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Alguns dias depois...

As palavras "noiva" e "Fred" soavam estranhas em meus pensamentos, como se fossem parte de um conto de fadas distorcido, uma realidade paralela que se mesclava com o meu mundo real. A incredulidade pairava sobre mim como uma névoa, obscurecendo a compreensão do que estava acontecendo.

Luana observava o vestido vermelho pendurado no armário, um símbolo da farsa que se desenrolava diante de seus olhos. A noiva que ela via no reflexo não era ela mesma, mas uma personagem envolta em mentiras e conveniências. O noivado com Fred, um acordo frio e calculista, pesava em seu coração como uma pedra.

Em sua mente, Luana repetia como um mantra: "Isso não é real. Isso logo vai acabar. Eu vou voltar para minha vida normal." As palavras eram um escudo contra a dor, um refúgio em meio à tempestade.

As palavras ecoaram no quarto silencioso, testemunhando a dor e a confusão que consumiam seu coração. As lembranças da vida que ela levava antes da farsa a assombravam: sua liberdade, seus sonhos, seu verdadeiro amor. Tudo isso parecia distante, quase irreal, como um sonho que se esvai ao acordar.

As lágrimas brotaram em seus olhos, deslizando pelo seu rosto como um rio de tristeza. Ela as enxugou rapidamente, com medo de que a fraqueza a dominasse. Ela precisava ser forte, pelo menos até que a farsa chegasse ao fim.

Fred, alheio à tormenta interior de Luana, entrou no quarto com um sorriso arrogante no rosto. "Está linda", ele disse, seus olhos percorrendo o corpo dela de maneira possessiva.

Luana se conteve para não retrucar. A raiva e a repulsa que ela sentia por ele cresciam a cada minuto. Ele era a personificação da mentira, da traição, de tudo que ela odiava.

"Obrigada", ela disse com a voz gélida, o olhar fixo em um ponto distante.

Fred se aproximou, estendendo a mão para ela. "Vamos?", ele perguntou, com a voz autoritária.

Luana hesitou por um instante, ponderando se deveria recusar. Mas, no fim, cedeu à pressão. Ela não podia criar um escândalo naquele momento, não quando a farsa estava prestes a se completar.

Luana apertava o vestido contra o peito, como se ele fosse um escudo contra a realidade que se aproximava. A cada minuto que passava, a cerimônia se tornava mais real, mais palpável, e o peso da farsa pesava cada vez mais sobre seus ombros.

Em sua mente, um turbilhão de pensamentos e emoções se chocava. A confusão reinava, tomando conta de seu ser. Fred, o homem que ela achava que odiava, agora despertava sentimentos que ela não conseguia compreender. Uma mistura de atração, repulsa, medo e desejo que a deixava perplexa e insegura.

A imagem do Fred arrogante e frio, o homem que a propôs um contrato de noivado por conveniência, se mesclava com a do Fred gentil e atencioso que ela havia conhecido nos últimos dias. Um homem que a escutava, que a compreendia, que a fazia se sentir especial.

Era como se existissem dois Fred dentro do mesmo corpo. Um que a manipulava e controlava, e outro que a intrigava e a fascinava. Luana não sabia qual dos dois era o real, qual era a máscara e qual era a verdade.

Seu coração batia acelerado, dividido entre o desejo de escapar e a vontade de ficar. Uma parte dela desejava correr para longe, se livrar da mentira e da pressão. A outra parte ansiava por desvendar o mistério de Fred, por descobrir o homem que se escondia por trás da máscara.

Naquele momento, Luana se deu conta de que não tinha controle sobre nada. A farsa a dominava, a engolia, a transformava em alguém que ela não reconhecia.

E enquanto as horas passavam inexoravelmente, ela só podia esperar que o fim do contrato chegasse logo. Que a verdade fosse revelada, que os sentimentos se acalmassem, que ela pudesse finalmente encontrar a paz e a felicidade que tanto buscava.

Mas, no fundo do seu coração, Luana sabia que nada seria mais como antes. A farsa havia mudado tudo, inclusive ela mesma. As marcas da mentira e da confusão jamais se apagariam completamente.

E agora, ela precisaria encontrar a força para lidar com as consequências de suas escolhas, para enfrentar os fantasmas do passado e para construir um futuro incerto, onde a verdade e a mentira se confundiam em um turbilhão de emoções.

O carro deslizava pela estrada em um silêncio sepulcral. Luana, envolta em seu vestido vermelho, fitava pela janela o panorama bucólico que se desenrolava diante de seus olhos, mas sua mente estava distante, perdida em um labirinto de pensamentos. Ao seu lado, Fred, impassível como sempre, tamborilava os dedos nervosamente no volante, seus olhos fixos na estrada, mas a mente igualmente tumultuada.

A viagem da casa de Luana até a casa dos pais de Fred, onde se realizaria a festa de noivado, era uma metáfora perfeita para a farsa que ambos viviam. Uma jornada vazia de palavras, de conexão, de emoção genuína.

Luana se debatia em um mar de dúvidas e incertezas. O homem que ela jurara odiar agora despertava em seu interior sentimentos que ela não ousava nomear. Atração? Repulsa? Fascinação? Medo? Uma mistura explosiva que a deixava perplexa e insegura.

Fred, por sua vez, era um enigma indecifrável. A máscara de arrogância e frieza que ele usava escondia um turbilhão de emoções que ele lutava para controlar. O contrato de noivado, que antes lhe parecia uma solução perfeita, agora se mostrava como uma teia de mentiras que o prendia a uma mulher que ele não conhecia realmente.

Cada quilômetro percorrido os aproximava da festa, do momento em que a farsa se tornaria pública, do instante em que suas vidas se entrelaçariam de forma irreversível.

No entanto, o silêncio no carro era eloquente. Nenhum dos dois ousava romper a barreira invisível que os separava, nenhum dos dois se atrevia a dar voz aos pensamentos que os atormentavam.

Eram como dois náufragos à deriva em um mar de incertezas, buscando em vão por um porto seguro, por um caminho de volta à terra firme.

A festa de noivado se aproximava, mas o futuro era um abismo negro e insondável. O que os esperava do outro lado da farsa? Felicidade? Desilusão? Liberdade? Amargura?

Somente o tempo, em sua crueldade implacável, teria a resposta.

O carro finalmente parou em frente à casa, um suspiro de alívio escapando dos lábios de Luana. A viagem, que se arrastara como uma eternidade, havia sido marcada por um silêncio ensurdecedor, um reflexo da confusão e da incerteza que consumiam seus corações.

Fred, com um gesto gentil, conduziu Luana para o interior da casa, onde ela se prepararia para a festa de noivado. A cada passo, a sensação de aprisionamento aumentava, a realidade da farsa pesando sobre seus ombros como um manto de chumbo.

Enquanto Luana se dirigia ao quarto para se arrumar, Fred partiu em busca de sua mãe, ansioso para verificar se tudo estava pronto para a encenação que se desenrolaria diante de seus familiares e amigos.

Naquele momento, ambos se sentiam como marionetes em um teatro de fantoches, manipulados por fios invisíveis, obrigados a representar papeis que não lhes pertenciam. A alegria e a celebração que a ocasião deveria despertar eram apenas uma fachada, uma máscara para esconder a dor e a frustração que corroíam suas almas.

Luana, diante do espelho, observava o vestido que adornava seu corpo. A imagem que via refletida era a de uma estranha, uma mulher que não reconhecia, envolta em uma mentira que a consumia por dentro.

Fred, por sua vez, ao encontrar sua mãe, encontrou também um turbilhão de preocupações. A festa, que deveria ser um momento de júbilo, se transformava em um campo minado de expectativas e julgamentos.

A cada minuto que passava, a farsa se aproximava do seu ápice. A máscara da felicidade se tornava cada vez mais frágil, prestes a se despedaçar e revelar a verdade nua e crua.

O que os aguardava do outro lado da encenação? Liberdade? Condenação? Aceitação? Repúdio?

Somente o tempo, em sua implacável marcha, teria a resposta.


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