Capítulo 36

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Maraisa retornou até sua poltrona e se sentou em silêncio ao lado de Fernando. Ele olhou pra ela de rabo de olho, mas permaneceu mudo também. Certos momentos dispensavam qualquer tipo de diálogo. A premiação terminou, com apenas mais uma entrega de troféu após Maraisa recebê-lo e fazer seu discurso.

Agradecimentos devidamente feitos, todos foram liberados para adentrar o salão onde aconteceria o coquetel. Ao subirem as escadas na saída do auditório, chegavam a uma porta dupla de madeira, que se encontrava aberta para facilitar o acesso. Maraisa vislumbrou o salão. Era maravilhoso. O piso de marfim, com imensos candelabros de cristal no centro. No palco, uma banda se apresentava muito animada. Tocavam Counting Stars, do One Republic. Maraisa se arrepiou com a letra da música. 

"(Lately, I've been losing sleep, dreaming about the things that we could be...

Ultimamente, tenho perdido o sono, sonhando com as coisas que poderíamos ter sido...)".

Olhou pra Fernando e notou que ele teve a mesma sensação de que aquilo se encaixava de forma assustadora. Eles se acomodaram em uma mesa pequena, no canto do salão. Fernando torceu secretamente para que ninguém se sentasse com eles. Queria ter a oportunidade de ficar sozinho com ela, nem que fosse por pouco tempo. O garçom passou, perguntando-os o que gostariam de beber. Fernando se encarregou de fazer os pedidos:

- Duas taças de lambrusco, por favor.

- Uma só. Pra mim uma água. - Maraisa disse ao garçom. O rapaz concordou com a cabeça e se afastou da mesa.

- Ué... O que foi? Não vai beber? -Fernando franziu o cenho.

- Não, hoje eu não estou afim. - ela disfarçou e ele acatou.

A noite vinha sendo agradabilíssima. Alguns casais dançavam no centro do salão. Maraisa e Fernando conversavam sobre a premiação, despretensiosamente. Eventualmente, Fernando aproveitava um momento de distração de Maraisa e fitava com desejo as coxas dela, que avançavam por fora da fenda. Era uma verdadeira tentação ficar ao lado dela. Tentação essa que ele adorava saborear.
Tudo corria bem, quando um garçom se aproximou com uma taça de champagne e um guardanapo de papel.

- Com licença, senhorita. - ele se virou pra Maraisa.

Ela olhou pra ele, surpresa pra saber do que se tratava. O rapaz colocou a taça na frente dela e o guardanapo, dobrado no meio. Fernando observava, mudo.

- Aquele senhor dedicou a você. - o garçom apontou um homem e saiu.

Maraisa olhou. Era André, o tal representante da premiação que foi até a redação convidá-la para comparecer. Ele acenou pra ela e sorriu, também com uma taça na mão. Fernando olhou também. Reconheceu imediatamente aquele sujeitinho que ficou se insinuando pra ela na porta do elevador da redação, dias atrás. Bufou em silêncio.

Maraisa abriu o guardanapo. Escrito de caneta, um recado de André:


"Para a mais linda e elegante, de todas as mulheres aqui presentes nessa noite...Cheers!"


Maraisa embolou o guardanapo e o jogou no chão, embaixo da mesa. Empurrou a taça de champagne pra frente, sem bebericar.

Não olhou novamente pra mesa de André, mas também não olhou pra Fernando. Ficou em silêncio, observando a pista de dança. Ignorou completamente o acontecido. Fernando leu disfarçadamente o bilhete, enquanto Maraisa estava com ele aberto nas mãos. Sentiu seu sangue fervendo e pulsando em suas veias. Fechou a mão, de ódio. Tomou um longo gole do vinho. "Esse filho da mãe não sabe o tamanho da encrenca que ele vai se meter, caso insista em ao menos ENCOSTAR nela!", ele pensou. Mas por outro lado, ficou aliviado por ela não ter correspondido as investidas dele. Tomou mais um gole, pra tentar resfriar a cabeça.

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora