Capítulo 9

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O dia amanheceu cinzento em Petrópolis. Não estava frio, mas não tinha clima para um banho de piscina, por exemplo.

Maraisa acordou toda torta na cama. Despertou com a claridade batendo em seus olhos. Levantou-se faminta. Parecia que tinha dormido uma semana consecutiva. Escovou os dentes e desceu procurando não fazer muito alarde. Agradeceu por Fernando não ter acordado ainda, não estava em um bom dia para ouvir piadinhas dele.

Viu que a mesa de café já estava posta e se perguntou que horas eram. Pegou um prato raso, encheu de rosquinhas e geleia, serviu-se de uma xícara de café forte e subiu para comer no quarto. Assistindo ao noticiário matutino, devorou sua refeição.

Tomou um banho frio, vestiu uma calça cinza bem larga, ideal para a rotina que ela gostaria de ter naquele dia. Trabalharia duro o dia todo, assim, a chance de terminar logo e visar a possibilidade de ir embora daquela tortura antes do prazo seria maior.

Não estava afim de sair para passear no jardim, só para não ter que olhar para a cara de Fernando. Acomodou-se confortavelmente recostada sobre dois travesseiros fofos e deu sequência ao seu trabalho.

Fernando acordou quase na hora do almoço.

Acabou com todo o seu sono que estava atrasado e decidiu trabalhar o dia todo também, comeu rapidamente e se instalou na mesa de escritório de seu quarto, ficaram ali os dois, concentrados em seus artigos, tentando driblar a necessidade pessoal de conseguir o cargo, mas ao mesmo tempo, receosos de que o oponente conseguisse produzir mais e melhor.

Estipularam o cargo como meta de vida. Os dois queriam com a mesma intensidade consegui-lo. E não mediriam esforços para isso.

Se passaram dois longos dias na casa da serra. Praticamente não se via movimentação de pessoas. Maraisa e Fernando propositalmente procuravam alternar horários de descerem para comer, até por uma questão de manterem o foco.

Já eram nove da noite do terceiro dia de maratona para os dois jornalistas. Fernando levantou-se da cama, não suportando mais ficar enfurnado dentro do quarto. Olhou pela janela e a noite estava ligeiramente quente.

Precisando tomar vento, apoiou os cotovelos no parapeito da janela e inclinou o corpo para frente, fechou os olhos e deixou que a brisa batesse em seu rosto.

Olhou para seu lado direito e viu a janela dela. Estava aberta e ele notou que a luz estava acessa. Ouviu um ruído baixinho que parecia uma música. Esticou o pescoço para o lado para tentar reconhecer qual era, mas não conseguiu. Ficou olhando alguns segundos para a janela e pensou em descer para tomar um vinho na varanda, mas não sem antes fazer algo.

Fernando se sentou novamente em seu computador. Abriu o e-mail e digitou rapidamente, sem refletir muito no que estava fazendo para não se arrepender.

Fernando M. diz: Já dormiu?

Clicou em enviar, recostou-se na cadeira e ficou esperando a resposta dela. Maraisa grifava alguns trechos de um livro que estava parafraseando  quando ouviu a janela de conversação pulando no canto direito do seu monitor. Respondeu por educação.

Maraisa diz: ?

Fernando olha a resposta dela e franze o cenho. "Que garota insuportável, será que ela não é capaz de dialogar como uma pessoa civilizada?", ele pensou.

Fernando M. diz: Você não sabe escrever não? Tipo, responder igual gente normal.

Ela bufou ao ler aquilo. Mas era só o que me faltava! Ridículo. Pensou e sentiu uma vontade quase incontrolável de digitar seu pensamento, mas só daria margem para que ele esticasse ainda mais o assunto.

Maraisa diz: Sei, eu não sei é perder tempo com gente que não me acrescenta. Terminou o seu artigo?

Fernando M. diz: Óbvio que não.

Maraisa diz: Então vai trabalhar ao invés de me torrar.

Fernando M. diz: Tô com dor nas costas de ficar sentado, eu estava pensando em descer para tomar um vinho, não quer vir?

Maraisa quase não acreditou no que leu.

Maraisa diz: Você só pode estar brincando.

Fernando M. diz: Sim ou não, você consegue responder?

Maraisa diz: Consigo. Não.

Fernando M. diz: Por que não? Analisa comigo, um bom vinho inspira, relaxa e renova. Eu vou voltar com todo gás pra retomar com o meu trabalho, enquanto você vai ficar aí toda acabada, nem conseguindo raciocinar mais. Concorda?

Maraisa diz: Até concordo que um vinho me faria bem, mas, a sua companhia me faz mal na mesma proporção, então prefiro ficar aqui sozinha com os meus pensamentos do que perto de você.

Fernando M. diz: E se eu prometer que não vou fazer gracinhas?

Maraisa diz: Eu não vou acreditar, mas, porque está fazendo tanta questão que eu vá? Que diferença isso faz?

Fernando M. diz: Porque eu já estou enlouquecendo de ficar sozinho, sem contato humano. É sério. Vamos, porra! Quando você cansar, você sobe pro seu quarto, é simples assim.

Ela pensou bem. Precisava mesmo espairecer um pouco e a noite parecia estar muito agradável olhando pela sua janela, mas não quis dar a ele o gostinho de responder que sim, simplesmente não respondeu mais, fechando a tela do notebook.

Fernando riu e sacudiu a cabeça. Presumiu que ela iria. Em algum momento, ela iria.

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora