CAPÍTULO 24

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Uma semana em Hertfordshire era tiro e queda para extinguir até o mais leve desejo erótico ou quaisquer devaneios românticos. Pelo menos Jungkook esperava que o lugar tivesse esse efeito nele. Era evidente que os moradores locais tinham continuado a casar e procriar, mas não residiam na propriedade Belvoir.

Eles não passavam os dias tentando extrair informações a respeito do esterco das ovelhas ou da rotação de lavouras de um administrador de terras cético que cuidava da fazenda há mais tempo do que Jungkook existia.

Eles não precisavam passar suas noites ruminando numa mansão cavernosa, quase vazia, seguidos pelos olhos de ancestrais decepcionados em seus retratos emoldurados. E eles não precisavam passar uma hora tensa sentados ao lado de um idoso desolado que tinha perdido a capacidade de falar e se mexer, mas que manteve a habilidade de encarar Jungkook com um olhar azul-aquoso que gritava, mesmo sem palavras:

Isso é culpa sua.

O pasto negligenciado, o silêncio vazio, o tio entrevado e a falta de um herdeiro. Isso é culpa sua. Então, não. Ele não deveria estar pensando em Jimin ou nas garotas. Droga. Seu plano tinha falhado miseravelmente. Durante toda a maldita semana ele lutou contra a tentação de ir embora. Era como se a Casa Jeon prendesse a extremidade de uma corda, e ele tivesse passado a semana puxando a outra ponta, usando cada músculo que possuía para resistir.

Tudo que conseguiu pelo esforço foram dores. A cada noite ele adormecia desejando que Jimin estivesse aconchegado ao seu lado. A cada manhã ele acordava imaginando do que Millicent tinha morrido naquele dia. Durante sua cavalgada de volta a Londres, ficou pior. Uma nuvem de chuva se abriu bem em cima dele, lavando o estrume de ovelha e a poeira de suas costas, deixando-o tremendo, com frio, desesperado para estar em casa. E por casa seu coração entendia estar com eles.

Quando finalmente chegou, Jimin correu ao seu encontro de braços estendidos.

Deus. Ele quase caiu de joelhos. A viagem o tinha deixado cansado, imundo, e despojado de seu objetivo de ser respeitoso. Se Jimin o abraçasse, ele não saberia de onde tirar forças para resistir. Ele se apoiou no corrimão da escada. Em vez de abraçá-lo, contudo, Jimin rodeou-o, enfiando as mãos no fundo de seus bolsos com movimentos autoritários. As mãos do ômega estavam cheias de pequenos mistérios arredondados, e o ômega os enfiou em todos os lugares possíveis, atingindo-o nas costelas e no peito.

– Doces para as meninas – Jimin explicou, vendo a expressão estupefata de Jungkook.

– Assim você não volta de mãos abanando.

Jungkook só conseguiu ficar olhando para ele.

– Você podia ter me avisado que ia viajar – o ômega o repreendeu. – Devia, no mínimo, ter avisado as meninas. Não foi fácil acalmá-las. Mas eu disse que deviam esperar que você se ausentasse de vez em quando. Afinal, é herdeiro de um duque, um alfa importante com deveres e tudo o mais. – Depois de colocar os doces em seus bolsos, Jimin recuou e alisou as lapelas do paletó de Jungkook. – Ensinei uma música para elas, enquanto você esteve fora. É uma canção do mar, mas deixei de fora as partes indecentes. Elas querem muito cantar para você.

– Não quero ouvir.

– Quem sabe amanhã, então.

– Não. Amanhã também não. Nem depois de amanhã. Não vou aplaudir as músicas delas nem encher os bolsos de doces e presentes.

– É só uma canção e alguns doces.

– Você sabe muito bem que é mais do que isso.

Uma raiva irracional se inflamou no peito de Jungkook. Ele tinha se exilado por uma semana para romper esses laços, apenas para voltar e descobrir que Jimin o tinha sabotado enquanto isso. Como Jimin ousava fazer Haneul e Ae-cha acreditarem que os três podiam constituir uma família? Se fosse necessário que ele as magoasse, era melhor agora e não mais tarde. A última coisa de que precisava era que Jimin desse esperanças a elas. Ou a ele.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora