Capítulo 3 ‐ A taquara e a paulista

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Nada vai mudar. Foi o que eu pensei ao sair da sala do diretor. Pensei também em correr até o ginásio e treinar ao menos uns 15 minutinhos. Depois pensei na humilhação que seria sair correndo pela escola como uma desesperada. Então decidi ir para minha graciosa casa, tomar um belo banho de espuma.

Mas como um balde de água fria, lembrei me que Julia e Yasmin estão me esperando para irmos a festa de uns universitários. Sei lá, para falar a verdade não estou nem um pouco afim, mas vou. Após esse grande raciocínio, percebo que Bárbara está me encarando e só assim me recordo de que ela existe. Encaro-a de volta, com uma expressão neutra. Percebo as marcas de espinhas espremidas em seu rosto. Se ela não me odiasse, indicaria uma ótima clínica estética cujo minha mãe frequenta. Ela nunca fez limpeza de pele, mas creio que seja ótima.

- Perdeu alguma coisa? - Ela interrompe meus pensamentos.

- Eu que te pergunto, não para de me encarar. - Respondo revirando os olhos.

- É que você é bonitinha. Mesmo sendo quase impossível ter uma conversa civilizada com você. - Ela explica, dando de ombros.

- Eu sei que sou. E não aja como se eu fosse o único problema aqui. - Continuo cruzando meus braços.

- Pode não ser o único, mas com certeza é o mais difícil de resolver. - Ela diz, encarando meus olhos com um sorrisinho fajuto.

- Mas que perca de tempo! Eu vou indo pois tenho mais o que fazer a encarar essa... - Pensei em falar algo sobre suas espinhas mas mudei de ideia. Se não fizesse tratamento provavelmente teria tantas quanto ela (não conta para ninguém que eu faço tratamento). - essa sua cara!

- O que tem minha cara? - Ela desencosta da parede e se aproxima de mim, mais uma vez. Mas que merda, por que continuo corando hein? Que chatice! Será que tem tratamento para isso? Eu pago. - Tá surda, porra? Me responde.

- Não tem nada na sua cara. Eu só quis dizer que não suporto você mesmo! - Sorrio como ela fazia alguns segundos atrás. - Beijinhos, já vou indo.

Me afastei com um sorriso satisfeito, ouvindo-a resmungar algo que não me importei o suficiente para prestar atenção.

Andei até o estacionamento, entrei em meu precioso carrinho e dirigi em direção a casa de
Yasmin. Caso se pergunte se eu posso dirigir estando no ensino médio, fiz 18 anos em Maio. Dia 26 de Maio. E caso você se interesse, meu signo é gêmeos e meu ascendente e lua são em leão (não acredito nessas coisas mas minha irmã é a "doida dos signos").

Estacionei a preciosa Ferrari F8 Tributo na frente da casa e entrei. Lá encontrei Julia terminando um penteado e Yasmin fazendo escova.

- Aff Muller, já era hora! Por que está vestida assim? Trate de se trocar! - A voz de voz de taquara rachada paulista (Julia caso não tenha sacado) me perguntou de forma tão estridente que meus ouvidos chegaram a doer.

- Mas que horas essa festa começa hein? - Pergunto apoiando minha bolsa branca da Chanel em seu aparador.

- Ás 18h. - Respondeu a paulista com voz normal (Yasmin óbvio). Olho meu Smartwatch, são 16h. 16h06 para ser mais exata.

- E por que caralhos vocês já tão se arrumando? Ainda faltam duas horas e vocês estão praticamente prontas.

- Bem, é porque - a Taquara começou - marcamos com a maquiadora as 17h e fomos na zara comprar uma bolsinha nova.

- Mas no caminho paramos em uma Gucci - a Paulista interropeu - e encontramos uma bolsinha ma-ra-vi-lho-sa! Acredita que foi só R$7000 amiga?

- Então compramos, claro eu fomos almoçar no La Tambouille. - Taquara volta a contar.

- Pedimos só um Ossobuco... - Paulista continua.

- Eu pedi um Filé Mignon - Taquara a corrige.

- Isso ela pediu um Filé Mignon e eu um Ossobuco. - Paulista pensa em voz alta enquanto mexe as mãos, organizando pensamentos. - Comemos rapidinho e já voltamos, porquê a maquiadora veio as 15h30!

- Um absurdo não acha? Onde já se viu um funcionário pago, e bem pago inclusive, errar o horário assim? - Taquara revira os olhos.

- Sim sim, absurdo! Mas viemos, nos maquiamos e fomos na escola procurar por você e... - Paulista é interrompida.

- A propósito Muller, quando estávamos na escola, vimos algo que você vai querer saber!
- A Taquara diz, se sentando no sofá do closet da Paulista, com pernas cruzadas e seu penteado pela metade.

- Me conta então. - Digo enquanto procuro nos armários da Paulista por uma roupa para a festa. Sinceramente, perdi meu interesse em Ossobuco.

- Sabe a Nicole do 3° D? - Minha atenção foi pega novamente. - Você acredita que a vimos entrando no banheiro masculino!

Ela diz e começa a rir com sua risada, como se fosse a melhor piada do mundo. Nem uma piada é! Na verdade, isso me ferveu os nervos!
Me viro para ela de forma bruta, interrompendo sua risada estridente e fina.

- O nome dele é João.

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora