Capítulo 26

167 21 15
                                    

Maraisa entrou em casa ventando. Jogou a bolsa no sofá e correu pra cama. Abafou o choro com o travesseiro. Não sabia definir exatamente o que a entristecia mais, se era a decepção que Fernando a fez sentir, se era raiva pela exposição excessiva e forçada ou se era o ódio de Larissa ter se intrometido na vida dela ao ponto de fazer fofoca pra chefe sobre uma desconfiança dela.


Era sua melhor amiga. Jamais a perdoaria. Era desanimador estar rodeada de traíras em seu local de trabalho. Mas decidiu que nada, nunca, a faria desistir do sonho de ser uma jornalista renomada. Torceu fortemente pra conquistar o cargo. Precisava dele pra ter sua autoestima reerguida.

Fechou os olhos, respirou fundo e tentou se acalmar. Estava exausta, fisicamente e emocionalmente. Tomou um banho quente e foi direto pra cama, sem comer. Estava sem fome e totalmente sem vontade de cozinhar quaisquer coisa. Mais calma, se deitou e tentou descansar.


Nada como um dia após o outro. Tinha fé que amanheceria melhor e mais bem disposta.


Apagou lentamente e caiu em um sono renovador.


***


O telefone despertou sete da manhã.


Maraisa esfregou os olhos. Mal acreditava que precisaria mesmo levantar da cama. Remexeu várias vezes. Abriu os olhos e olhou pro lado.

Lembrou-se dele. Quase conseguia visualizá-lo ao lado dela, com aquele corpo estonteante totalmente nu, gargalhando de alguma piadinha dela. Maraisa sacudiu a cabeça e tacou o travesseiro que ele sempre se deitava na cadeira decorativa, ao lado da cama dela. Aquelas visões seriam só o que restaria de Fernando na vida dela. Nada mais.

Ela se arrumou, como sempre. Não caprichou nem negligenciou sua produção. Queria agir com a maior naturalidade possível. Criaria uma carcaça implacável, na qual as pessoas olhassem e não notassem nenhum comportamento atípico. 

Vestiu um vestido cinza escuro, meio chumbo. Soltou os cabelos, passou uma maquiagem leve e calçou sapatos de salto alto. Se olhou no espelho como sempre fazia. Estava um pouco abatida, mas continuava linda e deslumbrante. Suas pernas e quadril ficaram realçados com o vestido justo, mas nada vulgar.

Estava sem apetite, fez um rápido café na cafeteira. Ao abrir o armário em busca de um copo, encontrou o copo do capuccino que Fernando levou pra ela naquela manhã, há dias atrás. Ela guardou o copo porque achou-o muito prático pra quando precisasse levar lanche para o trabalho. Mas naquele momento, sentiu tanta raiva que o atirou na lixeira. Deu uma golada certeira no café, pegou sua bolsa e desceu.

Entrou na redação. Não quis olhar para os lados. Disse um "bom dia" coletivo. Notou que Fernando não estava na mesa dele. Ficou curiosa, mas não faria nada pra descobrir o paradeiro dele. 

Não demorou muitos minutos até que ele apontasse no corredor, vindo da cozinha com uma xícara de café mão. Cruzaram seus olhares. Ele estava abatido, sereno e com os olhos tristonhos. Maraisa desviou o olhar pra tela de seu computador. Fernando continuou andando, sentando em sua mesa. 

De costas pra ele, Maraisa fechou os olhos. Aguentaria firme sem fraquejar. Não podia deixar a presença dele desestruturá-la. Não mais. Respirou fundo e prosseguiu com o que estava fazendo. Não viu Larissa por lá, ao longo do dia ouviu alguém dizer que ela estava trabalhando em uma entrevista. E ela agradeceu mentalmente. 

"Um dia de cada vez, Maraisa. Um dia de cada vez..."

***

E mais um dia se passou. A rotina não mudou muito. Maraisa desceu pra almoçar sozinha. Torceu pra que ninguém a incomodasse. Valorizava absurdamente seus momentos consigo mesma para pensar na sua vida. E naquele dia, precisava disso mais que tudo. Retornou do intervalo. Pegou seu celular pra conferir se não tinha nenhuma chamada perdida. Viu no visor uma mensagem que a fez estremecer, sentindo um frio imenso no estômago.

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora