Plena sexta, estou de boa na minha piscina, molhando os pés na parte rasa e tomando uma caipirinha de caju. Tem coisa melhor? A resposta é não. Até o "ding-dong" da minha campainha acabar com a vibe. Que estranho, não costumo receber visitas. Será que eu encomendei algo e não me lembro? Acho que eu tinha pedido um par de... Bárbara? Não, não um par de Bárbara. Bárbara está aqui, agora, na minha porta. Vejo-a abrir a boca para dizer algo mas desiste logo em seguida, cora, lambe os lábios e me encara. Fico confusa com sua reação e me encaro também.
EU TÔ DE BIQUÍNI PORRA. Coro assim como ela e fecho a porta de uma única vez. Procuro por algo para vestir, na sala mesmo, e encontro uma camisetona. Volto a porta, tentando agir naturalmente. Silêncio. Por que todas as vezes que conversamos ficamos em silêncio?
— Eu... tava na piscina. — Murmuro ainda com as bochechas vermelhas, merda de descendência alemã.
— Legal... eu acho. — Ela responde confusa.
— Por isso eu tava.... — Tento explicar.
— Ah sim, eu imaginei. — Ela me interrompeu.
— Entra. — Falo após mais um longo silêncio. Fui até a sala, parando de frente para minha cozinha americana. Bárbara se manteve atrás de mim. Tive a impressão de que ela estava se esforçando para não encostar em nada. Acho bom mesmo, o que eu menos preciso é dela quebrando alguma coisa. — Quer comer algo?
— Não, obrigada. — Ela responde após pensar um pouco.
— Certo, pode se sentar ali na sala. — Aponto para meu sofá de couro legítimo. Ela vai até lá e se senta bem na pontinha.
Eu a levaria para meu quarto mas seria estranho. Ok, já é estranho. Geralmente eu faço isso com minhas amigas mas... não somos amigas. Nem sei o que somos, na verdade. Poderia dizer que ela é minha inimiga ou algo assim mas estaria mentindo. Por mais que eu me esforce, não consigo odiá-la. Tem algo... sei lá, diferente nela.
Me sentei na outra ponta do sofá e ofereci de ligar minha TV Sansung de 110 polegadas com tela Micro LED, mas ela recusou. Essa menina recusa tudo também, vou parar de tentar ser educada.
Ensaiamos as falas por cerca de 2 horas e preciso admitir, ela é uma ótima professora. Me ensinou técnicas para decorar as falas com mais facilidade e decorei mais nesse tempo do que na última semana toda. Depois que terminamos perguntei novamente se ela queria comer. Dessa vez ela aceitou (finalmente), só tem um problema (Funfact #11: eu não faço IDEIA de como se cozinha, nem um pão na chapa. Não é minha culpa se as poucas vezes que eu tentei saiu uma merda).
— Eu... não faço ideia de como se cozinha. — Digo olhando para ela com um olhar derrotado.
— Eu posso te ajudar, sou ótima na cozinha. —Ela resmunga após uma pausa e um longo suspiro, passando por mim.
Espera, ela me ajudando? Por livre e espontânea vontade? Sem ganhar nada em troca? No mínimo estranho. Agora, vou negar? Não, né. Tô com fome mesmo. Chegamos perto do fogão elétrico e ficamos nos encarando, em silêncio mais uma vez. Odeio esse silêncio.
— E aí, não vai cozinhar? — Ela pergunta cruzando os braços.
— Eu já te disse que não sei. — Tá surda, porra?
— Bom, falei que ia te ajudar, não fazer por você. — Urgh, devia ter negado essa "ajuda".
Que tipo de ajuda é essa? Esperava algo além de um olhar entediado. Talvez seja apenas falta de costume, sempre que eu pedia para minha mãe me ajudar no dever de casa, ela acabava fazendo por mim. Acho que não tinha tempo para a parte da ajuda em si.
— Vai querer o que? — Dessa vez quem suspira sou eu.
— Um misto quente serve. — Começo a pegar as coisas na geladeira.
— Só tem picanha fatiada e queijo brie, pode ser? — Dou piscadelas, torcendo para ela não gostar de queijo brie.
— Pode sim. — Beatriz sua burra, todos gostam de queijo brie. Ponho a frigideira no fogo e em seguida o pão. — Já começou errado. — Vejo-a se aproximar de mim e falar em voz baixa, encarando meus olhos naturalmente arregalados. — O fogo precisa estar baixo, se não queima.
— Hum... e como eu abaixo o fogo? — Puff, viro um pimentão. Parece até um truque de mágica. Um truque de mágica muito idiota.
— Assim. — Ela apoia a mão no trocinho de ligar o fogo e vira todo ele para baixo. Mesmo sem olhá-la, posso sentir seus olhos no meu.
Encaro sua mão no fogão, enquanto penso no quanto estou burra hoje. Acho que o problema não é o "hoje", o problema é ela. Ela me deixa burra, burra e idiota. A mão que estava ao lado do seu corpo vai até meu queixo e guia meu olhar até o seu. Fico ainda mais vermelha, se é que isso é possível.
— Os seus olhos são tão... — Ela começa a dizer, mas se interrompe logo em seguida. Silêncio de novo. Mas dessa vez é... diferente. É um silêncio bom, um silêncio confortável. Não tem aquela obrigação de dizer algo, de acabar com ele. De acabar com isso. Isso o que? Do que tá falando, Beatriz? Acho que o silêncio nos persegue, afinal. — Tá sentindo esse cheiro?
— MERDA, MEU MISTO! — Digo movendo a panela (que quase pegava fogo) até a pia.
Pego o misto na mão e o coitado parece um carvão. Faço a mesma expressão de quando derramei meu sorvete de 4 bolas no chão em um calor de 40°C e Babi ri de mim. Rio da risada dela. Passamos alguns momentos encarando aquele pedaço de pedra. Até tento dar uma mordida, mas quase vomito e o jogo na parede, o que arranca mais gargalhadas de Babi.
♡
— Acho que já vou, você dá azar na cozinha! — Ela brinca se levantando da mesa. Nossa, já são 19h, mal vi o tempo passar.
—EU? Você que é uma péssima professora! — Retribuo rindo mais um pouco ao seu lado.
Caso esteja curioso, eu consegui fazer um misto quente... depois de 3 tentativas. Mas só porque eu queria ele perfeito, os outros dois anteriores já eram comestíveis. Me levanto também e a levo até a porta.
— Semana que vem é na sua casa, ein! — Griro conforme ela se afasta. Sua resposta é um lindo sorriso de lado, sem mostrar os dentes. Volto para casa e só consigo pensar que hoje foi um dia mais legal que eu pensei. Acho que Bárbara Álvares não é tão ruim assim.
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Salada Caesar
Novela JuvenilA salada Caesar é uma das saladas mais populares em todo o mundo e servida em uma variedade de restaurantes, desde pequenos cafés até restaurantes de luxo. Ainda sim, aposto que não consegue citar uma pessoa que a tenha como prato favorito. Bem, eu...