Depois daquela ligação, Fernando dirigiu pra casa cantarolando. Nem sabia se tinha motivos pra isso. Mas achou suficientemente animadora a reação dela com o presente. Em certo momento, ele chegou a pensar que ela quebraria aquele quadro na cabeça dele quando o visse. Então, já era um grande ganho saber que ela gostou e se sentiu agradecida. "Tomara que ela tenha guardado meu bilhete!", ele pensou.
Sentada em sua mesa, Maraisa terminava de preencher um formulário solicitado pela matriz da revista. Estava exausta e com a cabeça estourando. A ligação de Fernando, imediatamente, a fez se sentir melhor. Nem ela percebeu isso ao certo. Mas gostou de ouvir a voz dele no telefone novamente.
Terminou o último questionário do formulário e recostou na cadeira, esfregando o rosto. Aquela era uma prévia do que viria adiante, a frente do seu novo cargo. Mas não se sentiu desanimada, pelo contrário. Começaria com gás total.
***
A semana que se seguiu foi recheada de muito trabalho e muito cansaço. Maraisa saía da redação todos os dias só depois de anoitecer. Fernando terminava seu trabalho um pouco mais cedo e ia pra casa preocupado.Via Maraisa soterrada em uma montanha de trabalho e não podia fazer nada. Sentia vontade de ajudá-la, mas temia que ela, marrenta como era, se sentisse afrontada. Preferia ajudar na surdina, transmitindo o mínimo de problemas possível pra ela. Tentava resolver tudo, sem repassar a ela coisas que só fossem lhe trazer dores de cabeça. Era uma forma sutil e singela que Fernando encontrou de cuidar dela e poupá-la, a distância. Eles se viam muito pouco. Maraisa ficava quase na totalidade do tempo de expediente dentro de sua sala. Fernando não entrava lá dentro desde que Silvia havia saído.
Eventualmente, Maraisa atravessava a redação até a sala de impressões ou passava no corredor pra ir até o restaurante. Estava sempre linda, mas a saudade que Fernando sentia fazia com que ela ficasse ainda mais. Fernando não podia deixar de reparar nos olhares invejosos que Larissa lançava pra ela, sempre que Maraisa passava.
Aquilo o fazia sentir mais ódio de Larissa, mas ele achava verdadeiramente que ela nunca mais tentaria nada contra Maraisa novamente.Pouco após o almoço, Fernando foi até a cozinha tomar um café. Encontrou Jeferson e um outro colega da redação escorados no balcão lanchando, conversando e rindo de algo aleatório.
Pegou a xícara, se serviu e se encostou no balcão na parede oposta de onde eles estavam. Ficaram um em frente ao outro, em lados opostos da cozinha. Fernando cumprimentou-os e manteve-se em silêncio.
Mas Jeferson incluiu-o no assunto.
- Fernando, a gente estava aqui falando da estagiária nova. Eu pegava toda hora, mas ela usa aliança na mão esquerda, você reparou? - Fernando sacudiu a cabeça desinteressado, indicando que não. - Se tiver marido eu tô fora, mulher casada cheira pólvora. Deus me livre! - Fernando deu uma golada no seu café e riu sem achar graça.
Exatamente ao mesmo tempo, Maraisa saiu de sua sala e foi até a cozinha conferir se havia estoque de copos descartáveis pra repor os da sua sala que haviam acabado. Dois passos antes de entrar na cozinha, ela escutou a voz de Jeferson e Fernando. Se encostou na parede ao lado da porta, sem que eles a vissem e ficou escutando o assunto.
- Pô Fernando, falando em mulher...Adivinha quem casou? - disse Jeferson.
- Hum? - Fernando perguntou por educação, mas não estava prestando muita atenção no assunto.
- A Heloísa, lembra dela? - Jeferson se voltou para o outro colega. - Pensa numa mulher linda. Ela dava moral pra mim e pro Fernando descaradamente, ao mesmo tempo! Fiquei arrasado quando soube que ela casou... -Ele soltou uma gargalhada.
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A Aposta - Adapt. Macó
RomanceO que você faria se tivesse que passar 4 semanas em uma casa de campo com o seu arqui-inimigo? Bom, é a situação que Maraisa terá de encarar. Fernando e ela nunca foram amigos e sim inimigos mortais. Mas quando a editora-chefe da revista em que eles...