Capítulo 7 - Cara de cu

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Semana que vem chegou e os ensaios também. Acho que eu nunca estive tão nervosa na minha vida. A vontade de cagar e de vomitar não fazem o menor sentido, já que nem fome para almoçar eu tive. Mas ninguém precisa saber do meu estômago bipolar. Caminho com tranquilidade para o anfiteatro, com minhas entranhas se contorcendo secretamente. Chego atrasada, aparentemente, pois todos do elenco já estão no palco ouvindo o Senhor Murilo (Ele insistiu para que o chamasse pelo primeiro nome) falar algo que não me interessa.

- Que horas começa o ensaio? - Pergunto, sussurrando, me aproximando de Vini.

- Ah oi! 14h30, por quê? - Olho em meu Smartwatch, são 14h30 pontualmente.

- Então por que parece que estou atrasada? - Pergunto voltando a olhar para ele.

- Geralmente o pessoal chega uns 20 minutos antes e fazem alguns exercícios, tanto de atuação quanto vocais. - Por que não dizem que começa 14h10 então, porra?

- Ah sim, certo. - Respondo ainda confusa do porquê.

- Todos prontos, galera!? - Senhor Murilo grita, atraindo a minha atenção de volta.

- SIM PROFESSOR! - Os nerds, oi melhor, alunos gritam ainda mais alto que o nosso jovem professor.

O ensaio correu bem (Ainda não tive que beijá-la, até porque se tivesse ia dar logo um soco na cara dela para ela aprender a me respeitar). Mas me lembrei porque parei de fazer teatro, sou horrível decorando falas, meu lance é nais improvisação. Mas com o tempo pego, não tem problema. A única coisa ruim é que é difícil evitar a Bárbara sendo que 90% das minhas falas são relacionadas a ela. Os outros esquisitos do teatro parecem legais, porém, por algum motivo sempre pisam em ovos para falar comigo. Talvez por isso que eu Babi temos essa relação estranha, ela não faz isso, nem quando deveria.

Alguns dias depois de ensaios contínuos, estava indo até minha Ferrari quando o Senhor Murilo me chamou.

- Muller! Espere um segundo! - Parei e olhei para trás, com uma expressão neutra (expressão neutra = cara de cu) (Funfact #7: Na maior parte do tempo eu tenho cara de cu, não é por mal) - Essa aqui é a minha melhor aluna, Bárbara Álvares. Acho que vocês já se conhecem, não?

- Ah sim - Respondo, me contendo para não revirarar os olhos.

- Infelizmente - Ela murmura. Posso vê-la levar um beliscão do professor e forçar um sorriso (Me senti mais desconfortável com seu sorriso do que sua cara irritada).

- Bem, como suas falas são em grande maioria juntas, podiam treinar fora do horário de aula. Babi e eu pensamos de você ir na casa dela uma vez por semana e vice-versa. - O professor sugere com um sorriso no rosto.

- Eu não pensei em na... Aí! - A nota de 2 reais leva outro beliscão e se faz carinho no próprio braço. Posso sentir meu rosto enrubescer aos poucos, preciso sair logo daqui.

- Claro, sem problemas! Tchau! - Vou embora, o mais rápido possível (dessa vez nenhum gloss me derrubou).

Na quinta-feira seguinte, estava de certa forma comandando o treino de vôlei, pois o antigo treinador foi afastado por dormir com umas meninas do 2° ano e ainda não contrataram um novo. Essa escola odeia o time de vôlei, não é possível. Quando foi com os moleques do futebol, contrataram um novo em 4 dias...

- Capitã! - A voz de uma das garotas do time me traz de volta ao presente.

- Agora não Amanda, estou ocupada. - Respondo vendo a número 8 quinar 3 bolas seguidas e, involuntariamente, abrir um expressão de desgosto. Vai ser um longo treino.

- É que tem uma menina querendo falar com você. - Ela continua mesmo depois de eu deixar claro que não quero conversas paralelas. Olho rápido para a grade e vejo Bárbara encostada nela. Péssima hora, a propósito, estou toda suada, estressada e possivelmente grosseira.

- Tá, fica vendo se elas estão fazendo tudo certinho aí. - Eu sei que não estão, mas estou dando meu melhor. Amanda corresponde com um aceno positivo, vou em direção à onde Babi me aguarda e aproveito para tomar uma água geladinha. Está um calor dos infernos.

- Oi. - Ela diz depois de um longo silêncio. Vamos logo, não tenho todo tempo do mundo.

- Que é? - Não dá para ir direto ao assunto?

- Como funciona isso? - A regra é clara, não se responde pergunta com pergunta. - Você é tipo, a treinadora?

- Sou capitã e o time não tem treinador. - Já estou de saco cheio dessa conversa. - O que que você quer?

- Vim falar sobre os ensaios "particulares". - Isso fora de contexto fica muito estranho. - Qual dia você tá disponível?

- Sei lá, sexta. - Dou de ombros. Meu Deus a número 14 acabou de errar 7 saques SEGUIDOS?

- Ah, já vamos começar amanhã? Os... "encontros" vão ser na sua casa ou na minha?

- Tanto faz! Desculpa mas eu realmente preciso voltar para lá.

- Tudo bem, eu te mando o endereço mais tarde. Até amanhã, Muller.

- Até. - Praticamente grito por impulso ao voltar a quadra, pois vejo a central chutar a bola. Estranho, mas posso sentir Babi me encarando pelas costas.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora