Capítulo 30

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Deitado em sua cama, após sair de um banho quente e revigorante, Fernando pensava nela.

Mesmo com o cansaço e a cabeça quente, ainda podia senti-la encostada nele, como ela havia ficado naquele início de noite. Não conseguia descrever a sensação de sentir o cheiro dela tão perto dele novamente. Potencializou ainda mais a saudade. Sabia que ela tinha ficado mexida.

Ela não conseguia disfarçar, sua respiração a entregava SEMPRE. Olhando para o teto, Fernando pingava de sono mas não conseguia dormir. Pegou o celular no criado-mudo e olhou que horas eram. "Putz, uma e meia da manhã! Preciso dormir!". Mas antes, não resistiu em digitar uma mensagem. Apertou enviar, colocou o telefone novamente na mesa, fechou os olhos e dormiu, com a imagem de Maraisa em sua cabeça.


***


Sete em ponto da manhã. O despertador grita no ouvido de Maraisa. Por um motivo que nem ela sabia explicar, naquela noite ela dormiu abraçada ao travesseiro que Fernando sempre se deitava na cama dela. Maraisa esticou o braço, alcançou o celular plugado na tomada recarregando a bateria e desativou o despertador. Com os olhos embaçados, viu que havia uma mensagem, provavelmente enviada depois que ela já estava dormindo.

Que você tenha uma ótima noite de descanso, meu bem. Você está merecendo. Bj. Eu amo você.

Era do celular de Fernando. Maraisa esfregou os olhos, se certificando de que não estava ficando louca e nem sonâmbula. Quando ele a chamava de "meu bem", Maraisa se derretia. Não foi muito diferente naquele dia, apesar da pontada de mágoa que ela ainda sentia. E aquele "amo você" no final acabou de arrebatar o coração dela. 

Sentiu raiva porque Fernando fazê-la se sentir tão confusa, justo ela que era uma pessoa tão bem-resolvida e decidida quanto ao que ela queria. Talvez fosse por isso que ele mexia tão intensamente com ela. Porque ele fazia com que ela extravasasse todas as suas vontades reprimidas por sua mania de ter sempre controle total da situação.

Maraisa olhou para o quadro em sua parede. "E foste um difícil começo, afasta o que não conheço. E quem vem de outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade, porque és o avesso do avesso do avesso do avesso". Fazia muito sentido, mais do que em qualquer outra circunstância. Mas lembrava-lhe também de um episódio que ela gostaria muito de esquecer pra sempre.

Lembrou-se de quando Silvia disse a ela: "Por mais que ele tenha usado a história particular de vocês, ele não estava mal intencionado...". Não quis pensar naquilo. Não mais. Sacudiu a cabeça, esfregou os olhos e levantou-se da cama.

Precisava ir trabalhar. Agradeceu por já ser sexta feira e, mesmo que o dia ainda estivesse começando, desejou fortemente que ele passasse rápido pra que ela pudesse descansar durante o fim de semana. Ainda não havia se adaptado à exaustiva rotina do novo cargo. Era muito mais difícil do que ela imaginava que seria. Mas não havia nada nesse mundo que a fizesse desistir ou fraquejar.


***


Oito e meia da noite. Fernando terminava sua coluna enquanto os últimos colegas iam embora. Concentrado no que estava fazendo, ele nem notou que a redação se esvaziava aos poucos. Se deu conta quando se viu em um silêncio absoluto. Olhou para os lados e viu que estava sozinho dentro de uma sala imensa. Olhou no relógio e se assustou com as horas. Recostou pra trás na cadeira e bocejou, estralando as costas. Viu um filete de luz vindo do corredor. Deslizou a cadeira para o lado, a fim de ver se era a sala de Maraisa mesmo que estava acesa. E era.

Fernando correu até o chat e viu que ela estava online. Abriu a janela de conversação e digitou, sem hesitar:

Fernando M. diz: Muito trabalho ainda?

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora