Capítulo 16 - Montanha-russa

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— Olá, Beatriz. — Aquele perfume doce demais penetra em minhas roupas e em meu nariz. Sinto ânsia de vômito.

— Não era para a senhora estar visitando Bianca no Canadá? — Pergunto conforme ela joga uma pilha compras em meus braços.

— Ah sim, deveria. Acontece que sua irmã achou melhor ela vir nos visitar aqui, para Kira conhecer o Brasil. — Quem é Kira mesmo? Ah, pouco me importa! A última coisa que eu precisava agora era de uma "reunião de família". Ah e olha só quem tá ali atrás... — Sabendo disto eu e seu pai voltamos da viagem direto para cá.

— Ele não é meu pai. — Resmungo e recebo um olhar feio como resposta.

Aquele é Sérgio Morais, nosso ex-jardineiro. Camila (minha mãe) se casou com ele uma semana depois que meu pai morreu. Desde então vem tentando fazer lavagem cerebral em mim e minha irmã para chamá-lo de pai. Mas ele não é. O pior é que ele se comporta como um, mesmo não sendo. Ele deveria é cuidar desse transplante capilar mal feito.

— Quem é essa sua amiga? — Sérgio pergunta, com desprezo na voz. Porra, tinha esquecido de Babi. Como pude ter me esquecido de Babi?

— Essa é a Bárbara. Bárbara esses são minha mãe, Camila, e seu marido, Sérgio.

— É um prazer, senhor e senhora Muller. — Ela estendeu a mão, ficando no vácuo pela minha mãe que apenas a encarou com um olhar de desprezo e se afastou, ficando de costas para nós.

— O prazer é meu. — Sérgio responde, fingindo um sorriso simpático, mas ainda sim apenas encarando a mão levantada de Babi. — Perdão por não apertar sua mão, as minhas estão cheias.

— Não tem problema, senhor. — Babi parece nem se importar, como ela consegue? Ela apenas alterna o olhar entre minha mãe, Sérgio e eu com uma sobrancelha arqueada.

— Venha, Beatriz. Nos mostre o lugar. — Camila começa a caminhar na minha frente. Sua postura como sempre impecável. — Onde estão Julia e Yasmin?

— Eu não falo mais com elas, mãe. — Ela para abruptamente e me encara por alguns segundos, com desprezo, então volta a caminhar.

— Pois trate de voltar a falar, os pais delas são grandes influências no mercado. — Preciso me controlar muito para não revirar os olhos.

— Sim senhora. — Abaixo a cabeça.

— Tem caviar em alguma dessas barracas? — O marido de minha mãe pergunta.

— Não sei, Sérgio. — Respondo ainda encarando meu All Star vermelho.

— Bom, se não tiver iremos para casa. — Ela olha o seu iPhone enquanto retoca o batom. — Peço para Lídia fazer um bom sushi com caviar para nós, o que acha amor?

— Acho uma delícia, querida. Muito melhor do que essa comida de segunda linha. Vamos agora mesmo, o que acha? — O calvo do Sérgio responde minha mãe.

— Ah sim, melhor ainda. Estou exausta. — Ela da um pequeno sorriso a Sérgio e não pude evitar sentir uma pitada de inveja. — Venha Beatriz, vamos.

Começo a segui-lá, no automático. Olho para trás e vejo Babi me encarando, triste. Ah, ela não merece ser abandonada assim. Não de novo.

— Mãe...— A chamo, mesmo sabendo que ela ia ignorar. — Mãe! — Ela finalmente se volta para mim. — Posso ficar aqui por mais um tempo? Meu carro está no estacionamento e quero aproveitar para...

— Tanto faz. — Ela me interrompe e me encara com indiferença, voltando a caminhar. — Só não chegue muito tarde, isso mancha a imagem da família.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora