Capítulo 9 - Piano

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Hoje fui para o teatro as 13h50, pois não quis comer toda salada. Onde já se viu uma salada ceaser sem frangos grelhados? Quando cheguei, ninguém do clube estava lá, apenas um solitário piano em cima do palco. Coloquei minha mochila da kipling em alguma cadeira da plateia e me aproximei dele. O lugar estava silencioso, somente os meus passos e minha respiração ecoavam por lá.

Ver aquele piano me lembrou de meu pai. Ele amava o som de piano, tanto que me matriculou em aulas ainda quando eu tinha 3 anos. Eu amava também. Toda segunda depois da escola a professora ia até a minha casa e eu me esforçava de verdade para tocar. Sua expressão de orgulho ao me ver acertar, mesmo que poucas notas, era a minha motivação. Sua música favorita sempre Bohemian Rhapsody, então para comemorar seu aniversário, eu a aprendi inteira. Pena que ele não chegou a ouvir.

Olho em volta, com os dedos próximos do velho e brilhante piano. Ainda não tem ninguém. Sento me no banquinho acolchoado e... começo a tocar Bohemian Rhapsody. É claro que ainda me lembro perfeitamente. Começo a cantar também, bem baixinho. É impossível ouvir essa música sem cantar, ela é um sentimento.

Quando estava na parte do "I don't wanna die, I sometimes wish I'd never been born at all" ouvi alguém esbarrando em algo. Parei bruscamente, já era vergonhoso o suficiente aquelas pessoas me acharem especial ou sei lá (não que eu não seja especial, mas pode falar comigo igual gente normal poxa). Olhei em direção ao ruído e era Babi. Que situação mais constrangedora. Ficamos em completamente mudas, nos encarando como dois gatinhos assustados.

Quando ela finalmente ia dizer algo, Vini chega ao teatro junto de alguns outros estranhos. Eles me cumprimentaram de longe e deram um susto em Babi, rindo e se empurrando logo em seguida. Vejo Bárbara me encarar pela visão periférica uma última vez, mas não retribuo. Apenas seco minhas mãos soadas em minha saia e me levanto, indo até o banheiro. O ensaio correu normalmente, estou melhorando no quesito falas, mas já está melhor. Ao final, quando estava saindo de lá o mais rápido possível, Babi me parou no camarim.

— Bea, você toca muito bem. — Ela diz segurando meus ombros.

— Obrigada. — Não acredito que estou tendo essa conversa com ela.

— E canta tão bem quanto. — Ela continua, ficando de frente para mim. — Você devia fazer parte do clube de canto ou algo assim.

— Ah, não. — Dou uma risada seca. — Eu não sou do tipo de cantar ou tocar em público. Acho que você e meu pai foram os únicos que já viram.

— Então... eu sou especial para você, Muller? — Ela diz com um sorriso de canto e apoiada no piano. Por essa eu não esperava.

— É, acho que é sim. — Apenas respondo sorrindo de volta (e sem corar).

Ela ri e diz mais alguma coisa que não me lembro, estava aérea nesse momento. Sinto saudades do meu pai.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora