Salada Caesar

Capítulo 22 - Batata frita (sem Cheddar e Bacon)

Tá, eu sei que ninguém liga pra vôlei mas esse jogo é importante. É simplesmente a FINAL do campeonato. Meu último campeonato, inclusive. Nesses últimos 3 anos que tenho sido capitã, nunca chegamos as finais. Sempre somos eliminadas pela St. Paul’s School, justamente o time que vamos jogar hoje. Aquelas putas, que vou carinhosamente apelidar de "as paus", tem uma porra de investimento e tem até peneira para entrar. Enquanto aqui, mal temos treinador.

— Meninas, antes de aquecermos — Começo chamando sua atenção. — quero agradecer a vocês. Somos uma ótima equipe, independente do resultado. Tenho muito orgulho de vocês.

— Ah capitã, nós temos muita sorte de termos você no nosso time. — Amanda responde. — Na verdade, temos sorte de ter cada uma aqui nesse time.

As outras garotas concordam.

— É! Sai pra lá com esse papinho de "independente do resultado" — Rafaella complementa. — Vamos amassar as paus!

— É! 0x3! — Grita a levantadora substituta.

— Esse é o espírito. — Volto a dizer em meio a risadas. Infelizmente, é quase impossível ganhar das paus, especialmente de 3x0. Elas são campeãs invictas a 4 anos, desde que minha irmã deixou o time.

Enquanto nos aquecíamos, pude ver meus amigos na plateia. Olha, as minhas punks favoritas também vieram, não esperava. E é claro, minha linda e cheirosa namorada estava lá me assistindo também.

Aproveitei um momento em que minha bola caiu um pouco afastada das outras meninas do time e quando fui pegar acenei pra ela, ela retribuiu, com um sorriso tímido no rosto para disfarçar seu tédio. Finalmente consegui convencê-la de vir me assistir (aceitei ouvir 2 músicas do Jão em troca, tortura).

— Uuui! — Ouço umas das paus dizer do outro lado da rede. — É a sua namoradinha Muller?
As outras paus riem. Que risada mais chata, a propósito. Me lembra a da Taquara rachada.

— Hã? Ah, ela é sim, por quê? — Me aproximo da rede ficando quase colada em seu rosto. — Tá com ciúmes?

Meu rosto, antes neutro, se torna uma expressão de confiança e satisfação ao vê-la corar um pouco e ficar claramente confusa.

— Eu não... Não gosto de... — Gaguejou, perdeu argumento. —  Argh! Vou acabar com você, Muller!

Ela aponta aquele dedo fino para meu nariz perfeitamente empinado.

— Estarei no aguardo. — Respondo, pegando uma bola do chão e volto à minha quadra, dando as costas para a vagabunda.

♡

2x2. Para os não-familiarizados com voleibol, geralmente um set tem 25 pontos, precisando no mínimo de 2 de diferença entre o vencedor e o perdedor. Mas quando acontece o que está acontecendo agora, empata, o 5° set, chamado tie-break, vai até 15 pontos.

Agora que eu dei um tutorial básico, nosso jogo estava 14×13 pra as paus (logo, se elas fizessem ponto ganhariam, se nós fizéssemos iria até 16). Eu estava no saque (surpresa: sem vomitar, mas quase). Estava respirando fundo, tentando me concentrar no saque. Mas só consigo me lembrar de minha irmã. Não sei se pelo fato de que ela me ensinou a sacar, "o saque Muller", ou por conta daquele encontro desastroso de ontem. Sinceramente, prefiro acreditar que por conta do primeiro, não quero me lembrar daquele show de horrores da noite anterior.

Vamos Bea, é só fazer o saque. O saque Muller. O mesmo com que pontuei tantas outras vezes. Não entendo por que Bianca deu esse nome bobo, é só um saque flutuante comum ajustado para os braços curtos e falta de altura da genética Muller. Bianca sempre fazia um movimento esquisito com o braço, ela dizia que "era para medir a força e a velocidade fazendo a bola ir certinho na linha de fundo". Acho que esse papo é furada, mas não vou negar que dá uma confiança extra.