CAPÍTULO 34

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– O lado esquerdo precisa ficar mais alto – Ae-cha disse.

Jungkook largou o martelo e recuou um passo. Droga, ela tinha razão. A prateleira ainda não parecia reta. Ele pegou uma chave e abriu uma gaveta trancada onde guardava suas ferramentas – pelo menos algumas coisas precisavam ficar fora do alcance de Haneul –, mas em vez de uma régua, sua mão tocou algo que rangeu debaixo de seus dedos. Um pacote pequeno, plano, embrulhado em tecido marfim e amarrado com uma fita lavanda.

Ele tinha se esquecido por completo.
Jungkook não pôde deixar de rir com a ironia. Esse devia ter sido um presente surpresa para Jimin, mas acabou sendo um presente para si mesmo. Um presente que tinha se dado semanas antes, sem nem perceber. Uma desculpa para procurá-lo.

Finalmente.

– Quanto tempo vai demorar? – Haneul estava empoleirada na escada, segurando uma das pontas da prateleira. – Meus braços estão ficando cansados.

– Fique feliz que seus braços não estão quebrados – Ae-cha disse, irônica. –
Levante um pouco. Seu lado está escorregando. – A garota estava gostando um pouco demais de seu papel de supervisora.

– Você pode largar a prateleira – Jungkook disse. – Eu vou sair.

– Sair para onde? – Haneul perguntou.

– Vou falar com o senhor Park.

– Finalmente.

– A gente pode ir junto? – Ae-cha perguntou.

– Dessa vez não, querida.

Jungkook precisava fazer isso sozinho, e tinha que ser hoje, antes que ele, de algum modo, se convencesse a não ir. O presente não era grande coisa. Nem perto do que Jimin merecia. Mas Jungkook queria que Jimin ficasse com aquilo, ainda que o ômega se recusasse a ficar com ele. Com um pouco de sorte e muitos pedidos de desculpas, seria esperar demais que Jimin aceitasse ele e o presente? Talvez, mas ele precisava tentar.

Ele se dirigiu ao hall de entrada, onde Jong-suk estava vestindo seu chapéu.

– Vamos ter que adiar nossa reunião no banco. Vou falar com Jimin.

Jong-suk recolocou o chapéu no gancho.

– Finalmente.

– Ele não vai querer me ver. – Jungkook colocou, apressado, o casaco. – Como posso convencê-lo a me ouvir? O que eu digo?

– É você que tem a língua de prata. Não sei o que quer que eu diga.

– Tem razão. Não sei por que estou pedindo conselhos a um alfa que pediu a ômega em casamento dentro de uma loja de miudezas.

– Pelo menos o meu pedido foi aceito.

– Isso foi cruel, irmão.

– Mas é verdade.

Jungkook endireitou as lapelas do casaco. Se tivesse reunido algum poder de persuasão durante a vida, esse seria o dia para usá-lo.

– Cristo, é inútil. Eu o tratei tão mal. Você não faz ideia.

– Então, você cometeu um erro. – O irmão deu de ombros.

– Um erro?

– Muito bem, vários erros.

– Que tal dezenas?

– Não importa o número – Jong-suk disse. – Se você o ama…

– Como assim, “se”? Você sabia antes de mim que eu o amava.

– Se você o ama – Jong-suk repetiu, impaciente –, pode ser que Jimin o perdoe. Pense em quantos defeitos eu ignoro todos os dias.

– Você não ignora meus defeitos. Você gosta deles, pois fazem com que se sinta superior. Você gosta tanto dos seus princípios elevados.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora