Capítulo 33

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Vem ai uma coisa muuuuito forte hein kkkkk boa leitura, amores!!! 

***

Quarta-feira da semana que antecedia a viagem pra São Paulo para o evento da premiação.

Mesmo com toda a correria que Maraisa já vivia dentro da redação, ainda por cima precisava procurar por um vestido adequado para a ocasião. Passava o dia recebendo peças de condicionais das lojas. Experimentava no banheiro do trabalho, mas não conseguia gostar de nenhum. 

A vendedora levou o editorial da coleção para que ela desse uma folheada e escolhesse algum modelo. Até que, quase na última folha, ela viu um vestido que fez com que ela tivesse certeza: Era esse!

- Tem esse disponível na loja? No meu tamanho? - A vendedora fez que sim com a cabeça. - Então pode trazer! Está decidido, vou ficar com ele!

Maraisa estava com uma imensa expectativa pra essa viagem. 

Fingia não saber o porquê, mas no íntimo ela nem precisava pensar duas vezes para chegar à conclusão de qual motivo despertava nela tanta ansiedade. Não sabe nem onde estava com a cabeça quando convidou Fernando pra ir com ela. Mas não se arrependia JAMAIS. Sentia um friozinho na barriga. 

As lembranças ruins e a mágoa se dissipavam lentamente, com o passar do tempo, sem que ela percebesse ao certo. Parecia que uma força maior estava agindo sobre ela, fazendo com que ela superasse pouco a pouco os percalços que impediam ela de tocar sua vida pra frente. Extasiada, ela arrumava as malas aos poucos, acrescentando ou retirando peças de roupas todos os dias, desde o dia que soube que iria viajar. Se organizou de forma que ela não fosse pega desprevenida em nenhuma situação.

Não queria esquecer nada. Só estava torcendo pra que esse mal estar que ela andava sentindo passasse logo, já faziam alguns dias que ela se sentia meio indisposta, zonza e nauseada. Mas a empolgação fazia com que ela nem lembrasse disso. Só tinha cabeça pra viagem. E para o trabalho, é claro.

Na redação, as coisas corriam bem. 

Maraisa fez questão de ligar pra Silvia e parabenizá-la pela indicação. A edição especial foi idealizada quando ela ainda ocupava o cargo, apesar de ter sido desenvolvida só após Maraisa tomar posse. Mas a admiração e o carinho que Maraisa sentia por ela faziam com que ela reconhecesse a grande participação da ex-chefe nessa vitória.

Quase no fim do expediente, Maraisa recebia uns publicitários em sua sala. Ofereceu-lhes um suco, mas notou que a jarra estava vazia. Ligou no ramal da secretária, mas a linha chamava até cair. Pediu licença ao grupo que estava na sala dela e foi até a cozinha providenciar algo para servir a eles. Entrou e deu de cara com Jeferson. Deu um sorriso um pouco falso a ele, só por educação. Não suportava mesmo a cara daquele troglodita.

Abriu a geladeira e agradeceu em silêncio por ter uma caixa fechada de suco lá dentro. Girou o corpo e caminhou até a porta. Dois passos antes de chegar, ela sentiu uma forte tonteira. Sentiu as pernas bambearem e se encostou no balcão atrás de si dentro da cozinha, para se firmar.
Fechou os olhos ao notar que sua visão estava turva, escurecendo pouco a pouco. Jeferson veio em disparada.

- Maraisa! Você está bem? - ele se aproximou, tentando apoia-la para que ela não caísse no chão.

Por coincidência, Fernando saía da sala do designer gráfico na mesma hora, que fica em frente a cozinha. De cabeça baixa, ele estava concentrado, mas olhou em linha reta e deu de cara com aquela cena. Soltou os papéis no chão e correu até lá.

- O que foi? O que ela tem? Solta, deixa que eu seguro ela. - Ele empurrou Jeferson para o lado, trespassou os braços na cintura de Maraisa e encostou-a em seu peito. - Maraisa! Você está pálida, o que você está sentindo? Fala comigo, meu bem.

Ela estava mole, mas estava lúcida. Ofegava e suava frio. Mas aos pouquinhos, em menos de um minuto, sentiu a visão voltando e suas pernas retomando a firmeza.

- Não não, está passando... Foi só uma vertigem, uma tontura, sei lá! Eu devo ter levantado rápido... Já estou melhor... Obrigada! Obrigada a você também, Jeferson. - ela se desvencilhou de Fernando.

- Tem certeza? Não quer que eu chame um médico? Toma uma água. - Fernando estava desorientado de preocupação.

- Não, não precisa. Mesmo. Eu estou com cinco pessoas dentro da minha sala me esperando, é uma reunião importante. Está tudo bem, de verdade. - ela saiu andando.

Fernando observou-a se afastar. Coçou a cabeça, preocupado. Catou a pilha de papéis no chão.
Agradeceu a Jeferson por tê-la impedido de cair. 

- Obrigado, cara, por ter segurado ela. Ela estava passando mal? Como foi que aconteceu?

- Não, ela entrou aqui, pegou um suco de caixinha na geladeira e quando ela estava saindo, ela ficou tonta e vacilou. Aí eu notei que ela ia desmaiar e tentei firmar, mas você chegou bem na hora. Foi só isso.

Fernando concordou com a cabeça. Tentou esquecer o acontecido. Devia ser o calor, o cansaço e o estresse. Não havia motivos para se preocupar, afinal.

***

Já em casa, Maraisa comia uma pizza.

Chegou à conclusão de que estava se alimentando muito mal ultimamente. Talvez isso justificasse a tontura que sentiu naquela tarde, na cozinha da redação. Refletiu um pouco sobre o que havia comido naquela semana, que possa ter causado alguma intoxicação alimentar branda. Mas não conseguia se lembrar de nada.

De repente, sentiu um estalo. Abandonou o pedaço de pizza e voou até o quarto. Abriu uma gaveta e remexeu algumas anotações. No fundo, encontrou uma tabelinha de ovulação. Ela costumava anotar os dias de suas menstruações, pra controlar melhor se estava tudo nos conformes. Tapou os olhos, assim que olhou a tabela. Não menstruava faziam quase três meses.

Com a cabeça atolada no trabalho, atribulada com o rompimento traumático com Fernando, ela não se deu conta disso, se esqueceu completamente. Ela tinha uma menstruação irregular, eventualmente isso acontecia, mas algo dizia a ela que dessa vez... "Não! Não pode ser!".

Arrancou o pijama e vestiu um vestido velho, que ela costumava usar para ficar em casa. Catou a bolsa e a chave do carro às pressas, desceu o elevador até a garagem e dirigiu loucamente até a farmácia mais próxima.

Comprou o teste. Sentia as mãos trêmulas enquanto abria a carteira para pagar no caixa.
Na volta pra casa, a cabeça estava a mil, ela foi choramingando. "Não acredito que isso está acontecendo. Não é possível, ai meu Deus!" Entrou em seu apartamento e correu para o banheiro. Desesperada, os minutos se arrastavam, pareciam durar uma eternidade.
Fez o teste, aguardou o tempo necessário. Foi até a cozinha beber uma água antes de olhar.

Tremia as pernas, o corpo inteiro. Ofegante, sentia as lágrimas escorrendo rosto abaixo. "Foi naquele dia, na minha sala em cima da minha mesa. Só pode ter sido, pelas minhas contas...Ai!".

 Ela correu até o banheiro. Lentamente, pegou a fita do teste de farmácia. Virou pra si mesma. Sentiu seu mundo desabar, as pernas bambearem. Soltou um soluço e agachou no chão do banheiro, passando as mãos pelos cabelos desnorteada. "Dois risquinhos na fita...ESTOU GRÁVIDA.". Deslizou as mãos pela barriga. Pensar em Fernando foi inevitável. Um pedaço dele dentro dela. Um elo eterno. Um FILHO dele. Grávida. Era inacreditável.

Encostada no armário do banheiro, chorou como um bebê. Era um misto de desespero, emoção, medo e surpresa. Era literalmente uma nova etapa em sua vida. Misteriosamente, as coisas se configuravam em sua mente. Junto com as lágrimas, descia todo o desabafo.

Assombrada com o turbilhão de acontecimentos e mudanças que ela havia vivido nos últimos seis meses, ela não sabia nem o que pensar. Um único homem girou a vida dela de cabeça pra baixo, a fez sentir o que ela nunca antes havia sentido. 

Junto com ele, trouxe o amor arrebatador que ela sentia por ele, trouxe um cargo, que era uma das maiores preciosidades de sua vida, e trouxe um FILHO, que ela ainda não conseguia nem ter conhecimento da proporção que isso representava. Isso tudo sem que ela nem tivesse tempo pra respirar. 

Aquela quarta-feira marcou eternamente a vida de Maraisa. Não sabia como seria o amanhã. Não sabia nem como estava sendo o agora. Não tinha certeza de nada. Apenas uma coisa era certa: nada foi em vão.

A Aposta - Adapt. MacóOnde histórias criam vida. Descubra agora