Capítulo 18

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Uma semana e meia se passou. 

Sentado em sua cama, Fernando passava canais da TV aleatoriamente. Estava finalizando as considerações finais de seu artigo. Faltava apenas revisar e estaria finalmente pronto.

Esses últimos dias haviam sido os mais longos de que ele se lembrava de viver em toda a sua vida. Afundou-se em trabalho, praticamente não fez outra coisa. Descia para comer no horário de sempre, mas já sabia que não se encontraria com ela. Nem alimentou essa esperança dentro de si. 

Algumas vezes, caminhou no jardim. Lá de baixo, olhou para a janela dela. A luz estava acesa.

 Observou por vários minutos, mas ele não a viu. Sentia uma vontade esmagadora de Maraisa, não só dos beijos e do cheiro dela, como também de sua companhia e até de seu mau humor. Era como se ela fosse parte dele.

Conviveram por anos se encontrando diariamente, mesmo que antes não trocassem uma única palavra, a presença dela era constante no dia a dia dele. Por muitas vezes, chegou a digitar uma enorme mensagem no chat para enviar para ela. Apagou e digitou novamente várias vezes, mas não enviou.

Nervoso, fechou a tela do computador. Precisava cumprir com o acordo que ele mesmo propôs.
Devia isso a ela. Aquela uma semana e meia teve uma duração diferente no coração dele, mas escrever a história deles, incorporando-a em seu artigo, mesmo que não usasse os respectivos nomes deles, o aproximava dela de alguma forma. A trazia para perto. E o fazia acreditar que todo aquele esforço era em prol de um passo a mais que daria em benefício dos dois. 

Não sabia o que viveria com Maraisa, talvez durasse um mês ou uma vida inteira. Mas algo o dizia que era para insistir em experimentar tudo o que aquela história tinha para oferecer-lhe. E ele tinha certeza que não tinha acabado. Não ainda.

Maraisa não estava menos ansiosa. Já havia terminado seu trabalho, estava revisando-o e imediatamente entraria em contato com Fernando para avisá-lo disso. Estava em um misto de ansiedade e medo de falar com ele novamente. Não sabia o que se passava pela mente dele naquele momento. 

Reprimia absurdamente um medo violento de que ele não estivesse sentindo falta dela. A tentação de atravessar aquela porta e bater no quarto dele era avassaladora. Mas não o fez, apenas desejou.

Chorava às vezes no banho, quando se sentia sozinha, era abatida por uma necessidade absoluta de conversar com alguém. Mas a tristeza passava rápido, se conformava com a ideia de que era provisório, além de ser uma escolha que visava totalmente o seu trabalho.
Isso, de alguma forma, acalmava o coração dela. 

Eram cerca de onze e meia da noite.

Maraisa acabava de sair do banho. Não estava suportando olhar para o computador. Enrolada na toalha, abriu a mala e fuçou em busca de uma roupa confortável. Remexeu sua própria bagunça, procurando uma calcinha. Viu o vestido vermelho de renda que usou na noite do primeiro beijo dela e de Fernando e sentiu seu coração disparar. 

Esticou-o em sua frente, segurando-o pelos dois ombros. Olhou para ele por alguns segundos, lembrando-se de quantas lembranças ele representava. Fechou os olhos e quase pôde sentir sua barriga encostada na fivela do cinto de Fernando, roçando nele enquanto se beijavam. Aquela chuva gelada pingava em seu corpo, mas ela não sentia frio.

As mãos de Fernando não deixavam que ela sentisse. Maraisa se arrepiou com a recordação do cheiro dele. Abriu os olhos e jogou o vestido atrás da mala. Pegou uma calcinha e um macacão, curto e largo. Soltou os cabelos secos de um coque frouxo, se perfumou e decidiu ir até a janela. Ver a noite através de seu quarto era sempre um momento muito inspirador em seu dia.

Exatamente ao mesmo tempo, Fernando andava de um lado para o outro em seu aposento. Tinha medo de surtar sem contato humano. Nada o agradava na TV, não suportava mais trabalhar e não tinha sono. Decidiu fumar um cigarro. Era o que mais havia feito também nessas últimas semanas. Evitava fumar na janela, sabia que chamaria a atenção de Maraisa.

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora