EPÍLOGO

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Ouço a plateia gritar meu nome. Não Bea, Triz. "Triz, Triz, Triz". Algumas flores, aviões de papel (e até calcinhas) voam no palco. Am costuma pegar as coisas mais esquisitas ao fim do show, como cabeças de boneca ou baratas mortas (baseado em fatos reais). Lau sempre pega uma tulipa para Yas, que nos aguarda nos bastidores. A ideia dos aviões foi de Sam, ela adora ler as mensagens dentro deles em voz alta para a plateia, "É tipo um Kinderovo, tem sempre uma surpresa dentro" ela diz. Já eu nunca pego nada, morro de medo de pegar algum avião e vir um nudes ou algo assim. Mas dessa vez abri uma exceção por uma coisinha que me chamou a atenção.

Uma rosa vermelha. Não, não é minha flor favorita, mas tenho um certo respeito por elas. Já me disseram mais de uma vez que eu me pareço com uma rosa. Ela me disse. "Você é linda, delicada e atraente, mas tem espinhos. Machuca as pessoas que tentam te colher, que se aproximam de você. E ainda assim quer ser amada, quer ser adorada como a flor mais bonita do jardim."

— Foi a última coisa que ela disse para mim. — Remexo a flor, cuidando para não me arranhar. Consigo sentir o suor escorrendo em minhas bochechas quentes, ainda estou um pouco ofegante, mas não tanto quanto a recolhi do chão. Ela é, realmente muito bonita, delicada e... atraente. — Disse não né, digitou. Nem acredito que ela me desbloqueou só para isso.

— Você fala como se ela estivesse morrido! — Amabel grita, costurando algo que com certeza foi feito pelo Sid de Toy Story. Estamos todas na recepção do luxuoso hotel que a T4F reservou para nós.

— Bem que podia. — Sam murmura fazendo um biquinho como uma criança birrenta que não ganhou sorvete, o que me leva a dar um cotovelada em seu braço tatuado. — Olha só essa! "Triz, você gosta de mostarda ou prefere 'Keeutechupe'?" — Ela começa a gargalhar junto de Am que cai no chão de tanto rir. Geralmente também cairia no riso com esse bilhete idiota, mas minha mente está em outro lugar.

Na minha mão esquerda, sendo observadas como a última batata frita sem cheddar e bacon do combo de Sam, tem um bilhete que veio junto da rosa. Tem um "Beatriz Muller" na parte externa, escrito com a sua letra. E na parte de dentro um número de telefone, a metade de baixo da fita de fotos que tiramos na formatura e seu perfume no papel. Que perfume bom. Quero muito ligar, tipo MUITO MESMO, mas...

— Será que eu devo? — Pergunto levantando a cabeça, finalmente vendo a cena. Am e Lau estão conversando, enquanto Yas faz uma trança na namorada. Ela é realmente boa nisso, lembro quando fazia em mim no fundamental.

— Não? — Sam responde e toma um gole na cerveja enquanto rabisca um caderno, provavelmente compondo alguma música. Ela é muito foda nisso, como pode compor uma música sobre como EU me sinto? Nós NUNCA estaríamos em turnê sem ela. — Já esqueceu que ela é uma pau no cu?

— Ela pode ter mudado! As pessoas mudam, Samantha. — Eu que o diga. — Já se passaram 3 anos, é mais do que normal ela ter melhorado.

— 3 anos e você não superou... — Ela levanta os olhos, finalmente nos encaramos. — Triste.— Não discuto mais, apenas lhe mando um honesto dedo do meio. Um sorrisinho debochado estampa sua cara e ela conclui. — Faz o que quiser princesa, só não vem me dar um soco depois.

— Nossa, você é hilária. — Me levanto e vou até minha minha suíte.

Em qualquer outro dia, a essas horas estaria em um barzinho inglês qualquer, gritando o refrão de "All I Wanted" ou tomando a minha quinta cerveja, e eu nem gosto de cerveja. Mas estou aqui, deitava encarando a porra daquela rosa, que a essa altura já me machucou, abraçando aquela blusa laranja idiota.

Respiro fundo e pego meu celular na cômoda ao lado da cama king. Sinto meu estômago começar a revirar, o que não é surpresa. Isso acontece até mesmo quando penso nela, ou seja, o tempo inteiro. Começo a digitar, 44... 44, o DDI da Inglaterra. Exitei por alguns segundos. Não que houvesse alguma dúvida de que era ela, mas foi como se meu anjo da guarda decidisse trabalhar dizendo: "Ela te abandonou para morar na Inglaterra, lembra?" (não me pergunte o porquê, mas meu anjo da guarda tem a voz da Sam em minha mente). Ignoro esse pensamento (tô cagando pra o que você acha, Samantha da Guarda), ele é substituído por um ótimo contra-argumento: Ela não me daria o número se não quisesse me ver. Então os bons e velhos segundos de coragem tomam conta de mim, termino de salvar seu contato e abro a conversa.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora