CAPÍTULO 7

90 28 1
                                    


Seduzir você nunca passaria pela minha cabeça.

Que lembrete perfeitamente oportuno. Sério, o alfa tinha uma capacidade de murchar a autoestima de Jimin até transformá-la em uma uva-passa. Num momento ele o escutava tagarelar sobre cometas, prestando atenção em suas palavras e elogiando o lóbulo de sua orelha. No momento seguinte, ele ia embora deixando-o com algumas palavras para lembrá-lo que era um tolo. Bordado não era um de seus passatempos favoritos, mas Jimin planejava bordar aquelas palavras num pano e pendurá-lo sobre a cabeceira de sua cama:

Seduzir você nunca passaria pela minha cabeça. – Sr. Jeon Jungkook, 1817.

Jimin não duvidava mais da popularidade dele com os ômegas. Um charme diabólico simplesmente irradiava dele, como uma das forças essenciais da natureza. Gravidade, magnetismo, eletricidade… e o encanto viril de Jeon Jungkook. Seus sorrisos enviesados, as palavras provocadoras e graves faziam com que um arrepio de empolgação deslizasse pela pele dele.

Se fosse apenas isso, não seria um problema. Mas então o cérebro de Jimin pegava todas essas sensações e enrolava-as numa bola que guardava em uma prateleira. Como se essa massa trêmula de reações fosse algo que merecesse ocupar espaço. Como se precisasse de um nome. Bem, Jimin tinha um nome para ele nesse momento.

I-D-I-O-T-I-C-E.

Ele ouviu o ranger de uma porta na rua e cedeu à tentação de olhar pela janela. Ali estava o senhor Jeon, esperando na calçada com seu imaculado casaco preto feito sob medida. Ele puxou os punhos da camisa e passou uma mão pelo cabelo castanho. Uma parelha de cavalos baios veio do estábulo puxando uma elegante carruagem pintada de azul, e o cavalariço lhe entregou as rédeas. E lá foi ele passar a noite apreciando a companhia de outras pessoas. E ali ficou Jimin, sonhando com ele como um tolo.

O ômega se preparou para dormir e apagou a vela. E então ficou acordado tempo demais esperando pelo som de uma carruagem voltando para casa, ou pelo rangido de uma porta. Não que fosse da conta dele a hora que Jungkook voltaria para casa, ou se voltaria. Ele deve ter caído no sono em algum momento, porque acordou com a sensação de alguém estar cutucando seu braço. Insistentemente.

Jimin entreabriu os olhos.

– Haneul? É você?

– Ela está morta.

Então Jimin acordou. Ele sentou na cama com um pulo.

– Morta?

– Millicent. A tuberculose a levou durante a noite.

A boneca. Ela falava da boneca.

– Você me assustou. – Jimin levou a mão ao peito. Talvez seu coração voltasse ao ritmo normal dentro de um ou dois dias.

– O funeral está preparado. Esperamos por você no nosso quarto.

Funeral?

Haneul se foi antes que Jimin pudesse fazer mais perguntas. Ele levantou da cama e se vestiu com pressa. Dadas sua desorientação no quarto novo e a forma abrupta como foi acordado, não se saiu muito bem. Depois de duas tentativas, Jimin decidiu que poderia sobreviver com botões desalinhados naquele momento e que três passadas de escova no cabelo teriam que ser suficientes. Segurando ainda a escova, ele saiu para o corredor, penteando o cabelo enquanto andava.

Jimin esperava que o código de vestimenta nesse funeral não fosse formal demais. Ele tinha acabado de dar a últimas escovada apressada quando entrou no quarto das meninas.

Millicent jazia no centro da cama, com seu olhar inexpressivo sob a mortalha. As garotas estavam uma de cada lado. Ae-cha usava um retalho de renda preta como véu sobre a cabeça. Jimin precisou fazer muita força para não soltar uma gargalhada. Se não por qualquer outra razão, porque fazer isso poderia lançar como projétil a escova de cabelos que estranhamente remanescia em sua boca. Ele terminou o penteado com algumas passadas de mãos nos fios, ficou sério e se aproximou da cama.

A CONVENIÊNCIA DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora