÍTULO 9

104 32 3
                                    

Jimin acordou no escuro. Desorientação envolvia seu cérebro como uma neblina. Ele sentou na cama e sacudiu a cabeça, tentando clareá-la. Seu coração batia forte. O suor grudava-lhe o pijama no peito. O pior de tudo era que seu estômago se apertava e ondulava. Como se o ômega estivesse no mar. Um pavor cresceu dentro dele, transformando-se rapidamente – graças às alquimias menos úteis da natureza – em pânico. Ele tateou ás cegas, sem encontrar nada familiar.

Suas mãos agarraram lençóis da flanela mais macia. Com certeza não era dele. Seus pés encontraram um chão sólido, mas quando se levantou, as tábuas não rangeram sob seu peso. Então seu joelho colidiu com uma cômoda. Ai! A dor deu uma sacudida em seus pensamentos acelerados. Acalme-se, Jimin. Ele levou uma mão à barriga e mentalmente repassou por todas as camadas imóveis sob seus pés. Chão de madeira. Alicerces de pedra.

Ruas londrinas de paralelepípedos. A mesma terra granulosa e úmida que os romanos amassaram com suas sandálias, e o Atlas rochoso sustentando a cidade em seus ombros. Pronto. Você está bem, seu tonto. Jimin não estava perdido no mar. Ele estava na residência Jeon. E era um babá. Um babá sem qualificações, mal preparado e até então mal-sucedido. Mas um babá, apesar de tudo. Quando engoliu em seco, sua língua raspou no céu da boca. Ele era também um babá com sede.

A essa altura os olhos de Jimin tinham se ajustado à escuridão. Ele foi até o lavatório e levantou a jarra de água. Estava leve, sem som de água. Vazia. Droga. Amanhã ele iria se lembrar de deixar um copo de água sobre a mesa de cabeceira, mas isso não o ajudaria agora. Ele pensou em chamar uma criada, mas detestava incomodar a criadagem. Apertou os olhos para seu relógio compacto de viagem no lavatório. Já eram cinco da manhã. Jimin podia esperar mais uma hora até o sol nascer, não podia?

Sua garganta ressecada se opôs à ideia. Não, não podia. Para a maioria das pessoas, a sensação de sede era apenas uma inconveniência. Mas a maioria das pessoas não conhecia a tortura que era ficar sem água por vários dias seguidos. Jimin enfiou os pés nas pantufas gastas e saiu de seu quarto, atravessou o corredor e desceu a escada com passos silenciosos.

Ser de estatura pequena tinha poucos benefícios e a discrição era um deles. Na cozinha, encontrou uma chaleira sobre o fogão que continha um pouco de água fria. Ele tomou um copo, depois outro e ainda um terceiro. Depois de saciar a sede, se virou para fazer o caminho de volta a seu quarto.

Blam. Blam.

Ele olhou para a porta fechada do retiro privado do senhor Jeon.

Blam. Blam. Blam.

O som abafado e rítmico cessou, mas logo recomeçou, e apesar de seu receio, Jimin encostou a orelha na porta. Agora o som abafado parecia algo batendo, como se acertasse a parede uma vez após a outra. Não eram só batidas, mas também grunhidos intermitentes. Ele não devia ficar escutando aquilo, mas Jimin não conseguia desgrudar a orelha da porta. A fascinação sórdida era irresistível. Tudo ficou em silêncio de novo. Ele apertou a orelha com mais força na porta e segurou a respiração, eliminando assim o som incômodo de sua inspiração.

Então: Bangue-bangue-bangue. Cabrum. E um som profundo, cortante, parte grunhido, parte grito bárbaro. Ele cobriu a boca com a mão. Tão absorvido que estava em sua luta para não rir, Jimin não notou os passos pesados até estarem do outro lado da porta. A maçaneta virou. Não havia tempo para fugir. A porta foi aberta. Ele saltou para trás, cobrindo os olhos com as duas mãos.

– Eu não vi nada.

[...]

– Eu juro – o ômega disse. – Não vi nada.

Jungkook encarou o babá. Jimin estava parado ali com uma venda de dedos sobre os olhos, vestindo um pijama simples. As sombras delineavam os contornos do corpo debaixo do pijama.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora