Não me pergunte como cheguei a esse ponto. Me encontrei com meus lindos fios loiros (naturais, não oxigenados) sendo brutalmente puxados por aquela lelé da cuca (leia essa última frase em tom de profunda tristeza). Minha pobre saladinha se desfez no chão, sendo até mesmo pisoteada, mal pude saborear suas folhas verdes e seu franguinho crocante. Já eram 14h47, nunca chegaria a tempo no ginásio de treino e minha equipe treinaria (mais uma vez) sem mim. Quando a orientadora de conduta, Suzana, nos separou tive um fio de esperança de chegar a tempo.
Que é o que teria acontecido se aquela mal comida da Suzana não me arrastasse para essa merda dessa diretoria. Sinceramente, pago 17.000 reias de mensalidade para ter uma diretoria do tamanho de minha lavanderia de hóspedes! E lá vão minhas habilidades de teatro sendo postas a fogo mais uma vez.
- Boa tarde meninas! - O diretor Suárez diz ao entrar na sala, colocando algumas pastas em sua mesa.
- Bom dia senhor, ainda não almocei. - Digo ao me lembrar dela (salada). Foi uma tentativa de me esquivar e poder comer em paz, infelizmente só serviu para lembrar meu estômago que não tomamos café da manhã hoje.
- É, eu também não. - A pirada responde ME encarando ainda por cima. Juro, as vezes me pergunto se a louca aqui sou eu.
- Não se preocupem, se me contarem o que aconteceu, sairão daqui rapidinho. - Ele nos responde ajeitando seus óculos. Óculos feios e retangulares. Aposto que ganha o suficiente para ter um óculos decente. Seu cabelo não é muito melhor, posso ver as entradas de calvície em sua cabeça. Aposto também que tem dinheiro para um implante capilar.
- Bom diretor, eu estava como sempre almoçando minha salada Caesar em minha mesa do refeitório. Até que Bárbara veio em minha direção e começou a puxar meus lindos e macios fios de cabelos. - Pensei em fingir choro mas seria demais. Minha mais sincera expressão de tristeza já era suficiente.
- Tá me tirando, sua surtada? Não vai contar a parte que você me xingou? - Ela contra-argumenta, fazendo minha expressão se tornar irritada.
- Não me lembro dessa parte. - Digo encarando seus olhos castanhos escuros idiotas.
- A parte que você sai. - Ela levanta uma sobrancelha ao me retrucar.
- Ah o senhor sabe como é. - Me volto ao Sr. Suárez e dou de ombros - Sempre que posso evito conflitos.
- Tão falsa quanto nota de 3 reais - Resmunga Bárbara ao meu lado, não pude evitar encará-la com minha mais sincera cara de cu. Ei! Quem faz comparações com notas aqui sou eu! Me controlo para não revirar meus olhos azuis e suspirar. Me controlo ainda mais para não dar um soco nela agora mesmo.
- Olha senhoritas, vou ser sincero. Se fossem outros alunos, eu daria uma bela detenção. Porém sei o que vocês tem a perder. Srta. Muller, você precisa se manter na linha, com boas notas e poucas confusões para continuar no posto de capitã do Time Feminino de Vôlei e parte do Grêmio Estudantil. São cargos de prestígio na escola, não podem ser entregues a uma encrenqueira mesquinha qualquer.
- Sim senhor. - Me encolho um pouco, me senti pessoalmente atacada. Mesquinha QUALQUER?
- Já a srta. Álvares, caso se meta em encrenca, pode até perder sua bolsa de estudos. Sei que a senhorita estudou e se esforçou muito, por isso vou deixar passar dessa vez. - Ele fecha as pastas que contém meu nome e o nome de Bárbara na capa. Provavelmente via nossos antigos registros.
Pois é, não é a primeira nem a última vez que brigamos. Vem sendo assim desde o primeiro ano, quando Bárbara e eu nos vimos pela primeira vez. Eu estava sentada em nossa clássica mesinha, com Yasmin e Júlia. Elas duas conversavam sobre as mesmas coisas de sempre (homens), já eu apenas mexia em meu celular, provavelmente postando um vídeo no Tiktok. De repente, sinto um líquido escorrer por todos meus fios brilhantes. Julia e Yasmin cessaram seus cochichos e me olharam em choque. Virei meu corpo encharcado lentamente, me deparando com o garoto pálido que segurava uma caixinha de suco de goiaba. Enquanto ele parecia um tomate, eu ia a loucura.
- Olha por onde anda, imbecil! - Digo me levantando e vendo o estrago em minha blusa branca.
- Me desculpe, foi um acidente. - Ele se justifica e tenta limpar meu suéter branco com um guardanapo engordurado.
- Eu não ligo! - Afasto minha roupa dele. - Agora sai da minha frente, tenho mais o que fazer do que ver essa sua cara esquisita.
Ele, aparentemente triste, sai de meu caminho. Quando minha passagem ao banheiro finalmente estava livre, senti alguém puxando meus ombros. E então lá estava ela, a nota de 2 reais.
- Quem você pensa que é para falar assim com meu amigo? - Ela pergunta cruzando os braços e tomando uma postura intimidadora. Ela é muito mais alta que eu.
- Há! - Rio de forma irônica e volto a dizer. - Quem é VOCÊ para falar assim comigo?
E desde então vem sendo assim. Preciso admitir que algumas vezes quem provoca sou eu, como na educação física no segundo ano, que eu "sem querer" joguei a bola de queimada em seu nariz. Mas maior parte da culpa é dela, que vive se intrometendo onde não é chamada.
- Certo, obrigada senhor. - Bárbara interrompe meu raciocínio para responder ao diretor. Estava pronta para me levantar e sair da sala quando:
- Com a condição de... - E lá vem ele. Não entendo a tara de velhos por condições. Se pode fazer algo, por que não fazer de bom grado? - Se enturmarem. Vamos garotas vocês já são quase adultas! Precisam parar de agir dessa forma tão infantil.
- Eu? Me enturmar com essa daí? Nunca seria amiga de alguém... - Encaro-a de cima a baixo - assim.
Respondi apressadamente. Era para eu estar me preparando para as eliminatórias do campeonato, não ouvindo o sermão mais clichê de todos.
- Escuta aqui sua filha da...
A biruta ia dizer quando é interrompida pelo diretor- Basta. Não estou pedindo para serem amigas, apenas para se tolerarem. Se essa situação se repetir, não darei nada menos que uma suspensão!
Mas que merda hein.
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Salada Caesar
Teen FictionA salada Caesar é uma das saladas mais populares em todo o mundo e servida em uma variedade de restaurantes, desde pequenos cafés até restaurantes de luxo. Ainda sim, aposto que não consegue citar uma pessoa que a tenha como prato favorito. Bem, eu...