Capítulo 20 - Julieta e Julieta

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Finalmente, o dia da peça chegou! Mas não me desejem boa sorte, me desejem um grande merda. Um dia antes, eu e Babi passamos a tarde em sua casa ensaiando as falas (dessa vez ensaiamos mesmo). Depois de uma hora mais ou menos decidimos dar uma pausa para descansar um pouco.

— Quer um suco de laranja? — Ela pergunta abrindo a geladeira.

— Tá coado? — Pergunto no impulso.

— Tá? — Não posso ver seu rosto, mas seu tom é bem confuso.

— Então quero sim, obrigada amor! — Grito sorrindo para uma porta de geladeira na expectativa de ver seu rosto.

— Aqui, toma vida. — Ela me entrega o copo e se senta ao meu lado mais uma vez.

Tinha alguns gominhos, mas não falei nada. Ficamos sentadas, tomando suquinho.

— Você segura o copo com o mindinho levantado! Que fof...

— Babi, eu sou lésbica. — Por que eu disse isso?

Digo, eu nem tenho certeza ainda. Tudo bem, cerca de 90% de certeza mas ainda não 100%. Desde aquela conversa com Sam, não consegui tirar isso da cabeça. Eu sou lésbica, pelo menos 90% de mim é. Mas ainda tem aqueles 10%. Uma vez no prézinho eu tive crush em um garoto. Fazia cartinhas e tudo mais. Pensei que isso fosse um "toma essa cérebro, isso nos faz não lésbica". Mas adivinha? Não faz. Aparentemente crush's de criança não contam. Quem diria que crianças não tem maturidade para se apaixonar. Não, personagens fictícios ou famosos não contam também. Nada disso entra nesses 10% mas... e se? Tipo, e se eu gostar de um cara? Isso me faz não-lésbica, né?

Ao mesmo tempo, é tão... sei lá. Certo, eu acho. Meu cérebro adora dizer "eu sou lésbica" para mim mesma. Para ele faz sentido. Para mim faz sentido. É como se algo me dissesse "você sabe, não sabe Bea?". E em partes, eu sei. Eu sei que faria sentido eu ser lésbica, mas como tenho certeza que sou? Bom, agora para Babi eu sou. Esse cérebro idiota.

— Nossa, o Vini acertou mesmo. — É tudo o que Babi responde.

— Que? — Pergunto saindo de meus pensamentos.

— Que bom amor, fico feliz que tenha se descoberto. — Ela pega o meu e o seu copo vazio e leva a pia, para lavar.

— Tá surpresa? — Vou atrás dela.

— Na verdade, não. — Ela abre a torneira e pega a esponja.

— Ué, por que? — Como assim não? Até eu tô surpresa.

— Sei lá, gaydar.— É faz sentido, eu acho. Terminamos as falas e fui para casa tentar dormir, falhando miseravelmente.

Tô no camarim, junto de todo mundo da peça. Tá o maior caos. Os substitutos brigando entre si pra saber quem vai substituir eu e Babi caso aconteça algo conosco (chega até a ser meio maléfico), o pessoal das luzes surtando porquê a luz fica muito fraca ou muito forte e o professor tentando acalmar a todos.

Babi está sendo maquiada por uma novata do primeiro ano, já eu a dispensei, consigo me maquear sozinha. Eu tô nervosa, mas sei que vou arrasar. Não posso dizer o mesmo de Logan, o coitado já vomitou 3 vezes. Por falar em vômito mereço um parabéns, não vomitei UMA vez até agora. E olha que como eu já disse, tenho um estômago frágil. Sempre ando com Vonal por aí, só por precaução.

Enfim, chega de falar de vômito, vamos voltar ao assunto da peça. Para um contexto rápido, ela funciona basicamente como Romeu e Julieta comum. Nós somos de famílias inimigas e nos odiamos (meio familiar, preciso dizer).

— Um baile de máscaras da familia Montecchio!? — Eu, ou melhor, Julieta diz.

Agora tá valendo. As cortinas abrem junto de minha fala, e a peçaoficialmente começa. Estão eu, meu "pai" (um moleque do 3° ano) e meu "irmão" (Vini).

Salada CaesarOnde histórias criam vida. Descubra agora