Quando Hilda acordou, não havia ninguém no quarto. Apenas a luz fraca do abajur que o iluminava. Por causa do calmante, Hilda dormiu por algumas horas.
Ela se levantou da cama, sentiu um peso no corpo como se estivesse pesando um trezentos quilos. Desceu as escadas e foi em direção a cozinha.
— Paula?
— Oi, dona Hilda!
— Cadê o Orlando e a Lígia?
— Estão lá fora colocando as malas no carro. Haroldo está ajudando eles.
— Vou até lá, obrigada Paula.
Quando Hilda ameaçou sair da cozinha, colocou a mão na testa e ameaçou cair.
A empregada se aproximou e ajudou a patroa a se sentar na cadeira.
— Está se sentindo mal, dona Hilda?
— Estou um pouco tonta.
— Fique aqui, vou chamar o doutor Orlando.
Não demorou muito para que Orlando entrasse correndo na cozinha. Ele se agachou na frente de Hilda e colocou as mãos nos joelhos dela.
— O que houve, meu amor? Fala pra mim o que você está sentindo. — ele estava visivelmente preocupado.
— Só um mal-estar, amor. Senti uma breve tontura, só isso.
— Tem certeza?
— Sim, meu bem. Já passou.
Orlando se levantou e deu um beijo na testa de Hilda.
— Meu amor, já colocamos tudo no carro. Melhor a gente ir logo, antes que a Amanda volte. Toda essa situação está te fazendo muito mal, você tem que descansar.
— Vamos sim, vou só dar uma olhada no meu quarto pra ver se a Lígia pegou tudo, está bem?
— Eu vou com você!
Hilda passou os dois braços pelo pescoço de Orlando, o puxou para si e o olhou com carinho.
— Não precisa, amor. Vou aproveitar pra me despedir dessa casa que morei durante tantos anos.
— Tá bom, vai lá. Só não demora, meu bem.
Ela caminhou até seu quarto, ao entrar sentiu um misto de sentimentos e muitas recordações brotaram em sua mente. Percebeu que a maioria eram ruins. As únicas lembranças boas eram dos primeiros meses de casamento, quando Tinoco a tratava como uma rainha. Sempre chegava com flores, lingeries novas e muitos presentes. Eles se amavam e se divertiam juntos.
Logo as cenas ruins preencheram sua mente: as inúmeras discussões, agressões físicas e verbais, a frieza de Tinoco, a forma como ele a fazia se sentir pequena, das vezes que foi obrigada a se deitar com ele, aquele maldito dia do assassinato dos pais de Amanda.
As lágrimas escorriam pelo rosto de Hilda sem que ela percebesse, seu peito doía. Perdeu tantos anos da sua vida ao lado daquele monstro, que até depois de morto a inferniza. Hilda se sentiu cansada.
Ela secou as lágrimas, começou a olhar suas gavetas para ver se Lígia pegou tudo e deu um leve sorriso. Sua filha realmente a conhecia bem e pegou tudo certinho.
Hilda caminhou lentamente até a porta, deu uma última olhada no quarto onde passou os piores anos de sua vida, apagou a luz e saiu.
Chegando na sala se deparou com Lígia chorando se despedindo de Paula e Haroldo.
Hilda também se despediu deles, agradeceu por todo carinho e apoio de sempre. Prometeu que os chamariam para trabalhar com ela assim que comprasse a casa nova.
***
Clara se assustou quando viu os três chegando com tantas malas, e Hilda e Lígia com os rostos vermelhos de tanto chorar.
— Gente, o que aconteceu?
Orlando se aproximou da filha e a abraçou.
— Ô minha filha, Hilda e Lígia vão morar com a gente. A situação na casa delas está insustentável. — ele passou a mão pelo cabelo cacheado da filha — Vamos te contar tudo o que aconteceu, mas primeiro ajude Lígia a se acomodar no seu quarto, enquanto levo a Hilda para o meu, está bem?
— Claro, pai. — Clara foi na direção das duas e as abraçou ao mesmo tempo. — Não se preocupem, vai ficar tudo bem.
Orlando ficou emocionado ao ver aquela cena e se sentiu grato por seus filhos terem aceitado seu relacionamento com Hilda.
— Vem Lígia, vou te mostrar nosso quarto.
Orlando levou as malas de Lígia e em seguida, as de Hilda. Depois de colocar cada mala em seu devido cômodo, conduziu Hilda até o quarto que agora seria dos dois.
Hilda estava muito quieta e pensativa. Orlando a compreendia, afinal, o golpe dessa vez foi pesado demais.
Ele sentou na cama, encostou na cabeceira e abriu as pernas para que Hilda deitasse em seu peito. Eles ficaram por um momento em silêncio, até que a Hilda com a voz embargada conseguiu falar.
— Estou com medo, Orlando.
Ele a abraçou mais forte.
— Não fique assim, minha garota. Eu vou te ajudar a sair dessa.
— Como? Dessa vez eu vou ser presa, Orlando. — ela voltou a chorar.
— Não vai, não. Eu tenho um amigo que é advogado criminalista. Amanhã vamos conversar com ele, está bem?
Hilda fez que sim com a cabeça em meio às lágrimas e eles ficaram ali compartilhando do amor e da companhia um do outro.
Mais tarde, Lucas chegou do restaurante da Liana trazendo comida para todos. Clara havia telefonado para o irmão e pedido que ele trouxesse.
Todos se reuniram à mesa, Hilda e Lígia não queriam comer, mas Orlando insistiu. Devido ao que aconteceu, elas já estavam horas sem se alimentar.
Depois que todos comeram, conversaram com muita dificuldade para que todos ficassem a par de toda a situação.
Lucas e Clara deram total apoio, disseram que ajudariam em tudo que fosse possível. E o mais importante, eles acreditavam na inocência de Hilda.
***
Amanda estava furiosa e transtornada após a briga com Hilda. Ela decidiu ir para o curtume, onde se trancou no escritório. Com o coração acelerado, Amanda segurava a carta de Tinoco, lendo e relendo aquelas palavras que revelavam uma verdade terrível sobre sua história.
Ela também segurava a arma que matou seus pais biológicos. A arma era a representação física do que havia de mais sombrio em sua vida.
Amanda se lembrava das palavras de Hilda durante a briga, implorando por confiança e apoio, as lágrimas que Amanda se recusava a aceitar como verdadeiras. Tudo o que ela conseguia enxergar era a imagem da mulher que considerava sua mãe, agora revelada como uma assassina e mentirosa.
Respirou fundo, tentando controlar a dor que a consumia. Ela não sabia o que fazer com toda aquela informação. A carta de Tinoco era uma prova clara, mas ainda assim, lá no fundo ela se recusava a aceitar que aquilo fosse real. Ela queria desesperadamente acreditar que Hilda era inocente, mas as evidências eram esmagadoras.
Amanda se sentia perdida, traída e enganada por aqueles em quem confiava. O sentimento de vingança e justiça rondava sua mente, mas também havia o peso da tristeza e da dor por descobrir a verdade sobre suas origens de forma tão brutal.
Ela sabia que precisava agir, mas não sabia por onde começar. A única certeza que tinha era que não descansaria até ver Hilda pagar pelo que fez, mesmo que isso significasse ver a própria "mãe" presa. Tinoco já não era mais um problema, pois estava morto.
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Coragem - Hilda & Orlando
FanfictionEm CORAGEM, Hilda e Orlando protagonizam uma história de amor que desafiará os obstáculos mais sombrios. Hilda, aprisionada num relacionamento abusivo com Tinoco, encontra em Orlando a esperança de um recomeço. Orlando, por sua vez, lutando contra a...