Capítulo 1 - Oxigenada

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— Meninas, meu batom tá borrado? — Perguntou Julia com aquele sotaque paulista insuportável. Talvez eu também tenha um pouco, mas me controlo para não falar dessa forma.

— Tá não amiga, tá ótimo. — Respondeu Yasmin, outra paulistana com sotaque. Apesar do seu ser um tanto quanto mais sutil.

— É, dá para o gasto. — Digo e dou de ombros. Não me importo com o batom de Julia. Nem com nenhuma delas, na verdade. — Vamos almoçar, tenho treino de vôlei as 15h.

Saio do banheiro e vou em direção ao refeitório. Chegando lá, caminho até o restaurante e peço o meu prato de sempre, uma salada Caesar com frango grelhado extra. É um ótimo pré treino. Peço para o garçon entregar na mesa de sempre e pago no meu cartão de crédito black, como faço todo santo dia. Estava voltando para encontrar com as meninas até que me deparo com uma pequena multidão ao redor de minha mesa.

— Sai daí, sua puta! — Julia grita, atraindo a atenção de alguns de nossos colegas. — Essa mesa é nossa!

— Desculpe mimada, não vejo seu nome aqui. — Ao ouvir sua grave voz, já a reconheci.

Bárbara Álvares Silva, seu nome é tão simples quanto sua personalidade. Sinceramente, não me importo muito com ela, é uma garota bolsista comum, cuja única preocupação é notas, comportamento, faculdade e blá-blá-blá. Sabe, o de sempre. Acho que uma comparação justa é uma nota de 2 reais. Insignificante mas está lá. Apesar disso, essa garota insiste em ser uma pedra em meu sapato. Parece ter algo, especificamente, contra mim! Juro que nunca nem troquei meia palavra com esta doida e ela começou a me odiar, atacar e especialmente perturbar.

— Qual é, Babi? Deixa elas sentarem. — Um garoto ruivo tenta acalmar a nota de 2 reais.

— Vini, elas precisam aprender que nem tudo é do jeito que elas querem! Se os papais delas não ensinaram isso, então EU ENSINO!

Aquela louca grita, atraindo ainda mais olhares do refeitório. Como podem ver, Julia e Yasmin pagam essa punição junto à mim. Pelo menos ela fala igual gente normal, não tem sotaque paulista.

— Algum problema aqui? — Digo me intrometendo e ficando ao lado de Ju e Yas.

Ao todo eram 4 em minha mesinha. Bárbara (a louca que eu citei), Vini (o ruivo), João e um garoto pálido que não ligo o suficiente para saber o nome. O garoto sem nome se levanta.

— Oi, Muller! — Ele gagueja. — Problema algum. Pode se sentar aqui no meu lugar! Se você quiser eu até passo um paninho aqui na mesa! — Ele se levanta e indica o lugar para eu me sentar. O envio um olhar de desprezo. Posso ver seu suor descendo pelo seu rosto branquelo.

— Eu aceito um paninho~ — O silêncio constrangedor é rapidamente interrompido por Julia que se senta no lugar do garoto.

Folgada, esse lugar era para mim.

— Já falei, não vão sentar aqui! — Ouço a doida gritar, seguido por um forte estrondo.

Para falar a verdade, tive que conter a risada quando Bárbara puxou a cadeira com tudo. Ver Julia sentada de bunda no chão com uma expressão quase de choro exigiu muito de minha atuação.

— Olha... — Posiciono meu corpo por cima da mesa, apoiando em meus braços chegando bem perto do rosto de Bárbara. — Sento nessa mesa desde que entrei nessa escola. Não vai ser uma surtada qualquer que vai mudar isso.

Ela se aproxima ainda mais, tanto que posso sentir sua respiração em meu rosto. Tanto que posso tambemnotar que seus olhos, por mais que aparentem, não são completamente pretos. Olhando bem de pertinho, posso ver que são castanhos bem escuros. Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso sugestivo.

— Para tudo tem uma primeira vez, princesa. — PRINCESA?

Talvez eu tenha corado um pouco. Mas só talvez! E caso eu tenha corado foi por ter sido pega de surpresa. Geralmente quando eu peço, as pessoas fazem as coisas. A essa altura, o garoto branquelo ajudou Júlia a se levantar (contra vontade dela) e minha salada Caesar chegou.

Dou uma olhadinha em meu almoço, pego o prato com salada e volto o olhar para Bárbara. Dou um leve sorriso de lado, sem mostrar os dentes, como o seu e viro de costas.

— Vamos meninas, deixem essa mesa para os porcos! — Rimos enquanto caminhamos e dou uma pequena mordida em um delicioso pedaço de frango.

— QUEM VOCÊ TA CHAMANDO DE PORCA, SUA LOIRA OXIGENADA!?

Paro abruptamente e, a alguns passos de distância, me direciono a ela novamente, com uma expressão de puro choque no rosto.

— OXIGENADA?

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora