Capítulo 5 - Sorvete de morango

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Odeio tanto quando fazem isso. Parece que sou resumida a ser rica e gostosa. Por mais que seja verdade, não sou só isso. Eu rio de vídeos idiotas do tiktok, eu tenho uma cor favorita (vermelho), um animal favorito (onitorrincos) e problemas, grandes e pequenos. Ninguém nunca quer me conhecer de verdade, ninguém quer conhecer Beatriz Muller, só a Muller. Só querem a loira burra que eles pensam que eu sou. Ficantes, amigos, qualquer um. Acho que até eu mesma penso assim, por quê Bárbara não pensaria?

Minha eu do ano passado jamais passaria uma tarde de sexta-feira de pijama, deitada na cama, se lamentando e olhando para o teto depois de comer uns dois potes de sorvete de morango (Funfact #4: Sorvete de morango é o melhor). Ok, a minha eu do ano passado era uma puta, mas só eu posso dizer isso de mim mesma.

É sério. Eu passava todas as noites de todos os dias da semana me embebedando em casa de desconhecidos, beijando mais homens que posso me lembrar, chifrando amigas, fumando pod e mais um milhão de merdas. Acho que era para conseguir atenção, quando vi que não ia, apenas parei. Ainda bem que parei.

Mas quer saber, hoje vou ser uma puta mais uma vez. A puta que todos acham que eu sou. Bárbara vai se arrepender de mexer comigo. Comecei falando com Yasmin, fofoqueira do jeito que é, sabe tudo sobre todo mundo. Ela me disse que a peça que eu ia fazer audição era Romeu e Julieta, e que Bárbara estava escalada como protagonista. Sabendo disso, planejei roubar seu papel. Vou fazer a melhor performance da minha vida naquele palco! O professor vai ficar tão impressionado que vai me dar o papel de Julieta e deixar Babi como, sei lá, árvore 3.

Segunda chegou, fiz minha prova de gramática (arrasei por sinal), almocei o de sempre mas sentei em uma mesa diferente. Para não correr o risco de João ou seus amigos me incomodarem, fui na mesa do time de vôlei. Elas são legais mas seu único assunto é homem.

— Sabe o Guilherme do 2°A? — A libero do time, Amanda, perguntou.

— Sei amiga. — Rafaella (com 2 l's), a levantadora respondeu enquanto mexia em seu iPhone 14.

— Fiquei com ele nesse fim de semana. — Amanda continuou, sem muita empolgação.

— Boa, ele é gostoso. — Rafa responde, ainda com os olhos no celular.

— É, tô pensando em ficar com ele mais frequentemente sabe... — Puta conversa chata da porra.

— Oh gente, vocês não tem outro assunto não? — Perguntei expressando meu saco cheio. — 2 horas na mesma, mano.

— Foi mal capitã. — Rafa abaixou a tela do celular.

— É a gente pode falar de outra coisa. — Amanda tenta concertar, mas apenas piora já que a mesa fica em completo silêncio.

— Tá continuem falando de macho, tenho mais o que fazer mesmo. — Digo ao me levantar e sair, dando beijinhos nas bochechas de todas na mesa.

Caso se interesse, eu jogo de ponteira. Depois do almoço fui ao teatro para as audições. Bárbara estava lá, junto com uns outros esquisitões, Vini também estava. Ele acenou para mim de longe com um sorriso no rosto, mas Bárbara abaixou sua mão. Acenei de volta. Subi naquele palco e entreguei minha alma naquela atuação. Posso jurar que vi algumas pessoas terem os olhos preenchidos de lágrimas conforme eu falava. Vi também a alegria nos olhos do professor, aquele papel já é meu. Quando estava saindo, esbarrei com Vini e alguns outros que estavam lá dentro.

— Bea, e aí! — Ele disse correndo até mim.

— Oi Vini. — Digo sem muita cerimônia, se ele está aqui Bárbara deve estar por perto também.

— Você atua muito bem viu, com certeza vai estar na peça! — Mas é claro que eu vou, como protagonista.

— Valeu. — (Funfact #5: Eu atuava quando era criança, em comerciais e coisa assim) — Sabe quando vão sair os resultados?

— Acho que quarta já sai. — Olho por cima do ombro e vejo Bárbara se aproximando. Não consigo esconder meu nervosismo.

— Beleza, valeu! — Digo rápido, sentindo minhas bochechas esquentando cada vez mais. — Vou indo, tenho muito o que fazer.

Tinha porra nenhuma para fazer (Funfact #6: Meu palavrão favorito é porra). Na real o meu plano é passar o resto da tarde na piscina tomando sol. Só falei isso para não encontrar com a... merda. Como ela chegou aqui tão rápido? Aqueles olhos castanhos, grandes e... lindos? Me encaram com raiva. Dessa vez, a encaro da mesma forma. E ficamos lá nos encarando, sem dizer nada. Aproveitei para observá-la melhor, já que não tenho tanta escolha. Seus cabelos são crespos e bem escuros, sua pele parda é ressaltada pela camisa branca do uniforme e eu pareço uma anã do lado dela. Quanto será que ela tem de altura? Do que eu tô falando? Acorda Muller, eu vou é curtir minha piscina. Dou um sorriso cínico e saio. Solzinho da tarde, aí vou eu.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora