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Os olhos de Fred se arregalaram ao entrar no salão. A visão que o aguardava era surreal, um cenário digno de um conto de fadas, completamente destoante da simplicidade que ele havia pedido. A grandiosidade da festa era um tapa na cara da farsa que ele vivia, um lembrete cruel da mentira que se desenrolava diante de seus olhos.

"Mamãe, eu não acredito no que estou vendo", ele disse, a voz carregada de espanto e frustração. "Eu falei que era uma coisa simples, apenas para eu fazer o pedido, e você fez isso tudo."

Sua mãe, com um sorriso radiante no rosto, se aproximou dele e o abraçou com força. "Filho, você acha que eu ia perder a oportunidade de fazer o que eu sei de melhor, que é dar uma festa?", ela disse, com um tom de alegria contagiante. "Mesmo sabendo que é uma farsa, eu não perderia a chance meu filho."

Fred se soltou do abraço, seus olhos percorrendo o salão impecavelmente decorado, as mesas repletas de comida deliciosa, a pista de dança convidativa. Tudo era perfeito, exceto pela mentira que pairava no ar como uma nuvem negra, ameaçando a qualquer momento desabar sobre a felicidade artificial que se pretendia criar.

"Mas mãe, isso tudo é desnecessário", ele insistiu, a frustração crescendo em seu interior. "É apenas um pedido de noivado, não precisa ser um evento tão grandioso."

Sua mãe o encarou com firmeza, seus olhos transmitindo uma sabedoria que ele nem sempre reconhecia. "Filho, a vida é feita de momentos, e este é um momento importante para você e para Luana", ela disse, com a voz suave e serena. "E eu quero que este seja um momento que vocês jamais esqueçam, mesmo que..."

Ela hesitou por um instante, buscando as palavras certas para se expressar. "Mesmo que as coisas não sejam como você planejou", ela finalizou, com um olhar compreensivo.

Fred ficou em silêncio por alguns instantes, ponderando as palavras de sua mãe. Havia verdade no que ela dizia. A vida era curta e, mesmo que a situação fosse uma farsa, ele não queria perder a oportunidade de celebrar um momento importante com as pessoas que amava.

"Ok, mãe", ele disse, finalmente se rendendo à exuberância da festa. "Vamos aproveitar."

A mãe de Fred observava o filho com uma mistura de preocupação e decepção em seus olhos. A festa de noivado, que deveria ser um momento de alegria e celebração, se transformava em um palco de tensões e ressentimentos.

"Agora, mesmo que não seja real esse noivado, vai contar para seu pai", ela disse, com a voz firme, mas carregada de emoção. "Ele está em casa. Aproveita que os convidados ainda não chegaram."

Fred revirou os olhos, a frustração estampada em seu rosto. "Agora eu tenho que comunicar ao meu pai o que faço da minha vida?", ele retrucou, com um tom de sarcasmo na voz. "Ele não está nem aí mesmo."

Um aperto no coração da mãe de Fred se intensificou. A relação entre pai e filho era complexa, marcada por distanciamento e falta de comunicação. A farsa do noivado apenas servia para aprofundar o abismo entre eles.

"Mas eu vou lá falar com ele", Fred completou, com um tom de resignação na voz. "Não quero que ele fique sabendo por outras pessoas."

A mãe assentiu, um fio de esperança se acendendo em seu interior.

"Espero que vocês consigam ter uma conversa franca e honesta", ela disse, com a voz suave. "É importante que vocês se entendam, mesmo que não concordem com as decisões um do outro."

Fred se afastou, caminhando em direção ao escritório do pai. A tensão pairava no ar, um peso que todos os presentes sentiam, mas que ninguém ousava nomear.

O que se passaria na conversa entre pai e filho? Seria possível um diálogo aberto e sincero? Haveria chance de reconciliação?

Fred bateu na porta do escritório, que estava entreaberta. Uma voz rouca e impaciente soou do outro lado: "Entre". Ao entrar, Fred se deparou com a figura rígida e distante de seu pai, que o encarou com frieza.

"O que você quer, Fred?", ele perguntou, a voz carregada de desdém. "Veio me falar que voltou com a Karine? Porque se não for isso, nem precisa começar."

Fred, com o coração batendo forte no peito, conteve a frustração que crescia dentro de si. "Não, pai", ele disse, com a voz firme. "Eu vim te avisar que vou ficar noivo."

O rosto do pai se contorceu em uma expressão de desgosto. "Não quero nem saber o nome dessa garota", ele rosnou. "Não quero que me apresente, não quero ter nada a ver com isso. Espero que você e essa tal se mantenham bem longe de mim. Agora me deixe sozinho, se já terminou."

Fred, tomado pela raiva e pela mágoa, saiu do escritório batendo a porta com força. A grosseria de seu pai o feriu profundamente, confirmando a distância que sempre os separou.

Ao longo dos anos, a relação entre pai e filho nunca havia sido fácil. Marcada por desentendimentos e falta de comunicação, a situação se deteriorou ainda mais após o fim do namoro de Fred com Karine, a única pessoa que parecia unir os dois.

Fred, com o coração dilacerado pela conversa com o pai, ansiava por esquecer a amargura daquele momento. A farsa que vivia com Luana se tornava cada vez mais pesada, um fardo que o oprimia e o impedia de sentir qualquer alegria.

Em meio à angústia, uma réstia de esperança se acendia em seu interior: a possibilidade de ver Karine na recepção do noivado. A curiosidade o consumia, a vontade de observar sua reação diante da farsa era incontrolável.

Ele imaginava a cena em sua mente: Karine, com seus olhos radiantes, fitando-o com surpresa e, quem sabe, até mesmo com dor. A ideia o perturbava e o fascinava ao mesmo tempo.

Fred se perguntava como ela reagiria. Sentiria raiva, decepção, indiferença? Ou talvez, no fundo do seu coração, ainda nutrisse algum sentimento por ele?

A incerteza o atormentava, mas também o impulsionava. A recepção do noivado se transformava em um palco, onde ele e Karine interpretariam seus papéis na farsa da vida, sob os olhares atentos dos convidados.

Ele ansiava por vê-la, por sentir a energia que emanava dela, por decifrar os enigmas que seus olhos escondiam. A farsa, por um momento, se tornava secundária, dando lugar à esperança de um reencontro inesperado, carregado de emoções e incertezas.


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