Capítulo 26 - Uma luz

27 6 3
                                    

Hilda foi chamada novamente à delegacia dois dias depois, pois havia surgido uma nova testemunha. Ao chegar lá, Otávio contou a eles que havia novidades.

— Hilda, Orlando, tenho boas notícias para vocês. Surgiu uma testemunha crucial que pode virar o jogo a seu favor — anunciou Otávio com entusiasmo.

Ao entrarem na sala do delegado, foram surpreendidos com a presença de Haroldo, o motorista da família. Ele parecia tenso, mas determinado a contar a verdade.

— Haroldo? O que você está fazendo aqui? — perguntou Hilda, emocionada ao vê-lo e ao mesmo sem entender porque ele seria uma testemunha.

— Não posso deixar que continue essa injustiça contra a senhora, dona Hilda.

O delegado permitiu que Haroldo falasse, e ele começou a relatar o que testemunhou naquela noite sinistra.

— Eu levei o seu Tinoco e dona Hilda até o local desejado. Era um galpão abandonado. A ordem foi para que eu esperasse no carro e fiz como o seu Tinoco mandou, mas fiquei curioso e fui atrás deles. Dona Hilda estava muito nervosa e fiquei preocupado que ele a fosse machucar, como já vi fazendo várias vezes durante os anos que foram casados. Era sempre em casa, como estavam em um galpão abandonado, pensei em ser algo mais sério. Foi então que vi quando ele atirou nos pais de Amanda e depois obrigou a dona Hilda a segurar na arma e a fez disparar na cabeça dos dois. Fiquei em choque e voltei para o carro. Nunca contei isso a ninguém com medo do que ele pudesse fazer comigo se soubesse que eu vi tudo. Eu tenho três filhas pequenas. — confessou Haroldo, com lágrimas nos olhos.

Hilda não conseguiu conter suas emoções ao ouvir aquelas palavras. Ela correu em direção a Haroldo, abraçando-o com força.

— Obrigada, Haroldo. Você salvou a minha vida — disse Hilda, com gratidão transbordando em sua voz.

Haroldo explicou que só soube do que realmente aconteceu porque ouviu Amanda ao telefone com seu advogado, contando sobre a acusação injusta contra Hilda.

O delegado, ao ouvir o depoimento de Haroldo, percebeu a gravidade da situação e a importância desse testemunho.

— Este é um momento crucial para o caso. Precisamos investigar mais a fundo e utilizar essas novas informações para reverter essa acusação injusta contra a senhora Hilda — afirmou o delegado, determinado.

— Delegado, tem mais uma coisa. Naquele dia o seu Tinoco pediu que alguns capangas se livrassem dos corpos e um deles está disposto a depor também em favor da dona Hilda, ela sempre foi uma boa pessoa e sempre nos tratou bem. Não é justo pagar por um crime que não cometeu.

— Ótimo, traga-o aqui o mais rápido possível.

— Ele está lá no carro, vou chamá-lo.

Hilda sentiu um misto de alívio e esperança. Finalmente, a verdade começava a vir à tona, e ela estava confiante de que a justiça seria feita.

Com a chegada do capanga que estava disposto a depor a favor de Hilda, a sala da delegacia ficou ainda mais carregada de tensão e expectativa. O homem, cujo nome era João, entrou na sala com um semblante sério, porém decidido.

— Dona Hilda não merece pagar por um crime que não cometeu. — disse João, com sinceridade em suas palavras.

O delegado, impressionado com a quantidade de testemunhas a favor de Hilda, deu início ao depoimento de João.

— Por favor, conte-nos o que viu naquela noite.

João respirou fundo antes de começar seu relato.

— Tinoco nos chamou para se livrar dos corpos dos pais de Amanda naquela noite. Ele estava nervoso e agitado. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, até que vi quando ele obrigou a dona Hilda a segurar na arma e a fez atirar nos pais de Amanda. Fiquei chocado, nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. Mas eu sei que a dona Hilda não teve escolha naquela situação. Tinoco sempre foi uma pessoa violenta e manipuladora, eu mesmo já fui vítima de suas ameaças.

Hilda ouvia atentamente, sentindo um misto de dor e alívio ao ouvir a confirmação de sua inocência por parte de João.

— Muito obrigada, João. Suas palavras são de extrema importância para mim — disse Hilda, com os olhos marejados.

— João, você sabe que será preso por ocultação de cadáver?!

— Sei, sim senhor.

Otávio cochichou com Hilda e Orlando, e logo em seguida pediu a palavra.
— Eu vou ser advogado dele nesse caso.

— Como o doutor preferir. — disse o delegado.

João olhou na direção deles e agradeceu.

O delegado fez algumas anotações e então se dirigiu a todos na sala.

— Com esses depoimentos e evidências, temos uma nova perspectiva sobre o caso. Já podemos afirmar que as acusações contra a senhora Hilda estão sendo reconsideradas.

Orlando abraçou Hilda, expressando seu apoio e felicidade diante das novidades.

Hilda sorriu, sentindo um peso sendo tirado de seus ombros. Finalmente, a verdade estava aparecendo.

***

Amanda estava em sua sala quando recebeu a visita de seu advogado, que trazia notícias sobre o caso de sua mãe adotiva, Hilda. Ela ouvia atentamente, seu rosto revelando uma mistura de emoções conflitantes. Quando o advogado mencionou as testemunhas a favor de Hilda e a possibilidade de sua inocência, Amanda explodiu de raiva.

— Isso não pode terminar assim! Eu sei que ela é culpada! Ela matou meus pais e agora está tentando manipular todos ao seu redor para escapar impune!

O advogado tentava acalmar Amanda, explicando os desdobramentos do caso e a seriedade das novas evidências. Mas, por mais que ele tentasse, Amanda estava cega pela dor e pela convicção de que Hilda era responsável pela morte de seus pais.

Depois que o advogado saiu, deixando Amanda sozinha em sua sala, um silêncio pesado pairou sobre ela. Ela se sentou em sua poltrona, perdida em seus pensamentos tumultuados. Por um momento, sua mente vagou para lembranças felizes ao lado de seus pais, e ela sentiu um aperto no peito.

"Será que ela realmente é inocente? Mas e se for verdade? E se eu estiver errada?"

Amanda estava dividida entre o desejo de justiça e a possibilidade de ter acusado erroneamente alguém que não merecia. Ela sentia falta de sua mãe, um vazio que mesmo sua raiva não conseguia preencher completamente. Pensou em procurá-la, em tentar entender a situação, mas seu orgulho ainda era uma barreira difícil de atravessar.

Alguns dias se passaram, e o desfecho do caso finalmente chegou. Hilda foi inocentada de todas as acusações, e a notícia se espalhou rapidamente. Ela estava livre, sua honra restaurada diante da comunidade.

Para celebrar essa vitória e também o alívio de todo o estresse e angústia passados, Hilda, Orlando, Otávio, Ligia, Clara e Lucas saíram para comemorar no restaurante da Liana. O clima era de festa e gratidão, todos brindando à justiça finalmente feita.

Amanda estava lá também, embora mantivesse certa distância. Ela observava de longe, com um misto de sentimentos. Um toque de inveja pairava sobre sua admiração, pois secretamente também desejava estar ali com eles, compartilhando da alegria e da união.

Em um momento, Amanda se levantou e saiu do restaurante. Enquanto Hilda olhava para trás, jurando ter visto sua filha, ficou pensativa. Estava radiante por sua vitória, mas ao mesmo tempo, desejava profundamente ter Amanda ali, junto a ela, celebrando essa nova fase de suas vidas.

Coragem - Hilda & OrlandoOnde histórias criam vida. Descubra agora