44 - Kriptonita

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Soltei um longo suspiro na frente da porta, rodando os ombros.

Ok. Bora. Sai da adega, corre pro banheiro, lava o rosto. Rápido.

Mas não tão rápido-- se não vai chamar atenção.

Caminhe, de boa.

Cobrindo o rosto?

É, vai dar certo.

Pousei a mão na maçaneta de ferro, fria e áspera. Foquei na música lá fora, torcendo que o barulho e o falatório disfarçassem o ranger das dobradiças da porta pesada.

Ainda é final de tarde... Não deve ter muitos clientes.

Ele vai me pagar por isso.

Mas o pensamento de vingança não durou muito. Quando eu olhei para trás por cima dos ombros, Jake ainda estava de olho em mim, me estudando. E a expressão dele— O sorriso discreto, os olhos curiosos — fez borboletas se debaterem no meu estômago.

Ele ainda não sabe se eu vou mesmo atravessar o bar assim. Ele deve estar pensando "Ela vai mesmo fazer isso? Não vai me pedir ajuda de novo?"

Voltei a me virar para a porta, mordendo o lábio.

Puxei a maçaneta e pisei no bar.

A cabeça baixa, olhos fixos no chão. As duas mãos na frente do rosto, mexendo nervosamente no cabelo.

O bar estava dourado, quase vermelho pela luz do crepúsculo atravessando as janelas largas de vidro, e andando para o banheiro, vi um ou outro pé saindo do meu caminho, mas em nenhum momento levantei a cabeça ou parei pra tentar distinguir as conversas.

Entrei na primeira porta à esquerda, fui direto para última pia no canto, mantendo as mãos na frente no rosto, pressionando as têmporas como se tivesse dor de cabeça. Meu rosto queimava e eu balançava a cabeça, me repreendendo, sabendo que eu ia me arrepender de tudo aquilo mais tarde.

Deixei a água fria da torneira correr pelas minhas mãos e depois pelo rosto, amassando o dispenser de sabonete e espalhando pela pele como se a minha vida dependesse disso.

— Mc?

Meus ombros se contraíram de susto, mas não olhei na direção da voz, pelo contrário, me inclinei mais ainda na pia e para a parede.

— Phil?

Ouvi os passos se aproximando rápido e a sombra dele me cobriu.

— Porque tá escondendo o rosto?

— Não tô escondendo, só lavando. — Minha voz saiu esganiçada e alta demais enquanto arrancava pedaços de papel do dispenser de metal.

— Deixa eu ver.

Não tive chance de secar o rosto. Senti aquele toque abusado e intrometido, me virando pelo ombro e segurando a minha mandíbula como se esperasse achar um olho roxo. Olhei para o teto, me recusando a olhar aquele rosto. Sempre perto demais.

— Me larga, faz favor? — Eu disse, mas não tive reação.

— Seus olhos tão vermelhos. Vocês não estavam fazendo as pazes? Porque parece que você tava chorando?

— Não é de choro. — Levantei as sobrancelhas.

Ele girou o meu rosto devagar, e senti uma gota de água deslizando pelo pescoço. Depois, com a outra mão ele afastou meu cabelo e cutucou onde Jake havia mordido mais cedo.

— Olhos vermelhos, subindo correndo para lavar o rosto. Entendi tudo.

Ele nem tentou segurar- nem por educação- e começou a rir mesmo, apoiando uma mão na parede e se curvando pra frente, a risada sonora e fácil.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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